Vice de Russomanno acha natural apoio de Bolsonaro e se afasta de Crivella
O ex-presidente da seção paulista da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) Marcos da Costa é um vice de última hora. Até as 13h de 16 de setembro, último dia para definir as chapas em convenções, ele era candidato a prefeito de São Paulo pelo PTB. Duas horas depois, passou a ocupar a vice na chapa encabeçada pelo deputado federal Celso Russomanno (Republicanos), atual líder nas pesquisas de intenção de voto.
Nesse intervalo de tempo, o PTB informou Costa de que havia sido procurado pelo Republicanos para formar uma aliança. O partido deixou a decisão nas mãos dele. "Do ponto de vista eleitoral, temos de somar forças para ter a possibilidade de êxito na eleição", diz o agora candidato a vice.
O vice de Russomanno diz ter "profundo respeito" pelo governo do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) —que é apoiado por PTB e Republicanos. Aos 56 anos, se considera "conservador" e "homem de família", características que ressalta depois de ter sido avaliado pelo presidente nacional do PTB, Roberto Jefferson, como "petista" e "não conservador".
"Ele não me conhecia pessoalmente e deve ter recebido informações de pessoas próximas a ele, informações incorretas", diz Costa, que diz ter sido uma "pedra no sapato" da gestão de Fernando Haddad (PT), quando liderava a OAB-SP. "Basta isso para dizer que a informação que chegou ao Roberto Jefferson é equivocada."
Motivos para concordar com coligação
Nesta eleição, que será sua primeira, terá a companhia na chapa de alguém que conhece há 20 anos, mas não via há dois. Há duas semanas, eles se esbarraram em um avião e um evento. "E os dois momentos sem serem marcados. Falei: 'Olha, alguém lá de cima está olhando para a gente e estará querendo que a gente trilhe um caminho comum. Mas vamos continuar tocando nossas campanhas'. E, no fim, acaba saindo a coligação."
Sobre entrar na política, Costa diz ver nela um "instrumento de transformação". Mas ele diz que os efeitos da pandemia do novo coronavírus na eleição foram um ponto que o fizeram refletir sobre abrir mão de uma candidatura pelo PTB. "Uma eleição atípica, sem que eu tivesse 'recall' de eleições anteriores, sem que eu pudesse fazer uma coisa de que eu gosto muito, que é estar na rua. Por conta da especificidade da eleição, de um lado, e porque era bom para os dois partidos, decidi também concordar com essa coligação."
"Crivella diz respeito ao Rio"
Na entrevista concedida na última quarta-feira (23) ao UOL, Costa preferiu evitar entrar em polêmicas. Questionado sobre o principal cartão de visitas de uma gestão do Republicanos no país, a cidade do Rio de Janeiro, o vice preferiu dizer que as realidades são distintas.
A prefeitura carioca é comandada por Marcelo Crivella (Republicanos), que tenta a reeleição, mas tem sua administração criticada, inclusive por utilizar funcionários públicos para dificultar o trabalho da imprensa, e está no alvo da Justiça. Ontem, o TRE (Tribunal Regional Eleitoral) do Rio considerou Crivella como inelegível.
"A nossa campanha diz respeito à cidade de São Paulo, as nossas propostas dizem respeito à cidade de São Paulo. Não tem nada a ver com o Rio de Janeiro", diz. "Eu não faço análise da gestão do Crivella porque o Crivella está no Rio de Janeiro. Eu sou paulistano, aqui nasci, minha preocupação é com São Paulo. Não sou eleitor do Rio de Janeiro."
Ele [Crivella] diz respeito ao Rio de Janeiro. A preocupação nossa é com a cidade de São Paulo. Só com a cidade de São Paulo
Marcos da Costa (PTB), candidato a vice na chapa de Celso Russomanno (Republicanos)
O Republicanos é um partido ligado à Igreja Universal, comandada por Edir Macedo, proprietário da Record TV, emissora em que Russomanno tem participação em programas como "fiscal do consumidor". Questionado se a igreja terá influência em uma eventual gestão do Republicanos na capital paulista, Costa diz: "Vamos primeiro disputar a eleição".
"Quando acabar a eleição e nós formos vitoriosos, vamos ver os melhores quadros para São Paulo. Essa será nossa preocupação. Acabada a eleição, se formos eleitos, é um outro momento."
Vínculo "natural" com Bolsonaro
Pelo fato de PTB e Republicanos pertencerem à base do governo federal, Costa vê como "natural" um vínculo da candidatura a Bolsonaro. Pesquisa Datafolha divulgada ontem, porém, apontou que 64% dos eleitores não votariam de jeito nenhum em um candidato apoiado pelo presidente. "O efeito eleitoral disso a população que vai decidir."
Costa diz haver expectativa para que Bolsonaro veja em sua chapa "um aliado para o fortalecimento do programa do governo federal no Brasil". "Acho que, pelos valores que defendemos, vamos ter aqueles que têm simpatia pelo governo federal. A nossa chapa vai ser uma opção."
Uma observação feita por partidos adversários e até membros do Republicanos é que Russomanno tem estado muito quieto na campanha. O nome dele, inclusive, chegou a ser apontado como o de um possível vice na chapa de Brunos Covas (PSDB), candidato à reeleição. O Republicanos, até o começo de agosto, fazia parte da gestão do tucano. Essas situações chegaram a gerar dúvida sobre se Russomanno gostaria de ser candidato.
"Ele quer ser candidato e quer ser prefeito de São Paulo", diz Costa, que aponta não ter como avaliar o comportamento de seu colega na pré-campanha. "Aí você vai me permitir lembrar que eu, até quarta-feira passada, era candidato. Estava com a minha campanha, não a campanha do Celso. O que havia no Republicanos eu desconheço, porque não era meu foco."
Costa evita apontar qual seria o principal adversário, falando que "todas as candidaturas merecem respeito". "A campanha nem começou. A campanha começa no domingo."
No levantamento do Ibope, divulgado no último domingo, Costa ainda constava como candidato. Na pesquisa, ele não pontuou e era desconhecido para cerca de sete em cada dez paulistanos. "É natural que eu não tivesse meu nome conhecido da população. Eu estava saindo exatamente da população, da sociedade civil, sem nunca ter concorrido a um cargo público."
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