Puxadas por partido de Bolsonaro, candidaturas de PMs batem recorde em 2022
Com atuação política crescente nos últimos anos, policiais militares terão presença recorde nas urnas em 2022. Segundo os dados oficiais do TSE (Tribunal Superior Eleitoral), 822 candidatos se registraram como PMs para concorrer em outubro. A marca é 36,3% maior do que 2018, quando houve 603 nomes, e mais que o dobro de vinte anos atrás, quando 375 militares estaduais concorreram.
Os números mostram que partidos alinhados ao presidente Jair Bolsonaro (PL) são os que mais têm candidatos PMs em suas fileiras. A sigla do presidente lidera a lista, com 94 nomes, e legendas como Patriota e PRTB, quase inexistentes no Congresso, aparecem entre as primeiras colocadas. Já o PT, do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, inscreveu apenas um candidato como policial militar em todo o país.
Quantos PMs serão candidatos em 2022? Com o fim do prazo de registro das candidaturas, às 19h da última segunda-feira (15), 822 pessoas haviam informado a profissão "Policial Militar" em suas inscrições. O número ainda não é definitivo, porque ainda caberá ao TSE homologar ou não os pedidos.
O número total, no entanto, é ainda maior. Além de 118 bombeiros militares, que fazem parte das corporações, o UOL identificou 51 políticos que são oriundos da PM, mas informaram ao TSE os cargos eletivos que ocupam. São nomes como o líder da bancada da bala na Câmara, deputado Capitão Augusto (PL-SP), e de parlamentares bolsonaristas como Major Fabiana (PL-RJ) e Coronel Chrisóstomo (PL-RO).
Há ainda um grupo de policiais que colocaram suas patentes no nome de urna, mas se registraram no TSE como "servidor público estadual" ou informaram profissões secundárias, como advogado, empresário ou "outros". Segundo o FBSP (Fórum Brasileiro de Segurança Pública), há 449 agentes de segurança pública nessa situação, contando a PM e as demais polícias.
Qual foi o crescimento das candidaturas de PMs? O número de candidatos inscritos como Policial Militar mais do que dobrou nos últimos anos. Na eleição presidencial de 2002, a primeira em que esse dado está disponível no TSE, houve 375 registros de PMs inscritos, contra 822 duas décadas mais tarde.
Os números do TSE revelam outro dado que indica o aumento da representatividade da PM. Em 2018, a profissão de policial militar foi a 11ª mais comum entre os candidatos registrados. Quatro anos depois, o total de PMs saltou para quinto lugar na lista, ultrapassando ofícios como médico, comerciante, administrador e professor de Ensino Médio.
Por que houve esse aumento? Para o FBSP, uma explicação para estes números é o fato de que policiais não precisam abrir mão de suas carreiras para lançar candidaturas, ao contrário de juízes e procuradores.
Não é novidade a candidatura de policiais com pautas corporativistas, como ocorre em outras categorias. O que mudou recentemente foi o discurso radicalizado de muitos dos eleitos
Renato Sérgio Lima, diretor do FBSP
A psicóloga e policial militar Denice Santiago, que concorrerá a uma vaga na Câmara com o nome de urna Major Denice (PT-BA), avalia que os militares estaduais têm demonstrado interesse crescente pela política, o que estaria sendo refletido nas urnas.
"Os policiais militares são trabalhadores e trabalhadoras, e começaram a se perceber enquanto uma categoria que precisa de representatividade. Nossa legislação veta o debate político partidário, mas isso não significa que somos alienados ao processo", observa.
Qual é o perfil dos candidatos? A lista de PMs que disputarão cargos em 2022 é dominada por partidos alinhados a Bolsonaro. O PL, sigla do presidente, encabeça a lista com 94 registros. Em seguida vem o PTB, partido do presidenciável e ex-deputado federal Roberto Jefferson, com 60 nomes, seguido de União Brasil e Republicanos (53 cada), Patriota (52) e PRTB (44).
O diretor do FBSP, Renato Sérgio de Lima, crê que a identificação com o bolsonarismo nasceu da negligência de presidentes anteriores com o tema.
Desde a redemocratização, presidentes costumavam se esquivar de perguntas sobre segurança pública afirmando que isso era assunto dos governos estaduais. Quando Bolsonaro surgiu e assumiu isso como uma questão dele, capturou a pauta
Renato Sérgio de Lima, diretor do FBSP
O que significa o domínio bolsonarista? Durante o governo Bolsonaro, surgiram movimentos contrários ao discurso governista. É o caso dos policiais antifascismo, que reúne dezenas de agentes de forças segurança federais, estaduais e municipais.
As candidaturas de partidos de esquerda, no entanto, ainda são minoritárias: em 2022, apenas um nome do PT se registrou como policial militar. O PSB apresentou 10 nomes, o PDT lançou 9, a Rede concorre com 5 e o PSOL com 4 candidatos.
Para Major Denice, contudo, a predominância de candidatos de direita não reflete o mesmo predomínio dessas forças na base da PM. "Eu vejo que existe um projeto de marketing muito forte que busca atrelar certas agendas a todos os policiais militares. A maioria dos policiais são mulheres e homens de bem, que querem defender a sociedade e cuidar das pessoas", sustenta.
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