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Bolsonaro ataca UOL por reportagem de compra de imóveis com dinheiro vivo

do UOL em São Paulo, Rio e Brasília

24/09/2022 19h53

Um dia após a decisão do STF (Supremo Tribunal Federal) de derrubar a censura imposta à reportagem do UOL sobre o uso de dinheiro vivo na compra de imóveis pela família Bolsonaro, o presidente Jair Bolsonaro (PL) atacou hoje o UOL.

"O UOL fez um trabalho sujo, sujo! É o que eu tenho para falar", disse Bolsonaro ao chegar para o debate do SBT em parceria com CNN Brasil, Terra, Nova Brasil, Estadão, Eldorado e Veja.

Reportagens do UOL relatando o uso de dinheiro vivo em 51 dos 107 imóveis comprados pelo clã Bolsonaro chegaram a ser censuradas na quinta-feira (22) pelo Tribunal de Justiça do Distrito Federal, mas ontem o ministro do STF André Mendonça derrubou a censura. (Para ler as reportagens, clique aqui e aqui)

"Eu tenho um ex-cunhado separado da minha irmã muitíssimo bem de vida. Ele tem mais de 30 casas de comércio de móveis e material de construção. Ele não pode ter um patrimônio grande?", questionou.

Hoje, em nova decisão, Mendonça negou pedido apresentado pelo senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP) para investigar as operações imobiliárias de Bolsonaro e sua família.

"Vocês viram a última decisão do Supremo sobre os imóveis?", questionou o presidente. "Agora olha o meu patrimônio. Eu fui investigado desde antes das eleições."

Bolsonaro então citou uma decisão de Rodrigo Janot, ex-procurador-geral da República, que analisou a compra de imóveis por ele.

"Fui investigado desde antes das eleições. Em 2015, o Rodrigo Janot falou das minhas duas casas na Barra [da Tijuca] que não existia um mínimo indício para iniciar qualquer investigação e o processo foi arquivado. A mesma coisa agora o ministro André Mendonça fez: não existe um mínimo indício da matéria da Folha [a reportagem, na verdade, é do UOL] para começar uma investigação sobre a minha pessoa e arquivou.

"[Mendonça] continua defendendo a liberdade de imprensa, como a decisão de ontem [que derrubou a censura], mas disse que quem persistir nesses ataques sobre os imóveis meu e da minha família pode responder civil e criminalmente", falou.

O presidente lembrou ainda que a reportagem contabilizou um dos imóveis de sua mãe, que morreu este ano.

UOL, que trabalho sujo vocês fizeram, tentando me desgastar faltando 30 dias para a eleição.
Jair Bolsonaro, presidente e candidato à reeleição

Entenda o caso

O UOL revelou que a família do presidente adquiriu metade do patrimônio com o uso de dinheiro vivo. Dos 107 imóveis adquiridos pelo presidente, seus filhos, ex-mulheres e irmãos desde os anos 1990, em 51 deles as aquisições foram feitas total ou parcialmente com o pagamento em dinheiro.

Conforme as escrituras, os 51 imóveis custaram, em valores da época, R$ 13,5 milhões. A parte apenas em dinheiro vivo destas transações é de pelo menos R$ 5,7 milhões, ainda em valores da época. Se corrigidos pelo IPCA a partir da data da compra de cada imóvel, este valor equivale a R$ 11,1 milhões apenas em dinheiro vivo, de um valor total de R$ 25,6 milhões.

Não é possível saber a forma de pagamento de 26 imóveis, que somaram pagamentos de R$ 986 mil (ou R$ 1,99 milhão em valores corrigidos) porque esta informação não consta nos documentos de compra e venda. Transações por meio de cheque ou transferência bancária envolveram 30 imóveis, totalizando R$ 13,4 milhões (ou R$ 17,9 milhões corrigidos pelo IPCA).

Até a mãe de Bolsonaro, Olinda, falecida em janeiro deste ano, aos 94 anos, teve os dois únicos imóveis adquiridos em seu nome quitados em espécie, em 2008 e 2009, em Miracatu, no interior de São Paulo. Um cunhado do presidente pagou em 2018 R$ 2,6 milhões na compra de um imóvel em Cajati (SP), pago em dinheiro vivo. Entre os imóveis comprados com dinheiro vivo pela família, estão lojas, terrenos e casas diversas.

Atualmente o Senado Federal discute projeto de lei que sugere a proibição do uso de dinheiro em espécie para transações imobiliárias, como forma de prevenir operações de lavagem de dinheiro ou ocultação de patrimônio.

*Participaram desta cobertura:
Em São Paulo: Caê Vasconcelos, Felipe Pereira, Isabela Aleixo, Juliana Arreguy e Wanderley Preite Sobrinho
No Rio: Lola Ferreira
Em Brasília: Camila Turtelli, Eduardo Militão, Gabriela Vinhal e Leonardo Martins