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Passado de atritos: Lula foi alvo de manipulação no JN após debate em 1989

Lula acusa Globo de "mutreta" em debate de 89 - Reprodução/Globo
Lula acusa Globo de 'mutreta' em debate de 89 Imagem: Reprodução/Globo

Colaboração para o UOL, no Rio

25/08/2022 11h45

Com um passado de atritos e uma relação de altos e baixos, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) volta à Globo na noite de hoje para participar da terceira sabatina promovida pelo Jornal Nacional com os principais candidatos à Presidência da República.

Um dos principais pontos de embate dessa relação aconteceu em 1989, na primeira eleição direta para a Presidência após o período da ditadura militar.

Na ocasião, o debate ao vivo organizado por um pool de emissoras ocorreu entre ele e o candidato do PRN, Fernando Collor de Mello. No dia seguinte, a TV Globo exibiu duas matérias com edições dos melhores momentos. Uma foi ao ar no Jornal Hoje e outra no Jornal Nacional. Esta última foi a mais polêmica.

O Partido dos Trabalhadores acusou a Globo de privilegiar o candidato do PRN. Segundo o PT, foram ao ar os melhores momentos de Collor no debate e os piores de Lula. Além disso, Collor teve ainda mais tempo de tela do que o adversário.

O PT chegou a mover uma ação no TSE (Tribunal Superior Eleitoral) solicitando que novos trechos do debate fossem apresentados no JN antes das eleições, mas o recurso foi negado.

Um grupo de artistas da própria emissora protestou contra a edição do jornal na sede da Globo, no Rio. Collor acabou vencendo as eleições com 53% dos votos.

A Globo admitiu culpa no episódio, mas só a partir dos anos 2000. Lula se referiu no passado como uma "mutreta" da Globo para derrubá-lo nas eleições a edição do último debate de segundo turno.

Emissora admitiu culpa

Em 2001, em entrevista ao Memória Globo, o diretor de jornalismo na época do debate, Armando Nogueira, afirmou que houve manipulação do debate e concluiu que a falha foi "um gol contra da TV Globo" e um "desserviço" à emissora.

Ele explicou ainda que a segunda reportagem, no Jornal Nacional, foi "deturpada" por profissionais hierarquicamente abaixo dele e que só tomou conhecimento quando o material foi ao ar.

O ex-diretor geral da Globo José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, mais conhecido como Boni, também comentou o assunto anos depois e também admitiu o erro.

"Achei que estava desigual. Foi uma maneira de melhorar a postura do Collor", afirmou ao Dossiê GloboNews, em 2011, revelando até o uso de suor falso em Collor para melhorar a imagem dele.

Os responsáveis pela edição do Jornal Nacional explicaram que usaram os mesmos critérios de edição de uma partida de futebol para transmitir o debate, selecionando os melhores momentos de cada candidato. A intenção era deixar claro que Fernando Collor de Mello havia sido o vencedor.

O assunto voltou a ser comentado em 2015. Durante o especial em comemoração aos 50 anos da Globo, a TV fez um mea-culpa sobre a polêmica edição.

Lula na Globo

Apesar de ter reclamado da postura da Globo em 1989, Lula voltou à emissora para outros debates nas eleições seguintes.

O ex-presidente, inclusive, chegou a passar por sabatinas no "Jornal Nacional". Essa será a terceira vez que ele é entrevistado ao vivo por William Bonner.

E é justamente do apresentador que Lula espera ouvir um pedido de desculpas —não pelo debate de 1989, mas pela cobertura da operação Lava Jato, na qual o petista considera ter sido perseguido pela emissora.

"Eu não vou morrer enquanto não me pedirem desculpas. Eu quero ouvir o William Bonner pedindo desculpas na Globo", falou à Folha de S.Paulo em 2017.

Errata: este conteúdo foi atualizado
Diferentemente do que informou o título desta reportagem e a home-page do UOL, o debate entre Lula e Collor alvo de manipulação não foi organizado apenas pela TV Globo. O evento teve participação de um pool de emissoras do qual a Globo fazia parte, e a manipulação ocorreu na edição do Jornal Nacional. O texto foi corrigido.