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Demitido por Bolsonaro, cientista é cotado para assumir ministério com Lula

Ricardo Galvão, então diretor do Inpe, durante solenidade organizada pela Agência Espacial Brasileira (AEB) em São José dos Campos em 2018. - Lucas Lacaz Ruiz/Folhapress
Ricardo Galvão, então diretor do Inpe, durante solenidade organizada pela Agência Espacial Brasileira (AEB) em São José dos Campos em 2018. Imagem: Lucas Lacaz Ruiz/Folhapress

Do UOL, em São Paulo

15/09/2022 19h51Atualizada em 15/09/2022 19h51

O ex-diretor do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) Ricardo Galvão (Rede) foi sondado pela campanha de Lula (PT) para saber se aceitaria ser o ministro da Ciência e Tecnologia na hipótese de vitória do petista nas eleições.

Galvão foi demitido do cargo de diretor do Instituto após publicar dados do desmatamento no Brasil que desagradaram o presidente Jair Bolsonaro, que o criticou publicamente e o acusou de "estar a serviço das ONGs".

Responsáveis pela parte técnica da campanha do ex-presidente ficaram responsáveis pela sondagem e não há indícios de que a equipe política de Lula tenha referendado o convite extraoficial. O próprio petista já afirmou que só pensará com mais afinco em sua equipe de ministros após vencer as eleições caso isso ocorra.

Ao UOL, Ricardo Galvão confirmou a sondagem, mas que não teve contato direto com a campanha de Lula. Ele também reafirmou que se houver um convite oficial para o cargo e se fosse vontade de seu partido, ele aceitaria, mas que sua prioridade no momento é "compor uma Bancada da Ciência no Congresso Nacional, trazendo ao debate público a importância de se valorizar a ciência, a educação e a sustentabilidade". Hoje, o professor é filiado à Rede e candidato a deputado federal pelo estado de São Paulo.

Quem é Ricardo Galvão?

Doutor em física, mestre em engenharia elétrica e professor de física da USP (Universidade de São Paulo), Ricardo Galvão foi também diretor do CBPF (Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas) e posteriormente do INPE. Em julho de 2019 protagonizou um embate com o Governo Bolsonaro que marcou a gestão do atual presidente. Na ocasião, após os dados sobre o desmatamento na Amazônia apontar aumento do problema, Bolsonaro desautorizou e atacou Galvão publicamente.

O presidente acusava o cientista de divulgar dados falsos, sem qualquer evidência disso. Os dados depois foram confirmados pelo próprio governo brasileiro, por ONGs independentes e até mesmo pela Nasa.

O ministério da Ciência teria até mesmo grampeado o telefone e o e-mail de Ricardo Galvão, que, rebateu Bolsonaro. "A primeira coisa que eu posso dizer é que o Sr. Jair Bolsonaro precisa entender que um presidente da República não pode falar em público, principalmente em uma entrevista coletiva para a imprensa, como se estivesse em uma conversa de botequim. Ele fez comentários impróprios e sem nenhum embasamento e fez ataques inaceitáveis não somente a mim, mas a pessoas que trabalham pela ciência desse País".

O embate público terminou com Galvão demitido do Inpe.

Diversos grupos brasileiros de estudos científicos saíram em defesa do cientista. A repercussão do caso foi também internacional e a Revista Nature nomeou Ricardo Galvão como um dos 10 cientistas mais importantes do mundo no ano de 2019.