PT se alia a PSL em ao menos 4 cidades; rivais integram mais 85 coligações
Grandes rivais nas eleições de 2018, PT e PSL são neste ano aliados em ao menos 89 candidaturas pelo país. Em quatro delas, um dos dois partidos encabeça a coligação. Por enquanto, são três chapas lideradas pela antiga legenda de Jair Bolsonaro (sem partido) e uma pela sigla do ex-presidente Lula (PT). As outras 85 têm outros partidos como líderes na chapa.
O levantamento foi feito pelo UOL a partir de dados parciais do TSE (Tribunal Superior Eleitoral). Ou seja, o apoio entre PT e PSL pode ser maior, já que os partidos têm até amanhã para registrarem as candidaturas.
Em Juazeiro do Norte (CE), por exemplo, as legendas chegaram a anunciar aliança, mas ainda não constam no sistema do TSE.
No Nordeste, histórico reduto petista, uma cidade do interior do Maranhão com pouco mais de 4.000 habitantes tem uma chapa formada apenas pelos dois desafetos —e a única no momento registrada para o pleito.
O atual prefeito de São Pedro dos Crentes, o médico Lahesio Rodrigues do Bonfim, foi eleito em 2016 pelo PSDB com um vice petista, migrou para o PSL e se lança à reeleição agora apoiado pelo PT. O vice agora é do PSL. Ainda assim, nas redes sociais, Bonfim desfere críticas ao petismo e o governador comunista do estado, Flávio Dino (PCdoB).
No sertão pernambucano, Helbinha de Rodrigues (PSL-PE) lançou seu nome às eleições tendo por vice Dr. Renne (DEM) e apoio do PT em Trindade, município de 22 mil habitantes. Outra candidatura pesselista apoiada pela sigla rival é a do advogado Pedro Rosa, em Nova Olímpia (MT), numa coligação que também abrange Podemos, Republicanos, Solidariedade e PV.
Em contrapartida, apenas uma candidatura estrelada por um petista tem o PSL em sua coligação: a do atual prefeito de Urucurituba (AM), José Claudenor de Castro Pontes, conhecido como Sabugo. A aliança reúne 12 partidos ao todo para concorrer à prefeitura do município de pouco mais de 20 mil habitantes.
Em outras 85 candidaturas por todo o país, os dois partidos participam juntos de coligações que apoiam candidaturas de diferentes pontos do espectro político. A maior parte é encabeçada pelo MDB —com 20 chapas, ao todo. Na sequência vem o PSB, que lidera 12 das coligações. As associações improváveis se concentram em Minas Gerais, onde há candidaturas unindo os dois partidos em 17 cidades do estado, seguido pelo Paraná (12) e por Pernambuco (11).
"Isso quer dizer que a realidade local nem sempre reflete as disputas estaduais e nacionais", explica Marco Antônio Carvalho Teixeira, professor de ciências políticas da FGV (Fundação Getúlio Vargas). "Dependendo do tamanho do município, importa muito mais outro adversário, e aí os partidos se coligam em função disso, e não em função do que representa o bolsonarismo ou o petismo na luta nacional pela política."
Mas isso não é novidade. O professor cita o exemplo de PSOL e PT, que disputam o eleitor na capital de São Paulo, mas a poucos quilômetros, em Campinas, estão coligados. PT também trabalhou junto em muitas ocasiões com o PSDB, apesar da rivalidade histórica em âmbito nacional. "As realidades locais determinam proximidade ou distância, mesmo em partidos que são inimigos ou aliados", afirma.
Orientações dos partidos
Jair Bolsonaro e parte de seus aliados deixaram o PSL no ano passado, após divergências com a cúpula do partido, mas a sigla ainda abriga parte da ala bolsonarista, como seu filho, o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP).
Em janeiro, o diretório paulista proibiu em convenção alianças locais com o PT. Mas isso não impediu que as duas legendas apareçam na mesma coligação em quatro cidades do estado: Cordeirópolis e Taquarivaí (chapas encabeçadas pelo MDB), Itapevi (liderada pelo Podemos) e Francisco Morato (Republicanos).
Segundo o deputado Junior Bozzela, presidente do PSL em São Paulo, a proibição vale apenas para o caso de candidaturas petistas. "Não teria cabimento [a união], por questão ideológica e vice-versa", diz ele. Já nos casos de coligações maiores, o partido não tem gerência. "Se o cabeça de chapa é o Republicanos, eles que têm que trabalhar quem têm na coligação. Em lugares com um arco de aliança gigantesca, não temos nem noção de quem está lá."
Ele cita o caso de Itapirapuã Paulista, na região do Vale do Ribeira, em que uma chapa liderada pela petista Sirlene Camargo foi anunciada, tendo por vice o policial Aguinaldo Cruz, do PSL. Segundo Bozzela, a aliança foi desfeita após intervenção do diretório. A candidatura de Camargo não consta ainda no site do TSE.
Já o PT determinou que as alianças só precisam passar pela aprovação do diretório estadual no caso de municípios com mais de 20 mil habitantes —o que está longe de ser o caso de São Pedro dos Crentes, no interior do Maranhão. O diretório de Mato Grosso confirmou ter autorizado o apoio do partido ao PSL em Nova Olímpia. Em Pernambuco, a justificativa foi o apoio dado pela atual candidata à campanha de Fernando Haddad (PT) em 2019. O UOL também entrou em contato com o diretório do Amazonas, mas não obteve resposta.
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