Reestreia na TV em SP tem homenagem a Marta, Erundina e Beijoqueiro
Vocês que são jovens talvez não saibam, mas houve um tempo em que ninguém passava imune aos afetos, digamos, exacerbados do comerciante e empresário português José Alves de Moura, mais conhecido como Beijoqueiro —ou serial kisser, para os íntimos. A ponto de as autoridades terem que tomar uma medida drástica durante a visita do papa João Paulo 2º ao país, em 1980: manter sua Santidade longe dos perdigotos pecaminosos do atrevido, que precisou ser detido no Rio enquanto o papa estivesse na cidade.
O Beijoqueiro seria preso outras vezes ao tentar se aproximar do sumo pontífice, que finalmente foi alvejado, com 17 beijos nos pés, em sua passagem por Manaus. O papa, Frank Sinatra, Romário e outras personalidades foram alvo do beijoqueiro serial. Luiza Erundina também não escapou. Pois nesta sexta-feira (20), Alves de Moura reapareceu ao grande público tascando um beijo na então prefeita paulistana durante a propaganda levada à TV pelo candidato Guilherme Boulos (PSOL).
Na estreia da segunda temporada da campanha, o candidato do PSOL apostou numa estética retrô para afastar as críticas de que não tinha experiência como gestor. Ele, de fato, pode não ter, mas sua vice, Luiza Erundina, tem. Foi o que a dupla tentou mostrar na primeira propaganda deste segundo turno, um latifúndio de cinco minutos com tempo de sobra para mostrar as realizações da companheira de chapa em sua passagem pela Prefeitura de São Paulo, na virada das décadas de 1980 e 1990.
E foi numa dessas imagens resgatadas daquele tempo que a figura lendária dos anos 80 reapareceu. Metade da propaganda do psolista foi para falar de sua vice, apresentada como "a melhor prefeita de São Paulo", "a que mais fez pela população da periferia". A propaganda citou a construção de seis hospitais, postos de saúde, aumento do salário de professores, os sacolões mais baratos, obras como o túnel do Anhangabaú e o retorno da F-1 para a capital paulista.
Por falar em corrida, Boulos levou à TV a sua versão particular do cavalinho do Fantástico, chamando os eleitores a deixarem os "tucaninhos" para trás. Boulos foi apresentado como alguém que trocou uma vida confortável para trabalhar pela periferia e defendeu uma política mais humanizada, sem ódio. Disse também que sua chegada ao segundo turno mostrava que os eleitores optaram pela mudança e não a continuidade do descaso.
Houve tempo para filosofar (algo como "em São Paulo é possível estar sozinho mesmo na multidão") e mostrar uma lista de personalidades que manifestaram apoio à sua candidatura, como Paulo Miklos e Wagner Moura.
Curiosidade: seu opositor, Bruno Covas (PSDB), também dedicou parte do tempo da propaganda para exaltar os feitos de uma ex-petista. No caso, Marta Suplicy, que deixou o PT em 2016, anunciou apoio ao atual prefeito e ganhou o crédito por ter levado os CEUs para a periferia. Uma cena impensável até pouco tempo.
Tanto Boulos quanto Covas direcionaram a mensagem da reestreia na TV para a população periférica. No Dia da Consciência Negra, o tucano lembrou que alguns dos Centros Educacionais Unificados da cidade levam o nome de pessoas negras. No programa, uma série de apoiadores negros diziam ver no atual prefeito um aliado. "Falar de racismo é fundamental", defendeu o tucano.
Covas ocupou o terreno do adversário em parte de sua fala, quando elencou a questão da moradia como tema central. Disse que essa preocupação vinha desde o governo de seu avô, Mário Covas, e mostrou a história de uma moradora da periferia que conseguiu um novo lar graças a um programa de moradia popular da gestão tucana.
No restante da propaganda, ele repetiu o que sua campanha já tinha levado à TV ao longo do primeiro turno, como o slogan "força, foco e fé", a menção aos esforços de combate à pandemia de covid-19 e a construção da imagem do bom pai.
Fora do trabalho, Covas surge agora em estilo mais despojado, camisa e jaqueta, ou andando de bike. Os figurões da política seguem ausentes da propaganda dos rivais até aqui. Com exceção das falas da população, Covas aparece praticamente sozinho durante todo o programa, em contraste com o do rival, que dividiu seu tempo de TV com sua vice e seus apoiadores. E, claro, com o lendário Beijoqueiro.
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