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'Desespero, medo de sair na rua', diz jovem agredida por bolsonarista no RJ

Estefane levou sete pontos na cabeça após ser agredida por bolsonarista - Arquivo pessoal
Estefane levou sete pontos na cabeça após ser agredida por bolsonarista Imagem: Arquivo pessoal

Gabryella Garcia

Colaboração para o UOL, em São Paulo

24/09/2022 17h43

Estefane de Oliveira Laudano, jovem de 19 anos que foi agredida em um bar em Angra dos Reis, no Rio de Janeiro, após fazer um comentário sobre o presidente Jair Bolsonaro (PL) com sua irmã, relatou com exclusividade ao UOL que sente medo de sair na rua sozinha após o episódio. A jovem que trabalha como maquiadora levou sete pontos na cabeça após ser agredida com um pedaço de madeira por Robson Dekkers Alvino, de 52 anos.

[Tenho] medo de sair na rua sozinha e acontecer alguma coisa. Se aconteceu comigo que nem gosto e nem discuto política, imagina o que poderia ter acontecido se realmente fosse uma discussão política. Foi só por um comentário sobre o status de um amigo. Estefane Laudano.

A jovem afirma que estava com sua irmã, duas colegas de trabalho e um outro amigo de sua irmã quando entraram em um bar em Angra dos Reis por volta das 16h30 de ontem. O grupo estava trabalhando para a campanha do candidato a deputado estadual Professor Josemar (PSOL) e do candidato a deputado federal Waldeck Carneiro (PSB), e o trabalho iria até tarde da noite.

"A gente parou em um bar tomar alguma coisa porque iria trabalhar até tarde, aí entrou esse cara que eu nunca vi antes. Minha irmã viu o status de um colega nosso e disse 'ué, bandeira do Brasil? Fulano é Bolsonaro? Eu não tenho amigo Bolsonaro', mas disse brincando. Aí o homem entrou na conversa, falou que era Bolsonaro e perguntou se tinha algum problema. Eu respondi que ninguém queria saber e não era para se intrometer. Ninguém criticou o Bolsonaro e era uma brincadeira nossa".

Na sequência, Estefane diz que o homem começou a agredir o grupo verbalmente dizendo que era "gente assim que votava no PT" e que sua irmã, Esther de Oliveira Laudano, tomava hormônio masculino e "queria ser um homem". Após os insultos, ele acabou sendo expulso do bar, mas continuou com as ofensas do lado de fora.

"Ele subiu e depois voltou com um pedaço de madeira e começou a chamar a gente lá fora. Falou que se minha irmã era homem, então ia apanhar igual homem. Quando a gente chegou perto, ele já puxou minha peruca e jogou no chão, aí minha irmã empurrou ele. Nisso, já vi minha irmã em cima dele e fui tentar separar, aí ele segurou meus dois braços e me deu uma paulada na cabeça. Caí no chão e na hora nem senti que cortou, mas comecei sentir minha cabeça melada, coloquei a mão e vi que tinha muito sangue. Comecei a gritar pedindo ajuda".

Após a agressão, Esther correu com sua irmã para a Santa Casa de Angra do Reis, onde a jovem tomou sete pontos.

"Falaram que atingiu uma veia na minha cabeça e por isso sangrou muito e que por pouco não aconteceu algo mais grave", conta Estefane. Depois do atendimento inicial, a jovem foi transferida para o Hospital Municipal da Japuíba onde realizou os exames de raio-x e tomografia e foi liberada por volta das 23h após tomar as medicações recomendadas.

O suspeito foi encontrado pouco depois da agressão em uma rua próxima ao bar contido por moradores da região. Após prestar depoimento, acabou liberado.

'Agressão desnecessária', diz vítima

Estafane também afirmou que, enquanto estava no hospital, sua irmã registrou o boletim de ocorrência na 166ª DP (Angra dos Reis). Ela também contou ao UOL que irá prestar depoimento na segunda-feira (26) e que recebeu apoio da coordenação de campanha de Josemar e Waldeck e dos próprios candidatos, que lhe enviaram o valor dos remédios para comprar a medicação necessária.

Na hora eu entrei em desespero. Depois que havia tomado os pontos me tranquilizaram dizendo que ia ficar tudo bem e eu consegui me acalmar, mas com o psicológico bastante abalado. Estou me sentindo bem mal com uma coisa desnecessária, uma agressão física totalmente desnecessária.

"Não estava falando com ele e nem ofendendo, não foi uma discussão e ele discutiu sozinho. Não tinha ninguém criticando o Bolsonaro. Estou com a cabeça cheia porque nem critiquei e o cara já veio para cima, imagina o que pode acontecer com pessoas que realmente discutem. Penso que poderia ter acontecido algo pior e eu não estaria mais aqui", disse ao UOL hoje, já em sua casa e se recuperando do episódio.

A jovem também afirmou que por estar trabalhando na campanha de dois candidatos progressistas já havia passado por situações com apoiadores de Bolsonaro, mas nunca com agressões físicas ou ofensas pessoais.

"Quando a gente está trabalhando passa alguém gritando 'aqui é Bolsonaro' ou então 'não vai ser Lula', mas porque a gente está trabalhando para os candidatos, mas antes nunca ninguém havia encostado em mim".

O UOL tentou contato com Robson Dekkers Alvino por suas redes sociais, mas não obteve respostas até a publicação deste texto. O espaço segue aberto para manifestações e será atualizado assim que houver retorno.