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Campanha de Lula convoca cúpula evangélica para rebater 'efeito Michelle'

Imagem de vídeo produzido pela campanha de Lula para atrair o voto evangélico - Reprodução
Imagem de vídeo produzido pela campanha de Lula para atrair o voto evangélico Imagem: Reprodução

Do UOL, em São Paulo

24/08/2022 04h00Atualizada em 24/08/2022 10h46

A ampliação da vantagem do presidente Jair Bolsonaro (PL) entre os eleitores evangélicos, segundo a última pesquisa Datafolha, e o embarque da primeira-dama, Michelle Bolsonaro, na campanha de reeleição provocaram uma resposta da coligação que apoia a candidatura do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

A campanha do petista mobilizou pastores e teólogos, que traçaram uma estratégia de contra-ataque para viralizar conteúdo entre esse segmento.

Essa é a ideia por trás de endereços em redes sociais, aplicativos de mensagem e sites que os advogados da campanha de Lula protocolaram na semana passada no site do TSE (Tribunal Superior Eleitoral), como revelou o jornal Folha de S.Paulo.

Bolsonaro ampliou para 17 pontos percentuais a distância sobre Lula entre os evangélicos, ao marcar 49% das intenções de voto contra 32% do petista, segundo o Datafolha de quinta (18). Dois dias depois, no sábado (20), uma petição da campanha de Lula pediu ao TSE a inclusão "de novos endereços de redes sociais" voltadas ao público evangélico.

Como nasceu a estratégia? Após a entrada na campanha de Michelle Bolsonaro —que é evangélica e passou a acompanhar Bolsonaro— e a divulgação de uma fake news afirmando que Lula pretende fechar igrejas, o PT convocou as lideranças evangélicas da coligação para bolar um contra-ataque.

Página criada no Twitter campanha do PT para atingir o eleitor evangélico  - Reprodução - Reprodução
Página criada no Twitter pela campanha do PT para chegar ao eleitor evangélico
Imagem: Reprodução

Ao menos sete dos nove partidos da coligação indicaram representantes religiosos para sugerir ideias para frear o avanço bolsonarista sobre evangélicos.

  • No Psol, o porta-voz é o pastor e candidato a deputado federal Henrique Vieira (RJ).
  • No Solidariedade, quem fala é o pastor pentecostal Paulo Marcelo Schallenberger.
  • A deputada federal Benedita da Silva (RJ) cuida do assunto no PT.

Na segunda-feira (22), uma das missões de Benedita era colher depoimentos em vídeos de evangélicos que declarassem voto em Lula e no partido.

"Foi uma ideia de vários pastores e teólogos para responder a pautas [da campanha adversária] como as fake news. Houve um acordo entre os partidos. Cada um traz suas ideias", afirmou ao UOL Schallenberger, chamado por Lula para dialogar com os pentecostais. "O Restitui Brasil [nome de um site e de endereços de páginas em redes sociais] é uma das primeiras ferramentas mais diretas que a campanha vai trabalhar para atingir o evangélico."

Os primeiros vídeos já foram compartilhados em algumas dessas novas páginas e também no perfil de lideranças do PT, como a da presidente do partido, a deputada federal Gleisi Hoffmann (PR).

Em outra peça, Lula diz que "qualquer eleitor evangélico sabe que nunca o governo tratou eles com o respeito que eu tratei".

Com grande entrada no meio religioso, o vice na chapa, Geraldo Alckmin (PSB), também vem gravando vídeos curtos, preferencialmente na vertical. "Quero agradecer as igrejas evangélicas pelo trabalho belíssimo de evangelização e trabalho social, cuidando das famílias e necessitados", diz ele em um vídeo.

A intenção é viralizar isso, chegar ao segmento evangélico. Nas redes sociais você pode impulsionar a publicação para o público que deseja, e vamos impulsionar."
Paulo Marcelo Schallenberger, pastor

"Nesses sites haverá textos bíblicos e vamos falar diretamente sobre aborto, fechamento de igrejas. Será um combate teológico, mostrando a diferença entre quem tem Deus e quem fala em nome de Deus", afirmou Schallenberger.

                                 Lula no lançamento da campanha                              - MIGUEL SCHINCARIOL / AFP                             - MIGUEL SCHINCARIOL / AFP
Lula no lançamento da campanha em uma metalúrgica no Grande ABC
Imagem: MIGUEL SCHINCARIOL / AFP

Por que escolheram o termo "restituição"? Alguns desses novos sites foram batizados de "evangélicos com Lula", "evangélicos e Lula", "verdade na rede" e, principalmente, "Restitui Brasil".

"Nossa confiança está em Deus, Ele é nosso escudo e nossa fortaleza", diz a página Restitui Brasil, com material de campanha para evangélicos e campo para cadastro do internauta, incluindo a pergunta sobre a igreja a que ele pertence.

O Brasil já foi uma das maiores nações do mundo, é tempo de restituição."
Material de campanha no site Restitui Brasil

Famoso entre os evangélicos, o termo "restituição" remete a passagens bíblicas que significam restituir, compensar de forma justa o que foi perdido pelo "povo de Deus".

"É uma referência ao texto bíblico. Deus vai restituir, trazer o que é meu: comida de volta, liberdade de volta, tolerância religiosa de volta", explica o pastor.

A ofensiva sobre o eleitor evangélico também fará parte da campanha fora das redes, principalmente em inserções na TV e no programa eleitoral gratuito.

Presidente Jair Bolsonaro (PL) e primeira-dama Michelle Bolsonaro durante convenção nacional do PL no Rio de Janeiro - Ricardo Moraes/Reuters - Ricardo Moraes/Reuters
Bolsonaro e primeira-dama Michelle Bolsonaro durante convenção nacional do PL, no Rio
Imagem: Ricardo Moraes/Reuters

Efeito Michelle? A campanha petista admite que Michelle Bolsonaro "foi muito bem preparada, deu um boom" na campanha de reeleição. Mas a principal preocupação, diz o pastor, é com a desinformação.

"Se Bolsonaro não conseguir os cinco pontos percentuais que faltam, não terá segundo turno. Por isso estão indo para o tudo ou nada", diz ele.

No primeiro dia oficial de campanha, na semana passada, tanto Lula quanto Bolsonaro apelaram para a religião.