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Site: Empresários bolsonaristas defendem golpe em caso de vitória de Lula

Do UOL, em São Paulo

17/08/2022 20h43Atualizada em 22/08/2022 08h02

Uma reportagem publicada pelo site Metrópoles divulgou mensagens compartilhadas por empresários bolsonaristas em um grupo de WhatsApp defendendo um golpe de Estado caso Luiz Inácio Lula da Silva (PT) seja eleito no pleito de outubro de 2022.

De acordo com Guilherme Amado, colunista do site que publicou a notícia, as declarações foram escritas no grupo chamado Empresários & Política, criado em 2021. Além de ameaçar um golpe, os empresários atacam frequentemente instituições brasileiras como o STF (Supremo Tribunal Federal), o TSE (Tribunal Superior Eleitoral) e opositores da gestão do presidente Jair Bolsonaro (PL).

Entre os nomes do grupo estão Luciano Hang, dono da Havan; Afrânio Barreira, do Grupo Coco Bambu; José Isaac Peres, dono da administradora de shoppings Multiplan; José Koury, dono do Barra World Shopping, no Rio de Janeiro; Ivan Wrobel, da construtora W3 Engenharia; e Marco Aurélio Raymundo, o Morongo, dono da marca Mormaii.

Apoio a um golpe de Estado

A reportagem mostrou que José Koury, dono do shopping Barra World, no Rio de Janeiro, declarou preferir uma "ruptura" do que o retorno de petistas ao Palácio do Planalto. Segundo o empresário, se o Brasil voltasse a ser governado por uma ditadura militar, o país seguiria recebendo investimentos externos.

Prefiro golpe do que a volta do PT. Um milhão de vezes. E com certeza ninguém vai deixar de fazer negócios com o Brasil. Como fazem com várias ditaduras pelo mundo."
José Koury, dono do shopping Barra World

A mensagem de Koury foi uma resposta à discussão iniciada pela postagem de Ivan Wrobel, dono da W3 Engenharia, construtora de imóveis de alto padrão, atuante na zona sul do Rio de Janeiro.

Na sequência, Marco Aurélio Raymundo, conhecido como Morongo, que é médico e dono da empresa de roupas e itens de surfe Mormaii, respondeu às mensagens de Koury:

  • Golpe foi soltar o presidiário
  • Golpe é o "supremo" agir fora da constituição
  • Golpe é a velha mídia só falar merd*
Afrânio Barreira, do Grupo Coco Bambu, com o presidente Jair Bolsonaro em agosto de 2020 - Divulgação/Isac Nóbrega - Divulgação/Isac Nóbrega
Afrânio Barreira, do Grupo Coco Bambu, com o presidente Jair Bolsonaro em agosto de 2020
Imagem: Divulgação/Isac Nóbrega

Afrânio Barreira, dono do Grupo Coco Bambu, defensor do presidente Bolsonaro publicamente, comentou a mensagem de Koury com uma figurinha de um homem dando "joinha".

No mesmo dia, o empresário André Tissot, do Grupo Sierra, empresa que fabrica móveis de luxo, declarou:

  • O golpe teria que ter acontecido nos primeiros dias de governo.
  • [Em] 2019 teríamos ganhado outros 10 anos a mais.

Radicalismo em mensagens anteriores

Em 17 de maio, Morongo, tido como um dos mais extremistas do grupo, segundo o site, sugeriu ações extremistas para defender o presidente e citou a Revolução Francesa e a Guerra Civil dos Estados Unidos.

Se for vencedor o lado que defendemos, o sangue das vítimas se tornam [sic] sangue de heróis! A espécie humana SEMPRE foi muito violenta. Os 'bonzinhos' sempre foram dominados? É uma utopia pensar que sempre as coisas se resolvem 'na boa'. Queremos todos a paz, a harmonia e mãos dadas num mesmo objetivo? masssss [sic] quando o mínimo das regras que nos foram impostas são chutadas para escanteio, aí passa a valer sem a mediação de um juiz. Uma pena, mas somente o tempo nos dirá se voltamos a jogar o jogo justo ou [se] vai valer pontapé no saco e dedo no olho.

No entanto, em 31 de maio, Morongo mudou um pouco o discurso após Koury sugerir o pagamento de um "bônus" para funcionários que votassem seguindo os seus interesses.

Alguém aqui no grupo deu uma ótima ideia, mas temos que ver se não é proibido. Dar um bônus em dinheiro ou um prêmio legal pra todos os funcionários das nossas empresas. José Koury, dono do shopping Barra World

Morongo respondeu: "Acho que seria compra de votos? complicado".

Ataques ao STF, às urnas e a Alexandre de Moraes

Sem provas, os empresários atacam as urnas e o sistema de votação eletrônico. O presidente do TSE (Tribunal Superior Eleitoral), o ministro Alexandre de Moraes, também é alvo constante dos ataques no grupo.

Meyer Nigri, fundador da Tecnisa e empreiteiro, encaminhou uma mensagem em oito de agosto com ataques à Suprema Corte. O texto, que não foi escrito por ele, tinha a chamada de "leitura obrigatória" e iniciava a mensagem com a frase: "O STF será o responsável por uma guerra civil no Brasil".

Já o empresário José Isaac Peres, acionista majoritário da Multiplan, administradora de diversos shoppings no Brasil, criticou as pesquisas eleitorais e as classificou como "manipuladas".

O TSE é uma costela do Supremo, que tem 10 ministros petistas. Bolsonaro ganha nos votos, mas pode perder nas urnas. Até agora, milhões de votos anulados nas últimas eleições correm em segredo de Justiça. Não houve explicação. José Isaac Peres

Um texto encaminhado por Meyer Nigri ao grupo no dia 21 de julho divulgou apoio a uma "contagem paralela" de votos nas eleições feita por uma comissão externa. Outra mensagem compartilhada pelo fundador da Tecnisa, em 26 de junho, acusava o ministro Luís Roberto Barroso, do STF, de "interferir" no pleito deste ano ao "mentir" sobre o voto impresso, pauta já derrotada pelo Congresso Nacional em 2021.

Desde que as urnas eletrônicas foram implementadas — parcialmente em 1996 e 1998, e integralmente a partir de 2000 — nunca houve comprovação de fraude nas eleições brasileiras, mesmo quando os resultados foram contestados. A segurança da votação é constatada pelo TSE, pelo MPE e por estudos independentes.

Em outro momento do grupo, Luciano Hang, dono das redes Havan e apoiador de Bolsonaro, declarou que após a reeleição do presidente no pleito deste ano, o ex-ministro da Infraestrutura Tarcísio de Freitas (Republicanos), que disputa hoje o governo de São Paulo, deveria ser eleito ao Planalto em 2026 e ser reeleito posteriormente.

"Aí não terá mais espaço para os vagabundos", acrescentou.

O que dizem os empresários citados

Ao UOL, a Tecnisa, associada a Meyer Nigri, disse que "é uma empresa apartidária, que defende os valores democráticos e cujos posicionamentos institucionais se restringem à sua atuação empresarial".

Ao ser questionado, Luciano Hang respondeu ao UOL: "Vejo que meu nome vende jornal e gera cliques. Me envolvem em toda polêmica possível, mesmo eu não tendo nada a ver com a história. Em momento nenhum falei sobre os Poderes. Inclusive, quase nunca me manifesto nesse grupo. Sou pela democracia, liberdade, ordem e progresso".

À reportagem do Metrópoles, José Koury declarou inicialmente não apoiar um golpe, mas voltou a afirmar que "talvez preferiria" a ruptura ao retorno do PT.

"Vivemos numa democracia e posso manifestar minha opinião com toda liberdade. Não disse que defendo um golpe de Estado, e sim que talvez preferiria isso a uma volta do PT. Para mim, a volta do PT será um retrocesso enorme para a economia do país", completou.

Já Morongo, dono da Mormaii, disse que não vai apoiar atos "ilegítimos, ilegais ou violentos". "Sem acesso ao conteúdo ou à matéria que referes, informo que não apoiei, não apoio e não apoiarei qualquer ato ilegítimo, ilegal ou violento, e destaco que uso de figuras de linguagem que não representam a conotação sugerida."

Apesar de ter enviado uma figurinha de "joinha" na mensagem de Koury sobre preferir um golpe, Afrânio Barreira, do Coco Bambu, afirmou nunca ter se manifestado a favor de condutas não democráticas.

"Nunca me manifestei a favor de qualquer conduta que não seja institucional e democrática. Fico surpreso com a alegação de que eu seria um apoiador de qualquer tipo de rompimento com o processo democrático, pois isso não corresponde com o meu pensamento e posicionamento", respondeu ao Metrópoles.

A assessoria de imprensa do grupo Multiplan explicou que o empresário José Isaac Péres está viajando e a assessoria responderia sobre o caso. "Ele [Peres] esclarece que sempre teve compromisso com a democracia, com a liberdade e com o desenvolvimento do país. Neste momento, ele está tratando de projeto empresarial no Rio Grande do Sul, onde a estimativa é de gerar investimentos de bilhões de reais e milhares de empregos."

A comunicação do Grupo Sierra disse que empresário André Tissot viaja e não poderia responder a tempo da publicação da matéria. os empresários Carlos Molina, Ivan Wroble, e Vitor Odisio não responderam ao contato da matéria da Metrópoles.

Por meio de nota, o empresário Ivan Wrobel disse que a informação de que ele defende uma ruptura institucional "trata-se de uma evidente fake news".

"Transmitir fake news a respeito de pessoas que levam uma vida correta, pagam seus impostos e contribuem com a sociedade não parece que seja um caminho que se deva perseguir", afirmou.

O UOL também tenta contato com todos os citados.