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OPINIÃO

Análise: Covas joga para empatar e usa velhos programas em despedida na TV

16.11.2020 - Guilherme Boulos (PSOL) e Bruno Covas (PSDB) antes do debate promovido pela CNN Brasil para a Prefeitura de São Paulo - Kelly Queiroz/CNN Brasil
16.11.2020 - Guilherme Boulos (PSOL) e Bruno Covas (PSDB) antes do debate promovido pela CNN Brasil para a Prefeitura de São Paulo Imagem: Kelly Queiroz/CNN Brasil

Matheus Pichonelli

Colunista do UOL

27/11/2020 14h30

Nos bastidores, a disputa pela Prefeitura de São Paulo pega fogo com uma ação recém-protocolada por Guilherme Boulos (PSOL) na Justiça Eleitoral contra Bruno Covas (PSDB) por suposto abuso de poder político no caso da distribuição de cestas básicas ao som de seu jingle de campanha.

No último dia da propaganda de TV, no entanto, os dois candidatos não quiseram saber de briga, provocação ou troca de acusações.
Covas, em vantagem não tão confortável nas pesquisas, jogou na chamada bola de segurança. Usou o mesmo vídeo da abertura de sua propaganda ainda no primeiro turno, quando exigiu imagens de sua viagem a Washington (EUA) em busca de recursos para a área da saúde do município --fundamentais, segundo ele, no enfrentamento da pandemia do coronavírus.

A campanha do tucano exibiu também um vídeo, já usado em outros programas, mostrando o candidato em seu apartamento de 70 metros quadrados na Barra Funda e falando sobre sua ligação com a política, para ele uma profissão como qualquer outra, e não um hobby.

Ele voltou a dizer também que a pandemia jogou luz sobre as desigualdades sociais de São Paulo e prometeu não deixar ninguém passar fome na cidade.

Fechou a campanha na TV como começou: sem a companhia de figurões de seu partido, menos ainda do aliado Ricardo Nunes (MDB) ou de artistas de renome.

Neste quesito, Guilherme Boulos (PSOL) venceu por nocaute. Levou ao ar depoimentos de Emicida, Sônia Braga, Zeca Baleiro, Wagner Moura e ainda apresentou a equipe de especialistas que o ajudou a montar seu programa de governo, entre juristas, economistas, cientistas sociais e filósofos.

Se Covas aparece quase sempre sozinho na TV, Boulos está sempre em turma.

Em sua despedida, o psolista escolheu o problema das creches como tema central. Prometeu zerar a fila de espera, construir novas unidades, contratar professores e abastecer a rede com alimentos orgânicos. Citou ainda sua experiência como professor e como pai de duas filhas para dizer que conhece a realidade da rede pública de educação e que na cidade mais rica do país é inaceitável que as mães tenham de parar de trabalhar por não ter onde deixar seus filhos. "Dinheiro tem, basta inverter prioridades e impedir que dinheiro público vá para esquemas", disse, repetindo um bordão de outros programas.

Houve tempo ainda para reflexões sobre a política e a cidade. "A felicidade só é completa quando é repartida por todos", disse o narrador enquanto imagens da cidade eram entrecortadas por caminhadas e abraços entre Boulos e sua vice, Luiza Erundina.

O tom das duas propagandas foi bem diferente da exibida pelas campanhas na véspera, quando ambos apostaram numa espécie de Arquivo Confidencial do Faustão para ganhar o eleitor. De um lado, Boulos mostrava beneficiários das mobilizações por moradia lideradas por ele. Do outro, paulistanos diziam o quanto eram agradecidos pelas políticas de auxílio da prefeitura sob o comando de Bruno Covas.

Entre um depoimento e outro, os adversários filosofavam. "Eu não faço com os outros o que não gosto que façam comigo", disse Covas de um lado. "O que eu aprendi morando na periferia de São Paulo nenhum mandato parlamentar te dá. Eu aprendi a ver as pessoas", afirmou Boulos do outro.

Em outro ritmo, o candidato do PSOL exibiu os melhores momentos de uma espécie de gincana que levou ao centro da cidade chamada "Se vira nos 50", em que ele tinha 50 segundos para responder às perguntas da população, aglomerada em tempos de pandemia.

Antes, mostrou o resultado de seu giro por uma série de obras de hospitais inacabados da prefeitura. Isso na penúltima propaganda. Parecia um indicativo de que o melhor estava por vir na cena final. Não veio.

Ao menos na TV, com exceção de uma graça aqui e ali, a campanha não chegou perto das sacadas compartilhadas por sua equipe nas redes sociais, com direito a games, memes e trocadilhos infames que deram a ele a liderança de popularidade digital e das intenções de voto entre jovens de 16 a 24 anos.

Na TV, Covas jogou para empatar e garantir a preferência dos eleitores mais conservadores que não querem emoção a essa altura do campeonato. Estes puderam dormir tranquilos nos dez minutos da propaganda.

A eleição em São Paulo pode até ter surpresa até domingo. Mas, se tiver, não será por causa da última propaganda na TV.

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