Diga-me qual é o seu pano de fundo, e eu lhe direi quem és.
Assim como boa parte dos eleitores, muitos candidatos das eleições de 2020 tiveram de recorrer ao home office para gravar sua propaganda para a TV. O registro da intimidade dos postulantes não é exatamente uma novidade, mas neste ano foi mais recorrente por conta das limitações causadas pela pandemia.
Ao trazerem os eleitores para casa, os candidatos, querendo ou não, deram elementos para conhecê-los mais a fundo —no caso, literalmente.
Dias atrás, Carlos Bolsonaro (PRB), vereador que tenta se reeleger no Rio, causou choque ao se sobressair diante de uma vasta biblioteca, em um vídeo de campanha. As imagens mostravam o filho 02 do presidente engajado em restabelecer algumas verdades sobre assuntos sérios, como a covid-19.
O detalhe, como definiu o colega Rodrigo Casarin, é que o cenário era tão verdadeiro quanto uma nota de R$ 89 mil. Sim, tratava-se de um fundo falso. E o fundo, como diria um teórico da comunicação, era em si a mensagem.
Mas nem tudo foi fundo falso na propaganda eleitoral.
Ainda no Rio, ao menos três candidatos à prefeitura posaram em ambientes domésticos para falar olho no olho com os espectadores.
Paulo Messina, o candidato do MDB escalado para desancar o descalabro das gestões dos antigos colegas do MDB, tentou mostrar seu lado família, com a companheira e os filhos no sofá de casa. Compunha a cena um aparador com dois porta-retratos. A mensagem de fundo era que Messina é gente como a gente. Ele, como os objetos da cena, fez apenas figuração na campanha.
Benedita da Silva, candidata do PT, gravou mensagem em frente a uma estante cruzada, com decoração minimalista, com alguns porta-retratos e troféus. Não é preciso entender nem de moda, nem de política e nem de design interiores para sacar que a estratégia era associar sua experiência à modernidade e ideias fora da caixa, ou da linha reta. Não ficou ruim.
Ninguém, porém, deu mais pano para lupas do que Eduardo Paes (DEM). Entre uma janela e uma estante, o ex-prefeito poderia fazer de seu home office um curta-metragem sobre os labirintos internos do poder. Na prateleira superior do móvel estava um livro sobre Jesus, fotos do Papa, do seu casamento, e dos filhos. Era o setor Deus e família.
Logo abaixo, um Cristo Redentor de braços abertos povoava a capa de um livro (ou pôster?), perto de uma chave da cidade, de uma tese sobre a fundação do município e de uma foto com o ex-presidente dos EUA Barack Obama. Era a área administrativa/relações internacionais da prateleira.
No andar inferior, à altura de uma peça de madeira escrita "RIO", em caixa alta, o ex-prefeito botou um bonsai, uma caricatura dele mesmo e outros livros. Um setor meio indefinido entre o ego, a natureza e a fanfarronice, talvez.
Em São Paulo, o atual prefeito, Bruno Covas (PSDB), fez questão de mostrar que mora em um pequeno apartamento de um bairro de classe média da capital. Um apartamento com sacada, TV, rack e mesa de jantar num mesmo ambiente, colado na cozinha, onde ele foi filmado procurando os talheres. Em contraste com o antecessor, dono de uma mansão nos Jardins e casarão em Campos do Jordão, o tucano, que passou a campanha tentando se afastar da imagem elitista colada ao partido, fazia o eleitor imaginar como é "simplão" o seu prefeito.
Quem também gravou boa parte da campanha de casa foi Major Denice, candidata a prefeita do PT em Salvador. Em casa, não: no quintal de casa, com jardim repleto de plantas, cores, mesa e aparador em estilo rústico, de madeira, com vasos, cesta de frutas, uma pequena garagem e paredes pintadas de vermelho.
Na terceira maior cidade do país, a casa de campo remetia a uma tarde em Itapuã e esteira de vime. Se estivesse em disputa, o prêmio de melhor cenário, ele iria para a casa da candidata petista, que passou a campanha tentando intercalar o lado major e o lado Denice.
Resta saber se o cenário ajuda a ganhar voto ou não.
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