Toda vez que ouço o slogan de Felipe Sabará, candidato (expulso) do Novo à Prefeitura de São Paulo, fico imaginando a reunião do departamento de marketing e trocadilho da campanha.
— Precisamos colar alguma coisa em Sabará.
— Um adesivo de "pague meu lanche"?
— Não no candidato. No sobrenome do candidato.
— Hum. O que dá pra rimar numa oxítona de três sílabas terminada em "a"?
— Cilada? Se sim, que tal? "Sabará não é ciladá?"
— Cilada não é oxítona. Se mudar a sílaba forte fica forçado.
— E Sabará passará?
— Passará onde, fio?
— Sei lá. Tipo: "Eles passarão, eu Sabará".
— Meu Deus, cara.
— E "Sabará vencerá"?
— Fala sério.
— Sarará?
-- Vou nem responder.
-- "Votarás Sabará?".
— Não podes estar falando sério, estarás?
— Sabotará?
— Esquece esse negócio de currículo, bicho.
— Cassará? Negócio de combater mamata, corrupção e tal.
— Talvez alguma coisa ligada a teta de governo e "não mamará", que acha?
— Não sei. Aliás, já sei. Saberá. Sabará saberá.
Tudo aqui, claro, é especulação. Mas se alguém tiver registro da reunião, o vídeo já pode ser guardado como tesouro. "E foi assim que surgiu um dos piores trocadilhos de campanha da história desta cidade que já teve pérolas como 'Do Sting o futuro prefeito é amigão'."
O fato é que o jingle de Sabará não é só tosco. É fraudulento. Uma espécie de fake jingle.
Porque se tem uma coisa que Sabará não sabe é saber (vou apertar, mas não vou escrever agora que Sabará é como o cara que não sabia que o sabiá não sabia assobiar. Que o santo protetor do trocadilho ruim nos proteja e nos ajude a contar até dez para a tentação passar. Passará. Desculpem, não deu).
Sabará errou feio, errou rude, na própria declaração de bens. Em setembro, ele disse possuir R$ 15.686 e foi contestado pelos próprios mui amigos de partido, que viram falta de transparência por parte do herdeiro de uma gigante (e milionária) indústria de cosméticos. Falaram: "Irmão, abre essa carteira aí pra gente ver direito".
Sabará abriu e encontrou, opa, olha só, R$ 5,1 milhões, divididos entre ações, aplicações e valores em conta.
Até aí, quem nunca confundiu 15 mil com 5 milhões?
Tudo não passou de "um lapso", segundo seu advogado, sem explicar como Sabará saberá a diferença de mil e milhão quando quiser, sei lá, implodir o Minhocão sem explodir o orçamento público.
Na dúvida, o candidato para quem taxar rico é matar a fonte de empregos, poderá recorrer aos bancos, a quem aposta para estimular o empreendedorismo da população paulistana menos favorecida.
Mais recentemente, o candidato que saberá o que fazer com a cidade cometeu outro lapso ao criticar o aumento da passagem de R$ 3,30 para R$ 3,70 em uma sabatina. Só que o valor da tarifa é R$ 4,40.
Presume-se que aqui o problema não é só matemático, mas da falta de experiência —no caso, provavelmente falta ao candidato a experiência de andar de ônibus.
Se por acaso estiver sob a marquise do Minhocão e quiser voltar pra casa de transporte público, Sabará saberá?
Ninguém sabe. O que se sabe é que o candidato acaba de ser EXPULSO do próprio partido no meio da campanha.
Sabará, aparentemente, foi infectado pelo vírus que obriga candidatos a postos públicos a mentir sobre o currículo. Seu caso foi analisado pela Comissão de Ética da legenda, que decidiu: Sabará sairá.
Em vídeo, o postulante soltou gatos e lagartos sobre o presidente do Novo, João Amoêdo, e atribuiu a decisão aos flertes lançados sobre o governo Bolsonaro, a quem tem elogiado publicamente.
Seria esta a primeira vez que um candidato é alvejado pelo próprio partido em plena campanha? Quem saberá?
Sabará, de toda forma, seguirá candidato até segunda ordem. Sem partido, Sabará buscará em outros territórios apoiadores que ajudem a alavancar seu espírito empreendedor de campanha.
Em sua página no Facebook, o vídeo com o maior destaque tem uma frase estourada do apresentador José Luiz Datena, com quem aparece no card sorridente dizendo que o candidato é "inteligente, muito inteligente".
A estratégia colará? Ou daqui em diante Saberá naufragará?
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