Aos 78, padre com 3 mandatos de prefeito vai governar Alcântara (MA)
Aos 78 anos, o presbítero William Guimarães da Silva (PL), eleito em Alcântara com 7.874 votos (60,29%), é um caso raro na política. Foi prefeito em mais duas cidades maranhenses: Santa Helena (1989-1992) e Guimarães (2005-2012). Alcântara é uma base de lançamento de foguetes da Força Aérea Brasileira.
Em setembro de 2020, quando registrou a candidatura em Alcântara, foi impugnado. A denúncia, acatada pelo Ministério Público Eleitoral (MPE), configurava o impedimento por improbidade administrativa durante a gestão em Guimarães.
A impugnação foi contestada e ele disputou a eleição. Vitorioso nas urnas, o padre foi obstruído em uma decisão TRE-MA. Por 6 votos a 0, os desembargadores declararam a candidatura indeferida, mas o mesmo tribunal reverteu a decisão uma semana depois.
Nas cidades onde foi pároco e gestor, William Silva tem fama de pragmático. "Não sou propagandista das correntes partidárias. Eu recorro a quem pode me ajudar, tanto que não fico preso a um deputado estadual ou federal. Sou mais um amigo daquele agente político", ressaltou.
Sua vitória em Alcântara reuniu PL, PROS, Avante e PT na coligação "Rumo a novas conquistas": Entre os apoiadores, consta o deputado federal Josimar de Maranhãozinho (PL), alvo de uma operação da Polícia Federal que investiga o desvio de emendas parlamentares.
"Nós somos correligionários. Eu sou filiado há seis anos ao PL. Ele [Josimar de Maranhãozinho] veio aqui no dia da convenção, fez um discurso, o povo acreditou no que ele falou e vem desde 2013 acreditando nas minhas palavras e me deu 60% de aprovação", justificou.
Herança e quilombolas
Na troca de comando, o religioso católico vai receber a faixa de prefeito do comunista Anderson Wilker (PCdoB), candidato à reeleição com 4.372 votos (33,48%). Quando tomar posse em 1º de janeiro de 2021 o padre enfrentará questões como o fato de Alcântara não ter matadouro público, rodoviária nem aeroporto. O hospital, sem UTI, passou por obras recentemente e é alvo de reclamações da população.
De acordo com a secretaria estadual de Saúde, Alcântara registrou 202 diagnósticos e oito óbitos por covid-19 até hoje.
O abastecimento de água potável, as estradas rurais, o transporte marítimo para São Luís, iluminação e limpeza públicas, segurança, infraestrutura e a Previdência Municipal estão nas prioridades do prefeito diplomado.
Ele ainda vai administrar uma eventual segunda onda de remoção dos quilombolas, arrolados no Acordo de Salvaguardas Tecnológicas (AST) assinado entre o Brasil e os Estados Unidos.
"Estamos buscando entendimento com a Base Espacial para que não aconteça o que ocorreu há 35 anos. Na época, prometeram uma remoção digna e até hoje nada. Quanto aos que ainda permanecem nos povoados, nós queremos evitar o choque e garantir que a remoção aconteça em condições humanas", advertiu.
Expectativas, gerações e mulheres
Helena Cristina Martins, 41 anos, tem três filhos. Ela e o marido estão desempregados. "O município em geral está precisando de tudo. Foi inaugurado o hospital, mas falta ainda muita coisa. Eu gostaria que fosse feito um concurso público para ter oportunidade, mesmo que seja para gari", pontuou.
O orçamento geral do município em 2020 operou com receita de R$ 72.347.365,00. De acordo com o Plano Plurianual (2018-2021), a previsão do Tesouro Municipal para 2021 é de R$ 73.613.444,00.
O IBGE estima a população em 22.112 habitantes, distribuídos entre a sede e 204 povoados, dos quais 60 são comunidades quilombolas. Apenas 6,5% dos domicílios têm esgotamento sanitário e a taxa de mortalidade infantil média é de 4.37 para 1.000 nascidos vivos.
O cozinheiro Vinícius Menezes Maciel, 31 anos, vê no turismo o principal ativo da economia local. "Aqui tem o potencial de Olinda e Ouro Preto, só que a cidade está largada às traças", resumiu.
O taxista Kleber Ribeiro, 41 anos, quer melhorias na saúde. "Espero que o prefeito faça um bom mandato. A gente vai no hospital e não tem nada. Está construído, mas o telhado está horrível e o serviço foi mal feito", apontou.
Uma novidade nos próximos quatro anos é uma sutil melhora na representação no parlamento. Das 11 cadeiras na Câmara Municipal, duas serão ocupadas por mulheres. Na legislatura anterior todas as vagas foram dos homens. A vereadora eleita Menca Pinho, 42 anos, obteve 337 votos (2,58%) e pautou a campanha no protagonismo feminino.
A eleição também foi marcada por um encontro de gerações. O vereador eleito Robson Corvelo, 39 anos, quando criança foi coroinha na igreja administrada pelo então pároco William Silva e disputou agora na coligação adversária. "Apesar das diferenças políticas, não me taxo como oposição ao padre William e vou atuar na Câmara ao lado do povo", esclareceu
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