'Perdi as contas', diz 1ª vereadora negra eleita de Curitiba sobre ataques
Primeira mulher negra eleita para ocupar uma cadeira na Câmara Municipal de Curitiba, a professora Ana Carolina Dartora (PT) contou já ter perdido as contas de quantos ataques racistas sofreu desde o início de sua pré-candidatura.
Na semana passada, ela recebeu um e-mail com ameaças de morte. A mensagem continha seu endereço e a frase "meter uma bala na sua cara", além de ter sido chamada de "aberração". Na segunda-feira (7), fez um boletim de ocorrência sobre o caso no Núcleo de Combate aos Cibercrimes da Polícia Civil do Paraná.
"Eu perdi as contas (sobre quantos ataques racistas já sofreu). Desde o anúncio da eleição, desde a pré-campanha. A gente já sofreu muita coisa na internet mas nada tão objetivo como agora, coisas mais subjetivas. Do tipo: receber ligações de madrugada 'pedindo' para eu parar de falar sobre racismo. No Facebook era insuportável. A gente teve que ocultar muitos comentários, centenas deles", disse ela, em entrevista à revista Época.
No entanto, segundo ela, o e-mail recebido na última semana com a ameaça foi o mais agressivo. "Foi bem contundente, ameaça de morte, com o meu endereço. Foi bem assustador e realmente com muito ódio explícito, muita injúria racial no texto. É o primeiro que a gente leva para a justiça e faz boletim de ocorrência", explicou.
Duda Salabert (PDT), 1ª vereadora trans eleita em Belo Horizonte, e Ana Lúcia Martins (PT), primeira negra da história da Câmara Municipal de Joinville (SC), também receberam ameaças de morte. Questionada se se trata da mesma pessoa que a ameaçou, Carol respondeu:
Com qual hipótese se trabalha sobre o criminoso? As outras vereadoras eleitas tanto em Joinville quanto em BH receberam a mensagem com a mesma estrutura de texto, e a mesma pessoa assinando. E aí, segundo as investigações que elas já vinham fazendo, tudo indica que é um ataque orquestrado de uma célula neonazista que não começou a agir agora, mas que já vem agindo há um bom tempo
A vereadora eleita lembrou que teve "uma infância carregada de situações racistas".
"Passei por várias injúrias raciais ainda na escola. As mesmas que colocaram no e-mail de ameaça de morte foram as que eu cresci ouvindo na escola. Mas acredito que, especialmente em Curitiba, existe algo mais grave ainda, que é a cidade nos invisibilizar. De construir a ideia de que é uma cidade branca, rica, e invisibilizar a pobreza, a população negra, as desigualdades", analisou.
Ela disse esperar fazer "um mandato participativo, coletivo, representativo" e corresponder a todos que votaram nela.
"Que a gente possa transformar esse discurso, efetivar em políticas públicas para a cidade. Esse é o meu maior desejo."
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