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Com Ciro estagnado, pressão por voto em Lula aumenta no PDT

O ex-presidente Lula e Ciro Gomes - Ricardo Stuckert/Instituto Lula e Kleyton Amorim/UOL
O ex-presidente Lula e Ciro Gomes Imagem: Ricardo Stuckert/Instituto Lula e Kleyton Amorim/UOL

Do UOL, no Rio

21/09/2022 13h33

Com Ciro Gomes (PDT) estagnado com um dígito nas pesquisas e aumentando os ataques contra o PT, alas do PDT iniciaram um movimento de pressão sobre a direção do partido pregando o voto útil no ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) para viabilizar uma vitória no 1º turno.

Diversos movimentos independentes —puxados sobretudo por brizolistas históricos— vêm lançando manifestos e convocando atos públicos de apoio a Lula. A direção do PDT que vem resistindo à pressão e bancando a candidatura de Ciro, enquanto o candidato classifica as dissidências como "fake news".

Nos últimos dias, grupos significativos aderiram à campanha de Lula nos diretórios do PDT em São Paulo, Minas Gerais e Pernambuco, segundo relatam integrantes do partido. Em Alagoas, o presidente estadual do PDT, Ronaldo Lessa, assinou um manifesto de brizolistas por Lula. Ele é vice na chapa de Paulo Dantas (MDB), candidato apoiado por Lula na disputa estadual.

Ato por voto BrizoLula. Na noite de hoje, um grupo de trabalhistas históricos —muitos deles fundadores do PDT e secretários dos governos do patriarca Leonel Brizola— lançam em um evento no Rio de Janeiro o movimento pelo que chamam de voto BrizoLula, brizolistas com Lula no 1º turno.

De acordo com o professor Francisco Teixeira, responsável pela construção dos mais de 500 Cieps (Centros Integrados de Educação Pública) nos governos Brizola, a pressão pelo voto em Lula se tornou "um fenômeno social" e surgiu de maneira independente em diversos estados.

"O movimento é muito descentralizado. A gente não tem interesse de criar um movimento unificado porque surgiu de forma espontânea. A gente condenando de um lado a linguagem e a forma que o Ciro utiliza, equiparando Lula a Bolsonaro. Não se trata disso, é uma eleição muito singular. Não é a escolha de um presidente, é a escolha do destino e da democracia no país", afirma.

Outro dos organizadores do ato, Vivaldo Barbosa —líder do PDT na Assembleia Constituinte de 1988 e secretário de Justiça de Brizola— destaca que a vitória de Lula no 1º turno é, na visão do grupo, essencial para conter a ameaça de um possível autogolpe pelo presidente Jair Bolsonaro (PL).

"É preciso distensionar o país. Não são os ataques do Ciro nem o desvirtuamento do PDT que nos preocupam, é a tensão que vive o Brasil. Precisamos aliviar a possibilidade de Bolsonaro e a turma dele perturbarem a democracia brasileira", resume.

Neto de Leonel Brizola e candidato a deputado federal pelo PT no Rio, Leonel Brizola Neto destaca que o avô apoiaria o movimento se estivesse vivo.

"O melhor termômetro disso é a atitude do Brizola em 2002. Percebendo a conjuntura e o simbolismo daquela eleição, ele deixou de apoiar o Ciro para apoiar o Lula no 1º turno", diz.

"Neutralidade no 2º turno é impossível". Outro brizolista histórico, o deputado federal Paulo Ramos (PDT) avalia que os manifestos não são a melhor estratégia nesse momento. Ele pedirá ao presidente do partido, Carlos Lupi, uma reunião da executiva nacional para discutir o voto em Lula no 1º turno.

"Eu penso que isso tem que ser uma decisão partidária, não um movimento paralelo. Tenho conversado para o partido avaliar a conveniência. Para não ficar uma insubordinação ou um desapreço ao nosso candidato."

Ramos, que chegou a deixar o partido por três anos após brigas públicas com Lupi, procura adotar uma postura conciliadora, mas diz que a possibilidade de o PDT ficar neutro em um 2º turno entre Lula e Bolsonaro —aventada nas últimas semanas— "não existe".

"A possibilidade do PDT declarar neutralidade não existe. [O apoio a Lula] É inevitável. Nos momentos mais difíceis, a gente brinca e diz: 'Vamos buscar inspiração no velho Brizola'. Eu me lembro quando teve a disputa entre César Maia e [Luiz Paulo] Conde pela Prefeitura do Rio, em 2000. Em um ato lotado de gente, o Brizola disse: 'Pode votar em qualquer um, menos no Conde'."

Lupi chama dissidentes de traidores. Também citando Brizola, Carlos Lupi, presidente nacional do PDT, classificou como "traidores" os membros do partido que têm defendido o voto útil em Lula.

Em vídeo publicado ontem (20) nas redes sociais, o pedetista disse que "a história abomina os traidores".

"Eu quero lembrar Brizola [que dizia]: 'A política, a mídia poderosa, os políticos tradicionais adulam e adoram traidores, mas a história os abomina'."

Lupi disse que os movimentos estão sendo conduzidos por pessoas que já saíram ou estão de saída do partido e reafirmou o apoio do PDT a Ciro.

"Nossa luta não é pelo personalismo, é pelo povo brasileiro. Nossa luta é tocar no sistema financeiro que ninguém tem coragem de tocar, só Ciro. Nós vamos continuar com Ciro até a última hora", disse ele.

O professor Francisco Teixeira evitou atacar Lupi, mas rebateu as críticas aos dissidentes. "Não temos nada contra o Lupi, mas acho que ele deveria refletir sobre duas coisas: se existem tantos brizolistas que saíram e estão saindo do partido na gestão dele deve ter algo errado. Não é normal que pessoas que trabalharam com Brizola estejam saindo", diz ele, que ainda é filiado ao PDT.

Questionado ontem sobre o movimento pró-Lula no PDT durante uma agenda em Campinas (SP), Ciro Gomes se negou a discutir o assunto, classificado por ele como "fake news".

"Isso é mentira, vocês estão sendo enganados. Outra pergunta. Desculpa, mas não vou repercutir fake news de forma nenhuma", disparou.