Carlos Madeiro

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Reportagem

Prefeito foragido que mandou filho à diplomação tem mandato cassado no CE

O prefeito afastado e foragido do município de Choró (CE), Bebeto Queiroz (PSB), teve o mandato cassado por abuso de poder econômico e compra de votos nas eleições de 2024. Seu vice, Bruno Jucá Bandeira (PRD), também perdeu o cargo.

Bebeto está foragido desde o dia 5 dezembro, quando policiais federais tentaram cumprir ordem de prisão, sem sucesso. Ele foi diplomado por procuração, enviando o seu filho para a solenidade, mas acabou impedido, por decisão judicial, de tomar posse em 1º de janeiro. Um vereador assumiu e está na prefeitura interinamente.

A decisão da cassação da chapa é do juiz Welithon Alves de Mesquita, da 6ª Zona Eleitoral do Ceará, que determinou a realização de novas eleições municipais. A sentença foi assinada ontem, e cabe recurso das partes ao TRE (Tribunal Regional Eleitoral).

O juiz aplicou ainda uma multa de R$ 53.205 a ser paga pelo prefeito e vice cassados e determinou a inelegibilidade deles por oito anos a partir das eleições municipais de 2024.

Procurada, a defesa de Bebeto falou que não comenta estratégias de processo em andamento.

Bebeto teve 61,1% dos votos válidos (5.971) em 6 de outubro, quando venceu o Professor Antonio Delmiro (PT), que teve 3.801 votos (38,9% do total válido).

Paulo George Saraiva (PSB) leu decisão judicial que afastou Bebeto e assumiu prefeitura de Choró interinamente
Paulo George Saraiva (PSB) leu decisão judicial que afastou Bebeto e assumiu prefeitura de Choró interinamente Imagem: Reprodução

Acusações contra o prefeito

Segundo a decisão, houve utilização desproporcional de recursos financeiros, bens públicos e práticas vedadas pela legislação eleitoral, com o objetivo de "desequilibrar a isonomia do pleito e comprometer a liberdade de escolha dos eleitores".

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A alegação de abuso de poder econômico aponta que havia um suposto esquema de compra de votos coordenado por Bebeto, que seria financiado por recursos ilícitos. Investigações policiais sugeriram o desvio de recursos de contratos públicos para financiar a campanha eleitoral.

As provas revelam um sofisticado esquema de corrupção eleitoral, articulado por Carlos Alberto Queiroz Pereira [Bebeto Queiroz], com atuação não apenas no município de Choró, mas também em Canindé e Fortaleza.
Sentença de Welithon Alves de Mesquita

O magistrado cita que a investigação confirmou transferências bancárias de R$ 200 a R$ 600 para eleitores de Choró, "com referência explícita ao título eleitoral, além da atuação de empresas contratadas por prefeituras para desvio de verbas públicas".

Em um dos episódios, foi apreendida a quantia de R$ 599.407,00 em espécie com um aliado do grupo. A centralidade de Carlos Alberto [Bebeto] na estrutura criminosa é reforçada pelo envolvimento direto de sua irmã, responsável pela logística dos repasses, e por seu sobrinho, que também movimentou valores expressivos oriundos das empresas do grupo.
Sentença de Welithon Alves de Mesquita

Bebeto e o seu vice eleito, Bruno Jucá
Bebeto e o seu vice eleito, Bruno Jucá Imagem: Reprodução/Instagram

A ação foi movida pela coligação adversária e referendada pelo Ministério Público Eleitoral. A denúncia alega ainda que houve:

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  • Perfuração de um poço na comunidade de Riachão em troca de apoio político;
  • Distribuição de água, refrigerantes e bebidas alcoólicas em evento eleitoral promovido pelos então candidatos.

Por fim, o magistrado ainda lembra que o prefeito está foragido e é suspeito de "crimes graves" investigados em outras ações.

Não se pode admitir que indivíduos investigados por crimes tão graves, com mandados de prisão preventiva em aberto, venham a exercer funções de comando político-administrativo, subvertendo o ordenamento jurídico e aviltando os princípios que regem o Estado Democrático de Direito.
Sentença de Welithon Alves de Mesquita

Celular jogado em espelho d'água

Imagem do celular arremessado por Bebeto durante abordagem da PF
Imagem do celular arremessado por Bebeto durante abordagem da PF Imagem: Reprodução/PF

No dia que foi alvo de uma operação da PF (Polícia Federal), Bebeto jogou o aparelho — um iPhone 15 Pro Max que custa ao menos R$ 5,4 mil — em um espelho d'água de um prédio de luxo na orla de Fortaleza, onde fazia caminhada no início da manhã, em 4 de outubro de 2024. Naquele dia, a PF cumpria mandado de busca e apreensão, e o celular virou uma prova contra ele.

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"A ação foi prontamente observada pelos policiais, que recuperaram o dispositivo", diz o relatório.

Para juntar ao processo, a PF requisitou vídeos de câmeras de vigilância de prédios vizinhos que mostraram o prefeito jogando o aparelho. As imagens constam no relatório da operação.

A conduta do investigado Carlos Alberto, ao tentar se desfazer de seu aparelho celular, demonstra indícios de tentativa de ocultação de prova, agravada pela recusa em fornecer a senha de acesso. A apreensão dos itens mencionados será encaminhada para análise detalhada e juntada aos autos para as providências cabíveis.
PF

O que tinha no celular

Em outro relatório, de 18 de novembro de 2024, a PF transcreve diversos diálogos de Bebeto, que foram usados como argumento na Justiça para pedir a prisão do prefeito.

Os diálogos, ressalta a PF na conclusão do relatório, são "apenas uma amostra e estão longe de exaurir todo o conteúdo de dados que foram extraídos do celular do investigado".

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Há no relatório mensagens, áudios e diversos comprovantes de transferências. Segundo a PF, o prefeito estava à frente de várias conversas e acertos para compra de apoio e votos.

Reprodução de conversas no relatório da PF
Reprodução de conversas no relatório da PF Imagem: Reprodução/PF

Toda investigação da PF começou no final de setembro, após a então prefeita de Canindé, Rozário Ximenes (Republicanos), apresentar denúncia ao MPCE (Ministério Público do Ceará) de ameaças e desvio de verbas em cidades do estado.

Com base nas informações apuradas, a PF concluiu que Bebeto era chefe de um "esquema estruturado e hierarquizado que envolve o estabelecimento de empresas conduzidas por laranjas, ocultação de valores e compra de votos".

Além de liderar o esquema criminoso, [Bebeto] é identificado como o principal decisor das operações, atuando diretamente em diversos diálogos com eleitores de Choró e Canindé, onde promete benefícios financeiros e, em algumas situações, realiza o envio de recursos de origem ilícita.
PF

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Texto que relata acontecimentos, baseado em fatos e dados observados ou verificados diretamente pelo jornalista ou obtidos pelo acesso a fontes jornalísticas reconhecidas e confiáveis.

1 comentário

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Jane Tadeu da Silva

Ufa, sera mesmo preso, ou vai aparecer um atravessador e o tira disso tudo, ainda mais quando se tem muito dinheiro, mas isso é rotina no Brasil, é dificil pega-los e quando pega por problema politico o qual partido pertence o acusado, vem la as falas em defesa do meliante e passam pano pro caso dele.

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