Caso Gritzbach: Justiça torna réus 6 acusados de matar delator do PCC

A Justiça de São Paulo aceitou a denúncia contra os seis acusados de envolvimento no assassinato de Vinícius Gritzbach, delator do PCC (Primeiro Comando da Capital).

O que aconteceu

Os seis indiciados se tornaram réus pelo crime. Além da execução de Gritzbach, os denunciados se tornaram réus pelo assassinato do motorista de aplicativo Celso Araújo, baleado no aeroporto, e por tentativa de homicídio contra duas pessoas que acabaram feridas por estilhaços dos disparos. A decisão foi proferida pelo juiz Rodrigo Tellini de Aguirre Camargo, na segunda-feira.

Três policiais militares que estão presos estão entre os acusados. Os demais investigados, incluindo os dois mandantes do crime, estão foragidos. O Tribunal de Justiça de São Paulo aceitou o pedido do Ministério Público para converter os mandados de prisões temporárias em preventivas (sem prazo para terminar).

O Ministério Público de São Paulo denunciou à Justiça os seis acusados de participarem do assassinato de Gritzbach. A pena dos envolvidos pode chegar a 100 anos de prisão.

Foram indiciados os dois mandantes, o olheiro, os executores e o motorista do veículo. São eles: Emílio Gongorra, o Cigarreiro, e Diego Amaral, o Didi, apontados pela polícia como os mandantes do crime. Os executores são Dênis Antônio Martins, cabo da PM e Ruan Rodrigues, soldado da PM. Fernando Genauro da Silva, tenente da Polícia Militar foi apontado como o motorista do carro que ajudou os executores a fugir e Kauê Amaral, o olheiro do PCC que estava orientou os executores no dia do crime.

Indiciados e denunciados por participação direta no crime
Indiciados e denunciados por participação direta no crime Imagem: Reprodução

MPSP trata a denúncia como sendo a primeira e cita que investigação continua. Para a Promotoria, o caso não está completamente encerrado, mas está parcialmente concluído. "O motivo do crime, para nós, ficou claro, é represália e interesse econômico. Represália por parte do núcleo PCC e interesse econômico por parte do núcleo de policiais militares", afirmou o promotor Rodrigo Merli. A motivação teria sido uma possível vingança pela morte do criminoso Anselmo Becheli Santa Fausta, conhecido como Cara Preta, ocorrida em dezembro de 2021.

PMs aceitaram "promessa de recompensa para a execução e participação no crime". Ainda conforme a denúncia do MPSP, eles agiram "como verdadeiros mercenários e matadores de aluguel".

O órgão também pediu a conversão das prisões temporárias em preventivas. Os seis envolvidos foram denunciados por quatro qualificadoras agravantes: motivo torpe, meio cruel, emboscada e uso de arma de fogo de uso restrito. A Justiça ainda não se manifestou a respeito.

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MP defende que pena seja proporcional ao dano causado para a sociedade. "Considerando que nós temos quatro qualificadoras agregadas ao tipo principal, duas vítimas fatais, duas vítimas sobreviventes, a pena pode chegar aos 100 anos de reclusão", explicou a promotora do Tribunal do Júri Vania Caceres Stefanoni. "Nós estamos falando de dois homicídios consumados, dois tentados no maior aeroporto da América Latina. Isso chocou tanto a sociedade em São Paulo quanto no país, quanto trouxe reflexos internacionais".

Promotoria pediu ao governo paulista que seja oferecida recompensa por informações de todos os foragidos. Rodrigo Merli lembrou que a SSP (Secretaria da Segurança Pública) de São Paulo apenas ofereceu recompensa de R$ 50 mil por Kauê Amaral. No entendimento da Promotoria, a SSP também deveria oferecer R$ 50 mil para quem tiver detalhes que possam levar as autoridades ao paradeiro de Emílio Gongorra e mais R$ 50 mil para quem oferecer pistas que resulte na prisão de Diego Amaral, o Didi, o segundo mandante do crime.

O UOL não conseguiu contato com a defesa dos envolvidos. O espaço fica aberto para manifestações.

O crime

Emílio Gongorra, o "Cigarreiro", Diego Amaral, o "Didi", considerados os mandantes do assassinato do delator do PCC, e Kauê Amaral, olheiro da facção criminosa
Emílio Gongorra, o "Cigarreiro", Diego Amaral, o "Didi", considerados os mandantes do assassinato do delator do PCC, e Kauê Amaral, olheiro da facção criminosa Imagem: Reprodução/Polícia Civil de São Paulo

Gritzbach foi morto em uma emboscada no aeroporto internacional de São Paulo no dia 8 de novembro de 2024. Dois homens encapuzados desceram de um Volkswagen Gol Preto e abriram fogo contra o homem, enquanto outro criminoso aguardava no volante para a fuga. Gritzbach respondia por homicídio e lavagem de dinheiro e havia colaborado em uma delação premiada pouco antes do crime. No ataque ao delator, uma outra pessoa morreu e duas ficaram feridas.

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Gritzbach era corretor de imóveis. Segundo a polícia, o delator tinha uma família com poder aquisitivo satisfatório e era considerado "nerd" até os 18 anos. Após ser demitido da empresa em que trabalhava, no ano de 2018, ele conheceu o grupo de traficantes de drogas de Anselmo Bechelli Santa Fausta, o Cara Preta.

Morte de Cara Preta. O empresário teria mandado matar Cara Preta porque recebeu da vítima R$ 40 milhões para investir em criptomoedas, desviou o dinheiro e o golpe foi descoberto. Quando se viu cobrado pelo traficante, decidiu mandar matá-lo. O empresário teria contratado Noé Alves Schaum para matar Cara Preta. Gritzbach sempre negou envolvimento no crime.

Vingança por morte de Cara Preta, ligado à cúpula do PCC. A acusação de ter mandado matar Cara Preta, em 2021, foi o que motivou a primeira sentença de morte contra Gritzbach, decretada pelo PCC. O crime foi em 27 de dezembro de 2021. Além de Cara Preta, o atirador matou Antonio Corona Neto, o Sem Sangue, segurança do traficante. Conforme as investigações, Schaum foi capturado pelo PCC em janeiro de 2022, julgado pelo "tribunal do crime" e esquartejado.

Narcotraficante Emílio Carlos Gongorra Castilho, o Cigarreiro, em foto de arquivo da Polícia Civil
Narcotraficante Emílio Carlos Gongorra Castilho, o Cigarreiro, em foto de arquivo da Polícia Civil Imagem: Divulgação/Polícia Civil

Cigarreiro, um velho conhecido da polícia paulista, mandou matar Gritzbach para vingar morte de Cara Preta. Cigarreiro é um traficante com ligações com o crime organizado do Rio de Janeiro e de São Paulo, segundo a polícia.

O suposto mandante intermediava negócios entre o CV e o PCC. Entre 2008 e 2010, quando o Primeiro Comando da Capital e o Comando Vermelho mantinham relação de negócios — que virou guerra em 2017 —, Cigarreiro era o homem que o PCC mandava ao Rio para estabelecer negócios entre as facções criminosas. A investigação da época mostrou os morros aonde ele ia, e tabelas de drogas e armas negociadas entre as duas facções por intermédio dele.

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Gritzbach teria confidenciado aos amigos mais íntimos que Cigarreiro tinha ligações com o CV e que temia por sua integridade física. Em janeiro de 2022, ele sequestrou Gritzbach e o levou para um "tribunal do crime" do PCC no bairro do Tatuapé, zona leste paulistana.

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