Após ostracismo e derrotas, Amazonino Mendes ressurge como líder em Manaus
A sede do Podemos em Manaus passou por uma rigorosa sanitização, no dia 16, para receber na convenção o pré-candidato do partido na disputa pela prefeitura. Aos 80 anos, diabético e cardíaco, Amazonino Mendes faz parte do grupo de risco sob a pandemia da covid-19.
Sem jornalistas nem aglomeração, as imagens foram transmitidas por lives nas redes sociais. Assessores evitaram ao máximo as possibilidades de contaminação para Amazonino, inclusive impedindo a aproximação do cerimonialista do evento.
O motivo do extremo cuidado com o ex-governador é também um dos principais ataques dos adversários contra ele: a idade e a saúde.
"O que faz um homem de 80 anos de idade se expor? O que eu quero? Não quero mais nada. Não estou atrás de honraria. Já fui governador quatro vezes. Não estou atrás de dinheiro. Não sou candidato a correr a maratona", disse Amazonino na convenção.
Há cerca de um ano, o quatro vezes ex-governador e ex-prefeito de Manaus por três vezes tem liderado todas as pesquisas eleitorais.
O doutor em ciências sociais Marcelo Seráfico, também professor da Ufam (Universidade Federal do Amazonas), afirma que a manutenção do eleitorado de Amazonino impressiona.
"É incrível o desempenho dele, a disposição em voltar e conseguir se rearticular frente a outros políticos, herdeiros do grupo dele, que nem sequer conseguem ter uma marca forte. Ele se nutre da fragilidade desses políticos", afirmou.
Para o professor, Amazonino deixou grandes obras no estado e programas sociais de caráter populista, gerando uma espécie de memória afetiva na população que, mesmo depois de quase 40 anos no poder, ressurge como alternativa em 2020.
"Ele fez a UEA [Universidade do Estados do Amazonas], o bumbódromo de Parintins, programas como O Leite do Meu Filho, Cartão Direito à Vida... Ele conhece a máquina. A despeito de todas as acusações e críticas, acaba lembrado como liderança", disse.
Nascido em Eirunepé, no rio Juruá, a 1.062 km de Manaus, em 1939, Amazonino se tornou o sucessor da escola política do ex-governador e ex-senador Gilberto Mestrinho, morto em 2009.
Quando se elegeu governador, em 1983, Mestrinho queria que seu grupo administrasse o estado por duas décadas. Amazonino extrapolou as expectativas. Desde seu primeiro mandato como prefeito de Manaus, em 1983, ainda no período militar, reúne quase 40 anos de disputas eleitorais vitoriosas.
No voto, só perdeu três vezes. A última aconteceu em 2018 quando, tentando a reeleição para o governo do Amazonas ao fim de um mandato tampão de um ano e dois meses, foi derrotado pela onda dos outsiders, que elegeu o apresentador de TV Wilson Lima (PSC).
Usou suas derrotas como mola propulsora para recuperar o posto nas eleições seguintes. Foi assim em 1992, quando venceu o pleito após ter seu candidato derrotado na eleição anterior. Ou em 2008, quando venceu o então prefeito Serafim Corrêa (PSB), para quem havia perdido em 2004.
A eleição de 2018, que elegeu o atual governador, foi uma ruptura no revezamento de políticos criados no ninho de Amazonino Mendes.
Entre 1987 e 2017, vieram as "crias": os senadores Eduardo Braga e Omar Aziz e o ex-governador José Melo. Os três são investigados em escândalos de corrupção.
Aziz e Braga apareceram em denúncias da Operação Lava Jato, suspeitos de terem recebido propina. Contra Aziz, pesa ainda a suspeita de desvio de dinheiro público da saúde do Amazonas, na Operação Maus Caminhos. Melo foi cassado e preso preventivamente em 2017, na mesma operação. Os três negam as acusações.
Segundo o analista e presidente do Instituto Action Pesquisas de Mercado, Afrânio Soares, a má avaliação do atual governo, também investigado pela Polícia Federal, é uma das principais razões do bom desempenho de Amazonino nas pesquisas. Um dos maiores escândalos que ganharam a mídia nacional quando ele foi governador —a construção de uma mansão às margens do rio Negro— não virou investigação na PF e caiu no esquecimento.
Volta às urnas após aposentadoria
Amazonino Mendes terminou o último mandato na prefeitura em 2012 com alto índice de rejeição, o que fez com que ele decidisse não disputar a reeleição. Sem aparecer na campanha, apoiou o atual prefeito Arthur Virgílio Neto (PSDB). Na ocasião, deu entrevistas dizendo que precisava cuidar da saúde, ou iria para o "estaleiro".
Da aposentadoria, passou ao ostracismo político durante cinco anos. Até que a cassação de José Melo em 2017 fez com que o senador Omar Aziz e Virgílio Neto o tirassem do recolhimento para se opor ao senador Eduardo Braga (MDB) na eleição tampão.
Em 15 meses de mandato, enfrentou forte oposição na Assembleia, greve de professores e de policiais. Disse não ter feito promessas a Aziz e decidiu enfrentá-los nas urnas, ficando em segundo lugar. Já a chapa Aziz e Arthur Bisneto, filho do prefeito, terminou em quarto.
Antes de deixar o governo em 2018, se meteu em mais uma polêmica: autorizou a revisão do valor da própria pensão como ex-governador e um pagamento retroativo a 2013, o que fez com que recebesse no último mês de mandato R$ 545 mil, somando salário e indenização.
O assunto foi ficando esquecido após as crises do governo Wilson Lima. Amazonino reapareceu nas redes sociais para apontar os erros do sucessor e manter seu nome vivo na mente do eleitor. "Estou muito consciente do que eu estou fazendo."
Adversários e disputa por apoio de Bolsonaro
Na disputa em Manaus, há três palanques de esquerda: o deputado federal José Ricardo (PT), Gilberto Vasconcelos (PSTU) e Marcelo Amil (PCdoB). Quatro estão mais à direita: o vereador Chico Preto (DC), Romero Reis (Novo), o coronel da reserva do Exército Alfredo Menezes (Patriota) e o deputado federal Capitão Alberto Neto (Republicanos). Os dois últimos disputam também o apoio do presidente Jair Bolsonaro, com boa avaliação entre os eleitores manauaras.
Ao centro, ainda concorrem o ex-ministro dos Transportes Alfredo Nascimento (PL), o deputado estadual Ricardo Nicolau (PSD) e o ex-presidente da Assembleia Legislativa, David Almeida (Avante).
Almeida é quem mais ameaça o favoritismo de Amazonino no segundo turno. Foi governador tampão por quatro meses do Amazonas em 2017, após a cassação do governador José Melo, e o terceiro colocado na disputa pelo governo em 2018. Em várias ocasiões, David Almeida afirmou que o tempo de Amazonino já passou e que o lugar dele é na história. "Não tem que pedir votos, tem que pedir desculpas", critica.
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