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Debate sem líderes nas pesquisas de SP tem ataques a Bolsonaro e Covas

Leonardo Martins

Colaboração para o UOL, em São Paulo

11/11/2020 22h53

O debate com cinco candidatos à Prefeitura de São Paulo na noite de hoje foi marcado por críticas ao presidente Jair Bolsonaro (sem partido) e ao atual prefeito Bruno Covas (PSDB), postulante à reeleição e primeiro colocado nas pesquisas de intenção de votos.

O UOL transmitiu o debate, em parceria com a TVT e a Rádio Brasil Atual. Participaram do evento Arthur do Val (Patriota), Jilmar Tatto (PT), Joice Hasselmann (PSL), Marina Helou (Rede) e Orlando Silva (PCdoB).

Foi um dos únicos debates, ao longo da campanha, que não contou com a participação dos quatro candidatos que aparecem nas primeiras colocações das pesquisas de intenção de votos. Covas, Celso Russomanno (Republicanos), Guilherme Boulos (PSOL) e Márcio França (PSB) foram convidados, mas não compareceram. O candidato Andrea Matarazzo (PSD) também não participou do evento.

O debate começou com apresentação dos candidatos, e todos destacaram suas experiências anteriores. No primeiro bloco, eles responderam a questões gerais, em duas rodadas.

Questionados sobre como devem se relacionar com os governos estadual e federal, os candidatos logo citaram Bolsonaro —e apenas Arthur do Val fugiu das críticas ao presidente.

Orlando Silva mencionou uma "atitude genocida" do governo federal no combate à pandemia do novo coronavírus, mas ressaltou que o prefeito de São Paulo deve se comportar como um líder político. "Nós temos que ter uma relação institucional com o governador e com o presidente da República. Eu, no Congresso Nacional, sou oposição ao governo de Jair Bolsonaro. Considero, inclusive, que ele tem tido uma atitude genocida diante da covid-19."

Helou disse que, se eleita, continuará sendo oposição ao governo federal —ela chamou Bolsonaro de misógino, racista, homofóbico e de "protagonista de muitos retrocessos na vida dos que mais precisam". "Um presidente irresponsável, que usa o cargo que ocupa de forma leviana, sem se preocupar com a vida das pessoas, só se preocupando com a vida da sua própria família".

Joice Hasselmann foi mais moderada, ressaltando que foi líder do governo na Câmara dos Deputados, que admira Jair Bolsonaro, mas se afastou após as denúncias de corrupção envolvendo os filhos do presidente. Apesar disso, a candidata do PSL disse que sua relação com os governos estadual e federal será "a mais republicana possível" e que não vai se apoiar em "questões ideológicas" nessas conversas.

"Quem me acompanha sabe que me afastei do governo Bolsonaro por conta das denúncias de corrupção envolvendo seus filhos. Quando o presidente colocou os filhos acima da nação", afirmou.

Tatto começou prometendo que vai garantir repasses dos cofres da União à Educação e Saúde, mas que vai montar uma "trincheira" contra o presidente. "Eu vou na cidade de São Paulo reorganizar uma verdadeira trincheira contra o Bolsonaro. Eu sou do "Fora, Bolsonaro". Esse presidente não tem conserto no Brasil. Não vamos dourar a pílula."

Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ) é acusado pelo Ministério Público do Rio de Janeiro de liderar um esquema de "rachadinhas" enquanto era deputado estadual fluminense. Ele nega.

Arthur do Val, o Mamãe falei, decidiu voltar as críticas aos adversários na disputa eleitoral —como fez ao longo de todo o debate—, dizendo que os candidatos "confundem o papel de um prefeito com opinião pessoal". Depois, concluiu criticando Boulos, França, Russomanno e Covas. Apesar das farpas, ele se colocou como um candidato que transita por todos os lados.

"Os candidatos aqui confundem o papel de prefeito com opinião pessoal. É muito triste até que outros candidatos que não vieram pro debate se apresentem como anti-A ou anti-B ou aliado de A, aliado de B. O líder de São Paulo não tem de usar a prefeitura como ferramenta de projeto político", afirmou.

Segurança e saúde

No segundo bloco, os candidatos responderam a perguntas de convidados sobre temas como segurança pública, saúde e mobilidade urbana. Neste trecho, apareceram mais críticas a Bruno Covas.

Questionado sobre o que um prefeito pode fazer para reduzir a letalidade policial nas periferias, Artur do Val criticou Covas por causa da proibição do "mata-leão" (em que o alvo é enforcado com os braços) por parte dos guardas civis e prometeu fortalecer a Guarda Civil Metropolitana, que não vai apenas proteger prédios públicos.

"O prefeito de São Paulo proibiu que o GCM se utilize de uma ferramenta que se chama mata-leão. É basicamente o que acontece quando a gente se baseia em ideologias e não em dados", disse.

Jilmar Tatto alfinetou o prefeito quando perguntado sobre como fortalecer o SUS (Sistema Único de Saúde). "Olha só o desleixo da prefeitura em relação a esses profissionais [de saúde]. A Prefeitura teve uma política de fazer os hospitais de campanha nas áreas ricas da cidade, abandonando a periferia", afirmou.

Indagada por uma convidada sobre como melhorar os índices de segurança na cidade, Hasselmann prometeu que "guarda civil vai estar na rua, vai estar armado" e afirmou que Covas errou em não investir em iluminação. "O centro da cidade, por exemplo, não traz segurança nenhuma. As pessoas têm medo. Ele foi abandonado, deixado às traças por esse prefeito, e o anterior, o anterior e o anterior."

Ela deixou claro, entretanto, que as polícias civil e militar são de responsabilidade do Estado e que ela vai manter as conversas abertas sobre esse tema.

Geração de empregos

Tatto fez uma única menção ao governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva quando foi questionado por Hasselmann sobre como gerar empregos. Nas últimas semanas, a campanha do petista intensificou as inserções do candidato ao lado de Lula nas propagandas eleitorais.

"Na época da crise de 2008, o governo Lula pôs o BNDES, a Caixa Econômica, o Banco do Brasil, as estatais, a Petrobras no sentido de alavancar a economia para fazer com que o Brasil gerasse muitos e muitos empregos e enfrentasse aquela crise. Com governo Bolsonaro e o governo Doria é o contrário, eles estão desmontando o Estado", disse o candidato.

Por causa da pandemia do novo coronavírus, não houve plateia presente. As regras de distanciamento foram respeitadas.