Distante da base tucana, Doria briga para ser protagonista na eleição de SP
Mais jeito de DEM que PSDB. Um político distante e que não demonstra calor na relação com colegas de partido. Alguém que passou para trás Geraldo Alckmin (PSDB). Estas são definições de integrantes do PSDB em relação ao governador de São Paulo, João Doria, principal nome do partido e que vai liderar a sigla nas eleições marcadas para novembro.
As declarações não partiram de caciques tucanos que perderam poder com a ascensão de Doria. São declarações de prefeitos e filiados feitas desde que a fonte não fosse revelada. A falta de empatia de uma fatia do PSDB com o governador obriga o uso de uma ferramenta política para enviar recados.
A Prefeitura não quis se manifestar sobre o assunto. O coordenador da campanha de Bruno Covas (PSDB) à reeleição na capital será o secretário particular do governo estadual, Wilsinho Pedroso. A intenção é afastar rumores de que haveria desentendimentos entre o prefeito e Doria. A necessidade em fazer a sinalização, de provar a aliança, já é indício de que há desconfiança no partido.
O governo do estado se manifestou sobre o assunto por meio de nota e negou distanciamento das bases. Informou que criou a Secretaria de Desenvolvimento Regional, que atende a cerca de cem autoridades municipais por mês. O PSDB, também por meio nota, negou haver qualquer desavença na capital paulista.
"Insinuações em sentido contrário são infundadas e partem de percepções sem qualquer parâmetro com a realidade", afirma trecho da nota do partido.
Os aliados de Doria
Mas não significa que o governador enfrenta resistência em todo o PSDB. Há defensores como o prefeito de Araçatuba, Dilador Borges (PSDB), que afirma ser necessário gestos de lideranças antigas. Ele disse que é hora de nomes como José Serra e Geraldo Alckmin, e seus aliados, "darem espaço para o novo".
Historicamente um partido de quadros, o PSDB só lançou cinco nomes para os principais cargos de São Paulo (governador do estado e prefeito da capital) desde a fundação, em 1988: Serra (para prefeito em 1988, 1996, 2004 e 2012 e governador em 2006), Mário Covas, avô de Bruno (governador em 1990, 1994 e 1998), Alckmin (prefeito em 2000 e 2008 e governador em 2002, 2010 e 2014), João Doria (prefeito em 2016 e governador em 2018) e um distante Fábio Feldman (prefeito em 1992).
Luiz Fernando Machado, prefeito de Jundiaí, acrescentou que véspera de campanha não é momento de se dividir em alas. Ele afirmou que política partidária não decide eleição e mandou um recado a opositores do governador. "Protagonismo cabe a quem tem mandato e relação direta com a sociedade."
Prioridade é a capital
A eleição para a Prefeitura de São Paulo é a única considerada de caráter nacional no Brasil e isto reflete na atenção que recebe. Em 2016, Bruno Covas foi escolhido candidato a vice para tentar pacificar o partido. Nas prévias do PSDB, saiu até briga entre apoiadores de Doria e Ricardo Tripoli.
Doria ganhou a prefeitura e, em 2018, o governo estadual. Quando ele assumiu o Palácio dos Bandeirantes, Bruno fez movimentos para se diferenciar e criar uma marca. A administração anterior focava em concessões e passou a ter um caráter mais social com foco na habitação e saúde. Nomes relacionados a Alckmin ganharam espaço e, nos bastidores, se falou que a prefeitura passou a ter cara de PSDB.
Muitos tucanos dizem que Doria é mais parecido com o liberalismo do DEM, partido de seu vice-governador, Rodrigo Garcia, do que com o velho PSDB. Bruno tomou cuidado de não demonstrar deslealdade.
Movimento para fincar bandeira e inverso à tentativa de Doria em ser candidato a presidente em 2018 no lugar de seu padrinho político, Geraldo Alckmin. Ao ser fiel, Bruno estaria dando um recado e expondo ainda mais a diferença de comportamento. Esta posição e alguns comentários nos corredores durante o enfrentamento da covid-19 suscitaram rumores de divergências.
A nomeação de Wilsinho Pedroso, que tem trânsito com tucanos históricos e trabalha com Doria, seria uma forma de mostrar união. O governador também é apontado como articulador de apoios à reeleição do prefeito, incluindo o MDB e todos os seus cabos eleitorais e tempo de TV.
A costura seria com o presidente nacional do partido, deputado federal Baleia Rossi (MDB-SP), e não incluiria a campanha para a Prefeitura de São Paulo. A esfera municipal só entrou na negociação por iniciativa de Doria. Um sinal desta aliança é a possibilidade de o apresentador José Luiz Datena ser vice de Bruno.
Falta de tato político
Trazer o MDB é uma ajuda considerável, mas Doria perdeu pontos políticos em outro movimento visando a eleição. Ano passado, o prefeito havia recebido alta do hospital na primeira etapa de seu tratamento contra o câncer e o primeiro dia de trabalho contou com um evento com o secretariado. O governador apareceu com a deputada federal Joice Hasselmann (PSL-SP).
Ela seria uma possível vice ou até substituta de Bruno, caso a doença se agravasse. A atitude foi considerada rude e insensível —o que os tucanos chamam de falta de tato político de Doria.
Uma atitude citada é o governador receber vários prefeitos em cerimônias e tirar uma selfie em que aparece em primeiro plano e os demais ao fundo, praticamente escondidos. Políticos experientes explicaram que o prefeito quer uma foto com o governador para enviar ao jornal local e mostrar que tem prestígio e trouxe verbas.
Sem a imagem, ouve a oposição propagar que não há vantagem em ser do partido que está no Palácio dos Bandeirantes. O ex-senador José Aníbal também cita a pequena quantidade de viagens de Doria. Ele declarou que Alckmin e Mário Covas percorriam o estado aos finais de semana.
"É uma liderança de outro tipo, de outra natureza. Não tem muita liderança partidária, não tem vivência [partidária] como tem o Geraldo Alckmin."
Pandemia afeta imagem de Doria
Prefeitos do interior do PSDB também afirmaram que até poucas semanas atrás era uma desvantagem ser do partido do governador. Havia reclamações de comerciantes pelas lojas fechadas e uma impressão de favorecimento à capital no enfrentamento à pandemia. Mas o aumento dos casos e mortes por covid-19 no interior alterou o cenário.
O prefeito de Registro, Gilson Fantin (PSDB), disse que fez pesquisas para saber qual impacto ser tucano tem na eleição. Os resultados apontam aumento na aprovação de Doria.
"A situação do governador tem mudado para melhor no ponto de vista eleitoral. A gente fez pesquisa de 13 a 16 de julho e apoio melhorou 6%. Antes, atrapalhava muito e agora não atrapalha mais. Até o final de junho era desvantagem ser do partido do governador, agora é neutro".
O prefeito de Marília, Daniel Alonso (PSDB), entrou na Justiça para flexibilizar a atividade econômica na quarentena, algo que o governo do Estado não permitia. Ele fez declarações contra Doria, mas em época de campanha defende o pragmatismo.
"Eu tive algumas divergências no campo funcional, das atividades econômicas, mas isto em nenhum momento chega a ser problema político. Espero e conto com o apoio do partido e do governador. Neste momento de eleição espero alinhamento político. Eleição é um outro jogo."
ID: {{comments.info.id}}
URL: {{comments.info.url}}
Ocorreu um erro ao carregar os comentários.
Por favor, tente novamente mais tarde.
{{comments.total}} Comentário
{{comments.total}} Comentários
Seja o primeiro a comentar
Essa discussão está encerrada
Não é possivel enviar novos comentários.
Essa área é exclusiva para você, assinante, ler e comentar.
Só assinantes do UOL podem comentar
Ainda não é assinante? Assine já.
Se você já é assinante do UOL, faça seu login.
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Reserve um tempo para ler as Regras de Uso para comentários.