Prefeito foragido que mandou filho à diplomação tem mandato cassado no CE
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O prefeito afastado e foragido do município de Choró (CE), Bebeto Queiroz (PSB), teve o mandato cassado por abuso de poder econômico e compra de votos nas eleições de 2024. Seu vice, Bruno Jucá Bandeira (PRD), também perdeu o cargo.
Bebeto está foragido desde o dia 5 dezembro, quando policiais federais tentaram cumprir ordem de prisão, sem sucesso. Ele foi diplomado por procuração, enviando o seu filho para a solenidade, mas acabou impedido, por decisão judicial, de tomar posse em 1º de janeiro. Um vereador assumiu e está na prefeitura interinamente.
A decisão da cassação da chapa é do juiz Welithon Alves de Mesquita, da 6ª Zona Eleitoral do Ceará, que determinou a realização de novas eleições municipais. A sentença foi assinada ontem, e cabe recurso das partes ao TRE (Tribunal Regional Eleitoral).
O juiz aplicou ainda uma multa de R$ 53.205 a ser paga pelo prefeito e vice cassados e determinou a inelegibilidade deles por oito anos a partir das eleições municipais de 2024.
Procurada, a defesa de Bebeto falou que não comenta estratégias de processo em andamento.
Bebeto teve 61,1% dos votos válidos (5.971) em 6 de outubro, quando venceu o Professor Antonio Delmiro (PT), que teve 3.801 votos (38,9% do total válido).

Acusações contra o prefeito
Segundo a decisão, houve utilização desproporcional de recursos financeiros, bens públicos e práticas vedadas pela legislação eleitoral, com o objetivo de "desequilibrar a isonomia do pleito e comprometer a liberdade de escolha dos eleitores".
A alegação de abuso de poder econômico aponta que havia um suposto esquema de compra de votos coordenado por Bebeto, que seria financiado por recursos ilícitos. Investigações policiais sugeriram o desvio de recursos de contratos públicos para financiar a campanha eleitoral.
As provas revelam um sofisticado esquema de corrupção eleitoral, articulado por Carlos Alberto Queiroz Pereira [Bebeto Queiroz], com atuação não apenas no município de Choró, mas também em Canindé e Fortaleza.
Sentença de Welithon Alves de Mesquita
O magistrado cita que a investigação confirmou transferências bancárias de R$ 200 a R$ 600 para eleitores de Choró, "com referência explícita ao título eleitoral, além da atuação de empresas contratadas por prefeituras para desvio de verbas públicas".
Em um dos episódios, foi apreendida a quantia de R$ 599.407,00 em espécie com um aliado do grupo. A centralidade de Carlos Alberto [Bebeto] na estrutura criminosa é reforçada pelo envolvimento direto de sua irmã, responsável pela logística dos repasses, e por seu sobrinho, que também movimentou valores expressivos oriundos das empresas do grupo.
Sentença de Welithon Alves de Mesquita

A ação foi movida pela coligação adversária e referendada pelo Ministério Público Eleitoral. A denúncia alega ainda que houve:
- Perfuração de um poço na comunidade de Riachão em troca de apoio político;
- Distribuição de água, refrigerantes e bebidas alcoólicas em evento eleitoral promovido pelos então candidatos.
Por fim, o magistrado ainda lembra que o prefeito está foragido e é suspeito de "crimes graves" investigados em outras ações.
Não se pode admitir que indivíduos investigados por crimes tão graves, com mandados de prisão preventiva em aberto, venham a exercer funções de comando político-administrativo, subvertendo o ordenamento jurídico e aviltando os princípios que regem o Estado Democrático de Direito.
Sentença de Welithon Alves de Mesquita
Celular jogado em espelho d'água

No dia que foi alvo de uma operação da PF (Polícia Federal), Bebeto jogou o aparelho — um iPhone 15 Pro Max que custa ao menos R$ 5,4 mil — em um espelho d'água de um prédio de luxo na orla de Fortaleza, onde fazia caminhada no início da manhã, em 4 de outubro de 2024. Naquele dia, a PF cumpria mandado de busca e apreensão, e o celular virou uma prova contra ele.
"A ação foi prontamente observada pelos policiais, que recuperaram o dispositivo", diz o relatório.
Para juntar ao processo, a PF requisitou vídeos de câmeras de vigilância de prédios vizinhos que mostraram o prefeito jogando o aparelho. As imagens constam no relatório da operação.
A conduta do investigado Carlos Alberto, ao tentar se desfazer de seu aparelho celular, demonstra indícios de tentativa de ocultação de prova, agravada pela recusa em fornecer a senha de acesso. A apreensão dos itens mencionados será encaminhada para análise detalhada e juntada aos autos para as providências cabíveis.
PF
O que tinha no celular
Em outro relatório, de 18 de novembro de 2024, a PF transcreve diversos diálogos de Bebeto, que foram usados como argumento na Justiça para pedir a prisão do prefeito.
Os diálogos, ressalta a PF na conclusão do relatório, são "apenas uma amostra e estão longe de exaurir todo o conteúdo de dados que foram extraídos do celular do investigado".
Há no relatório mensagens, áudios e diversos comprovantes de transferências. Segundo a PF, o prefeito estava à frente de várias conversas e acertos para compra de apoio e votos.

Toda investigação da PF começou no final de setembro, após a então prefeita de Canindé, Rozário Ximenes (Republicanos), apresentar denúncia ao MPCE (Ministério Público do Ceará) de ameaças e desvio de verbas em cidades do estado.
Com base nas informações apuradas, a PF concluiu que Bebeto era chefe de um "esquema estruturado e hierarquizado que envolve o estabelecimento de empresas conduzidas por laranjas, ocultação de valores e compra de votos".
Além de liderar o esquema criminoso, [Bebeto] é identificado como o principal decisor das operações, atuando diretamente em diversos diálogos com eleitores de Choró e Canindé, onde promete benefícios financeiros e, em algumas situações, realiza o envio de recursos de origem ilícita.
PF
1 comentário
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Jane Tadeu da Silva
Ufa, sera mesmo preso, ou vai aparecer um atravessador e o tira disso tudo, ainda mais quando se tem muito dinheiro, mas isso é rotina no Brasil, é dificil pega-los e quando pega por problema politico o qual partido pertence o acusado, vem la as falas em defesa do meliante e passam pano pro caso dele.