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Amanda Klein sobre ataque de Bolsonaro: Faria mesma pergunta se fosse Lula

Jornalista Amanda Klein fala sobre a entrevista com o presidente Jair Bolsonaro (PL) no PodCast Opinião no Ar, da RedeTV! - Reprodução/YouTube/PodCast Opinião no Ar
Jornalista Amanda Klein fala sobre a entrevista com o presidente Jair Bolsonaro (PL) no PodCast Opinião no Ar, da RedeTV! Imagem: Reprodução/YouTube/PodCast Opinião no Ar

Do UOL, em São Paulo

06/09/2022 18h41Atualizada em 06/09/2022 20h04

A jornalista Amanda Klein disse hoje que faria a mesma pergunta ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) sobre polêmicas da gestão petista. A declaração ocorreu no podcast que Amanda apresenta, o Opinião no Ar, da RedeTV!, horas após o presidente Jair Bolsonaro (PL) mencionar a vida pessoal da profissional e acusá-la de ser "leviana", ao ser questionado sobre a compra de imóveis em dinheiro vivo por ele e seus familiares, como apurado pelo UOL.

Na pergunta, Klein citou reportagem do UOL que mostrou que Bolsonaro e familiares negociaram 107 imóveis desde 1990, dos quais ao menos 51 foram adquiridos total ou parcialmente com uso de dinheiro em espécie.

O presidente se exaltou, mas eu acho que é uma pergunta que precisa ser feita. 'Ah, por que, Amanda, você está ali colocando a faca no pescoço do presidente'. O presidente não tem nada a ver com isso. Eu enxergo como a profissão e como dever jornalístico de você perguntar e fazer questionamentos incômodos. Faria a mesma pergunta se fosse o candidato do outro lado, Lula, do PT, que se sentasse naquela cadeira, certamente, eu faria pergunta sobre os escândalos de corrupção na era PT. Amanda Klein, jornalista

A profissional acrescentou ressaltando que candidatos precisam dar explicações à população brasileira e por isso fez o questionamento e reproduziria a questão a Lula, que aparece em primeiro lugar nas pesquisas de intenção de voto.

"[Eu questionaria por que Lula] deve explicações sobre isso. E se é candidato e quer ser presidente novamente, tem que se explicar à população brasileira. É essa forma que eu vejo o jornalismo. Tem pergunta difíceis, sim, duras, mas tem que ser respondidas."

'Não sou candidata a nada'. Após o apresentador Silvio Navarro, que divide o programa com Amanda, dizer que ter dinheiro em espécie em casa "não é crime", que isso não necessariamente representa dinheiro ilegal, e exaltar a presença de Bolsonaro em sabatinas de diferentes veículos, a jornalista foi incisiva ao emitir sua opinião.

"Eu acho que todos precisam fazer [as sabatinas e debates] em todos os tipos de veículos no que você sabe que enfrentará maior ou menor dificuldade. Acho que os dois deveriam fazer esse papel."

Já sobre a questão do pagamento em dinheiro em espécie, Amanda disse que a questão está muito bem explicada na reportagem dos colunistas do UOL Thiago Herdy e Juliana Dal Piva. Pouco antes, a jornalista havia dito que também conversou com um advogado tributário para entender a questão do uso de "compra em moeda corrente".

A própria reportagem do UOL também confirmou com oficiais de cartórios a padronização da "compra em moeda corrente" para se referir a vendas realizadas em espécie, mencionadas de forma distinta às vendas realizadas por meio de cheque ou transferência bancária que aparecem especificadas em várias outras compras.

[No trabalho da Juliana fica] muito bem explicado, detalhado, as várias transações imobiliárias com o uso de dinheiro em espécie que se tornaram uma prática na família Bolsonaro. E quem que ocupar a presidência da República precisa responder e responder sem partir para ataques pessoais. Afinal de contas, eu não sou candidata a nada, eu não estou concorrendo a nada. Amanda Klein, jornalista

E concluiu: "Quem precisa explicar e quem deve satisfação ao público são os homens que ocupam cargos eletivos como ele, presidente da República, mais alto mandatário do país".

'Seu marido vota em mim', disse Bolsonaro

Mais cedo, o presidente Bolsonaro citou a vida pessoal da jornalista da Jovem Pan Amanda Klein e a acusou de ser "leviana", ao ser questionado sobre a compra de imóveis em dinheiro vivo por ele e seus familiares. A discussão aconteceu durante entrevista ao vivo no canal da Jovem Pan.

Veja o diálogo:

Amanda Klein: É importante enfatizar que isso acontece no contexto de investigação da prática de "rachadinha" nos gabinetes de dois dos seus filhos, o vereador Carlos e o senador Flávio Bolsonaro. O senhor também é suspeito de ter mantido funcionários fantasmas quando era deputado federal em Brasília. O seu filho Flávio negociou 20 imóveis nos últimos 16 anos, sendo que o último deles foi uma mansão de R$ 6 milhões em Brasília. Sua ex-mulher Ana Cristina Siqueira Valle mora em outra mansão, avaliada em R$ 3 milhões, em bairro nobre em Brasília, com seu filho Jair Renan, e ela é investigada por ter supostamente usado um laranja para adquirir esse imóvel. É importante esclarecer qual origem desses recursos, presidente.

Jair Bolsonaro: Amanda, você é casada com uma pessoa que vota em mim. Não sei como é o teu convívio com ele na sua casa...

Amanda Klein: Minha vida particular não está em pauta aqui.

Jair Bolsonaro: E a minha [vida] particular está em pauta por quê?

Amanda Klein: Porque o senhor é uma pessoa pública, o senhor é Presidente da República.

Jair Bolsonaro: Respeitosamente, essa acusação tua é leviana.

A âncora do jornal tentou mudar de assunto ao menos três vezes durante a discussão.

Klein é casada com o empresário Paulo Ribeiro de Barros. Em entrevista ao canal de Cíntia Chagas, em abril, a profissional contou que o marido é eleitor de Bolsonaro, e que "às vezes, dá briga no jantar" pelas divergências políticas. "O fato de ele votar no Bolsonaro e eu não, não quer dizer que a gente não tenha pontos em comum", disse ela na ocasião.

Bolsonaro disse ainda que pediria a certidão dos imóveis do marido de Amanda para ver se foram comprados com dinheiro vivo. "Se pegar os bens do seu marido... Eu vou pedir, Amanda, respeitosamente, uma certidão do seu marido, no fórum, se porventura ele tenha casas, imóveis, e quero ver, na escritura, quando ele comprou, se está escrito moeda corrente ou não. E aí, Amanda, vai estar escrito moeda corrente? Você vai falar o quê?"

Durante a entrevista, Bolsonaro ainda acusou a jornalista de querer colocar nele um rótulo de "corrupto".

Ataques de Bolsonaro a jornalistas mulheres

A dificuldade em crescer entre o eleitorado feminino não tem impedido o presidente de continuar atacando jornalistas mulheres. Durante debate presidencial no último dia 28, Bolsonaro atacou a jornalista da TV Cultura Vera Magalhães, que havia o questionado sobre a cobertura vacinal do Brasil.

"Acho que você dorme pensando em mim. Você tem alguma paixão em mim. Não pode tomar partido num debate como esse. Fazer acusações mentirosas a meu respeito. Você é uma vergonha para o jornalismo brasileiro", disse ele, sem responder sobre o tema perguntado.

Em junho deste ano, o Tribunal de Justiça de São Paulo manteve a condenação do presidente por ofender a repórter Patrícia Campos Mello, do jornal Folha de S. Paulo. Em fevereiro de 2020, o presidente disse a apoiadores que a jornalista "queria dar o furo a qualquer preço contra mim". "Furo" é um jargão jornalístico para uma informação exclusiva.

Em junho do ano passado, durante a inauguração do Centro de Tecnologia 4.0, em Sorocaba, no interior de São Paulo, Bolsonaro gritou com uma repórter da CNN. Na ocasião, ele disse que a imprensa faz "perguntas idiotas" e "ridículas", e disse à jornalista para "voltar ao jardim de infância".

O episódio aconteceu uma semana após ter ofendido uma jornalista da Rede Globo. Ao ser questionado por uma jornalista da TV Vanguarda, filiada da Rede Globo. Na ocasião, ele chamou a imprensa de canalha e mandou a profissional calar a boca.

Em 21 de julho de 2019, Bolsonaro disse que Miriam Leitão, jornalista e comentarista da Globo, mentiu ao dizer que foi torturada durante da ditadura militar. Um dos filhos dele, o deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP), também já atacou a jornalista da Globo usando a tortura que ela sofreu.