A 15 dias das eleições, 67% dos candidatos indígenas não receberam doações
A duas semanas das eleições municipais, 67% dos candidatos indígenas não receberam nenhuma doação —seja dos partidos, de outros candidatos ou de pessoas físicas. Os dados constam da última prestação de contas, divulgada na sexta-feira (30), pelo TSE (Tribunal Superior Eleitoral).
Neste ano, 2.107 indígenas foram considerados aptos a concorrer para os cargos de vereador, prefeito e vice-prefeito. Desses, 1.413 estão nesta situação de contas zeradas.
O estado do Amazonas encabeça a lista, com 438 candidatos sem doações —o que representa 91% do total de indígenas disputando um cargo. Na sequência, vem Mato Grosso do Sul, com 138 políticos (66%) sem recursos para a campanha. Em terceiro lugar, aparece Roraima, com 90 políticos indígenas sem doações (62,5%).
Na análise por partidos, o PT lidera com maior número de indígenas sem doações. São 144 pessoas, o que corresponde a 56% do total de candidatos desta etnia que disputam pela sigla. Entretanto, ao se considerar os outros partidos, o número de indígenas concorrendo pelo PT, corresponde a 10% do total.
O Progressistas aparece em segundo lugar, com 106 políticos indígenas com os bolsos vazios, o que corresponde a 70% do total do partido. Já o PSD vem na sequência, com 92 candidatos (68% do total da sigla).
Sem recursos, candidata aposta nas redes sociais
Para driblar a falta de recursos, os candidatos apostam todas as fichas nas redes sociais. É o caso de Márcia Vieira da Silva (PSOL), indígena que tenta uma vaga na Câmara de Vereadores de Belém. "Eu não recebi nenhuma doação de campanha. Eu sou a primeira candidata indígena a concorrer pelo PSOL, mas não estou tendo apoio", contou ao UOL.
Após dias com as contas zeradas, ela foi informada da liberação de R$ 48 mil do fundo partidário na semana passada. Porém, a informação ainda não consta no levantamento do TSE, no qual ela aparece sem doações.
É a primeira vez que Márcia disputa as eleições, atraída pela busca de representatividade indígena na política. Só em Belém há 5.000 indígenas, já na região metropolitana da capital paraense há 8.000.
"A gente não tem nenhum direito garantido. Toda vez que vai bater porta de um vereador eleito, leva chá de banco. O que me motivou a entrar na política foi entender que nós vivemos em uma sociedade em que o nosso saber é invisibilizado, nossos corpos, nossas lutas são invisibilizadas", contou.
83% receberam até 5.000
Mesmo entre os candidatos indígenas que receberam doações, a situação não é lá tão confortável. Dos 703 políticos da lista, 83% receberam até R$ 5.000 e outros 24% na faixa entre R$ 5.000 e R$ 50 mil.
A partir desse valor, o número de candidatos cai para uma casa decimal. Seis deles receberam acima de R$ 50 mil e até R$ 100 mil. Outros três captaram acima de R$ 100 mil e até R$ 200 mil.
Além deles, há uma pessoa que angariou R$ 210,7 mil. É a candidata a vereadora Juliana Cardoso (PT), que disputa um cargo na cidade de São Paulo. Do total, 50,6% do valor veio do Fundo Especial de Financiamento de Campanha, 15,2% do Fundo Partidário e 34,1% de outras fontes.
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