Belém tem disputa acirrada entre PSOL e 'cover' de Mourão
Um leitor desavisado que caísse de paraquedas em Belém na disputa acirrada do segundo turno da eleição poderia imaginar que Hamilton Mourão é um dos candidatos a prefeito da capital paraense.
Não só pela feição e jeito sisudo do Delegado Eguchi, candidato do Patriota que é a cara do vice-presidente, mas também pelo figurino, composto por uniforme verde-oliva e um inseparável colete onde se vê a bandeira do Brasil e do Pará —lá, pelo jeito, as cores da direita podem ter vermelho, sim.
A indumentária lembra a usada pelo vice-presidente em suas incursões pela Amazônia. Mas Eguchi é Eguchi, Mourão é Mourão. Ou não.
Das mais de 50 cidades que definem seu futuro no segundo turno, Belém, que opõe Eguchi ao ex-prefeito Edmilson Rodrigues, do PSOL, é a que talvez tenha o contraste mais evidente entre candidatos. Ao menos na estética, o encontro das águas entre os rios da região amazônica não provoca pororoca mais ruidosa.
A propaganda na TV entre os postulante em Belém parece a reencenação do referendo de 1988 no Chile, que decidiu pela fim do governo do ditador Pinochet e foi tema do filme "No", de Pablo Larrain. Para ganhar corpo, a campanha que queria dar um basta à ditadura precisou abandonar a estratégia inicialmente planejada de usar o espaço na TV para denunciar os crimes do regime.
Em vez disso, os consultores optaram por evitar temas "pesados", para não assustar ainda mais o eleitor, que poderia deixar de votar por medo, e levar ao ar uma campanha jovem, revigorada, descolada, com muita música, muitas cores, muita dança, skate, all star e refrigerantes. Venceram.
Guardadas as proporções amazônicas, tem sido mais ou menos assim a campanha de Edmilson Rodrigues. Do outro lado, claro, não está Pinochet, mas um candidato linha-dura apoiado por Jair Bolsonaro. Um fã de Pinochet. Coisas do Brasil 2020.
Eguchi até tenta, agora na reta final, levar alguma cor ao palanque. Na propaganda desta terça-feira (24), por exemplo, apostou em imagens aéreas dos cartões-postais da cidade e na promessa de gerar emprego e renda com a construção de uma via de acesso entre as ilhas de Belém e o centro da cidade.
Mas a estética é notadamente sombria, sisuda, com cintura presa e diversas imagens gravadas à noite, com fundo escurecido, forte discurso anticorrupção e apelo a Deus e família —aquele Deus e aquela família que vigiam e castigam os filhos que não se comportam.
Antes de encerrar o último programa, por exemplo, a campanha do delegado divulgou um comunicado, desses que parecem recall de automóvel, prometendo levar o adversário à polícia por divulgar supostas mentiras sobre sua campanha.
Ed, como é chamado, também fala de fé e já escalou ao menos um pastor para gravar um testemunho em seu apoio. Mas a fé de que fala é a fé no povo e na alegria de uma das capitais mais festivas do país.
Exemplo disso é o time de apoiadores do ex-prefeito, que contou, no último programa, com um depoimento da conterrânea Gaby Amarantos. Em sua fala, a cantora disse que foi na gestão de Edmilson Rodrigues, eleito em 1996 e reeleito em 2000, que viu chegar asfalto na periferia pela primeira vez.
Nas redes, além de memes (muitos) Edmilson já divulgou o apoio ainda de Caetano Veloso, Chico Buarque, Gregorio Duvivier, Lucélia Santos, Djamila Ribeiro, Fafá de Belém e grande elenco.
Em suas inserções, aparece sempre com uma camisa rosa e sorrindo em espaços abertos e iluminados. Costuma dizer que acesso a médicos, professores, água e esgoto não é questão de direita e esquerda, mas de direitos. E que, como sua experiência como prefeito e deputado, saberá onde buscar recursos para as obras prometidas para a cidade.
No fim, tem usado mensagem parecida com a do correligionário em São Paulo, Guilherme Boulos, outro candidato do PSOL com chances de vencer numa capital: o amor vai vencer o ódio.
Faltou cantar com o Gael Garcia Bernal (entendedores entenderão) que a alegria já vem. Em versão tecnomelody.
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