Arca de Crivella naufraga após levar à TV Bolsonaro, pastor e Paulo Cintura
Gritar não resolve. Sim, você já ouviu isso dos seus pais enquanto esgoelava, girando com as costas no chão, ora no sentido horário, ora no anti-horário, por algum brinquedo na loja.
A sabedoria dos adultos de casa vale também para os adultos políticos. Ou deveria valer.
Em 2020, ninguém deve ter berrado mais contra a iminente derrota do que Marcelo Crivella (Republicanos), um dos poucos prefeitos com mandato que não aproveitou a onda situacionista para obter mais quatro anos de governo. Não adiantou encher a propaganda de imagens dançando e abraçando o presidente Jair Bolsonaro, seu maior apoiador.
Seu última programa na TV, mais até do que o último debate, quando evitou chamar os anfitriões de "GloboLixo", entrará para a história como a maior operação vai-que-cola dos tempos recentes —abaixo disso talvez só conste o caso Lurian no quesito apelação.
Em seus cinco últimos minutos de propaganda, Crivella rogou praga contra Eduardo Paes (DEM). Previu sua prisão, disse que em sua gestão só quem ganharia era o bolso da emissora declarada inimiga e exibiu uma lista de apoiadores que pareciam pedir resgate enquanto falavam do medo de terem a vida ceifada pela corrupção e a "ideologia de gênero" representados pelo rival.
No tudo-ou-nada, já sem resquício de qualquer organização tática, a campanha do atual prefeito mandou para a área o missionário R.R.Soares —pastor que fundou a Igreja Internacional da Graça de Deus— que garantiu aos idosos ter as pontes com o divino para votarem em segurança em Crivella neste domingo (29), e também Paulo Cintura, figura esquecida da TV e recém-reabilitada pelo bolsonarismo.
Teve também testemunho da primeira-dama a respeito das premonições do marido, que é bispo licenciado, para equipar a área da saúde antes mesmo da pandemia — que matou 13 mil pessoas na cidade.
Pelo resultado das urnas, nada disso funcionou. Nem a estratégia do terror nem os ataques promovidos longe da propaganda, quando atualizou para 2021 o Apocalipse de São João ao descrever o que os cariocas encontrariam na cidade caso fosse derrotado pelo rival. Apesar dos esforços iniciais para mostrar calma e controle, em certos momentos Crivella pareceu reencarnar a fala proibidona do Costinha nas antigas propagandas da Loterj.
Mesmo com tantos personagens exóticos da fauna política, a arca naufragou.
Paes, herdeiro do espólio das forças anti-Bolsonaro na cidade, venceu com todos os prendedores de roupa levados às narinas por quem só deu a ele um novo mandato porque do outro lado estava Crivella. Entre eles estavam os administradores da página "Eu Odeio Eduardo Paes" no Facebook, que diante das opções declararam voto e apoio a...Eduardo Paes.
Na TV e nas redes, Paes classificou Crivella como o "pior prefeito da história do Rio" e ainda o apelidou de rei da mentira, uma referência bíblica ao sete peles. Sua mensagem aos cariocas podia ser vista na imagem de fundo de seu estúdio em home-office mostrado ao longo da campanha, com referências ao Cristo Redentor, ao papa, a Barack Obama e à própria família.
O novo velho prefeito explorou os contrastes contra o sorumbático adversário, com imagens de festa, dança, carnaval e uma antiga euforia que vigorava na cidade pouco antes dos Jogos Olímpicos —uma alegria que ele prometia resgatar dos mares como Sebastião, não o santo padroeiro da cidade, mas o rei que desapareceu nas cruzadas e nunca mais foi visto.
Paes não vai ter tempo de guardar a fantasia. No saldo de uma das campanhas mais agressivas dos tempos recentes, a quarta-feira de cinzas começa na segunda-feira.
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