Eleições municipais servem de alerta para esquerda, dizem analistas
Partidos de esquerda, em atuação mais isolada ou em meio a uma frente ampla de siglas, foram derrotados em disputas em capitais como Porto Alegre, São Paulo, Vitória e Recife no segundo turno das eleições municipais realizado hoje (29). Apesar das vitórias em Fortaleza e Belém, os resultados deste domingo ligam o sinal de alerta para o futuro.
Enquanto Guilherme Boulos (PSOL) saiu em alta mesmo com a derrota para Bruno Covas (PSDB) em São Paulo, as derrotas de Manuela D'Ávila (PCdoB), em Porto Alegre, e Marília Arraes (PT), em Recife, serão bastante sentidas pela possível frente ampla que pode ser montada para as eleições presidenciais de 2022.
O Partido dos Trabalhadores também perdeu em Vitória, com a derrota de João Coser para Delegado Pazolini (Republicanos).
Para os analistas do UOL, o PT saiu como derrotado nas eleições municipais, mas as frentes amplas podem ser uma alternativa para as próximas eleições. Reinaldo Azevedo vê a viabilidade, por exemplo, de uma aliança com Boulos para a disputa do governo estadual.
"Caso o PT mude a sua leitura da realidade e perceba a necessidade da renovação da esquerda, que não há mais chão de fábrica, que a classe operária agora são os meninos das entregas, o Uber, acho que o Boulos é um candidato importante para o governo de São Paulo, embora o interior seja um outro país", afirmou Reinaldo Azevedo, que entende que Boulos pode seguir trajetória parecida com a de Lula.
"Quantas vezes o Lula disputou a presidência antes de chegar lá? Hoje o Boulos entende a moderna perspectiva da esquerda, que o PT ainda não entendeu", disse.
Frentes amplas têm sucesso no Rio e em Porto Alegre
"A gente está vivendo a era das frentes amplas. Na transmissão do primeiro turno, o Reinaldo até falava sobre quem era de esquerda, quem era de direita, e a gente está vendo aí que as frentes amplas é que estão se movendo de acordo com a circunstância e a necessidade em vários estados. Aqui no Rio, por exemplo, a esquerda não conseguiu se unir para uma candidatura viável contra o Crivella e o Eduardo Paes, mas se uniu contra o Crivella e Bolsonaro, foi uma frente ampla aqui também", afirmou Chico Alves, colunista do UOL.
Já Tales Faria, também colunista do UOL, ficou surpreso com a derrota de Manuela para Sebastião Melo (MDB) na corrida pela prefeitura de Porto Alegre e apontou erros nas pesquisas nas capitais do Rio Grande do Sul e Recife. Além disso, ele viu uma união de partidos liberais contra a esquerda na capital gaúcha.
"Teve o Fortunati (José Fortunati, candidato do PTB que abriu mão da corrida), que já foi um prefeito do PT e que apoiou o candidato do MDB. Teve uma coisa curiosa que, enquanto no Rio de Janeiro teve a esquerda apoiando um candidato liberal para evitar uma figura mais conservadora, em Porto Alegre os liberais se juntaram contra a esquerda", analisou.
Reinaldo viu uma união de partidos em duas frentes amplas na disputa entre Covas e Boulos.
"São Paulo fez um ensaio de duas frentes, a de centro direita, que sempre disputou o segundo turno, contra uma frente de centro esquerda, que há muito tempo você não via, não com essas características. O Boulos conseguiu apoio do Lula, do Ciro e da Marina. A gente teve uma disputa em SP muito tradicional, embora o Boulos não seja do PT. Ele representa uma renovação da esquerda", analisou.
Já Josias de Souza acha improvável a repetição da frente de esquerda para as eleições presidenciais de 2022.
"O PT se deteriorou de tal forma que vai sendo aniquilado aos poucos, ou vai perdendo a hegemonia aos poucos, mas não havia uma alternativa, e o Guilherme Boulos representa, ou mostra pelo menos, que há vida fora dessa hegemonia petista. Se formou inclusive uma frente ou um embrião de uma frente de esquerda em torno do Guilherme Boulos que juntou aí o próprio Lula, o Ciro Gomes, a Marina Silva. Isso vai se repetir em 2022? É improvável."
PSOL protagonista na esquerda?
A deputada federal Sâmia Bomfim (PSOL) afirmou que ainda é cedo para cravar que o partido dela, que viu Boulos somar mais de dois milhões de votos no segundo turno, assumirá a liderança entre os partidos de esquerda.
"Acho que ainda não é possível dizer que o PSOL disputa a hegemonia da esquerda, mas sem dúvida o PSOL está em um outro patamar. Se ainda era considerado um partido pequeno, de parlamentares, hoje é visto, pelos partidos e pela sociedade, um partido com P maiúsculo, com projeto de poder, com lideranças à altura de disputar presidência e com capacidade de construir um leque de alianças que se confirmou agora no segundo turno", analisou.
O partido conquistou uma capital com a vitória de Edmilson Rodrigues sobre Delegado Eguchi (Patriota) em Belém, no Pará.
"Com uma capital como Belém, é uma boa oportunidade para o PSOL se apresentar em todo território nacional. Vamos ter uma prefeitura para mostrar o jeito PSOL de governar, com participação popular e voltada às necessidades da população", afirmou.
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