Sucessor de Roberto Jefferson, Padre Kelmon faz dobradinha com Bolsonaro
O candidato à Presidência Kelmon Souza (PTB), o Padre Kelmon, chamou a atenção no debate promovido pelo SBT, CNN Brasil, Veja, Estadão, rádio Nova Brasil FM e Terra neste sábado (24). Ele elogiou e defendeu o presidente Jair Bolsonaro (PL), atuando como seu aliado. Bolsonaro cumprimentou-o pelo menos duas vezes.
Kelmon ofereceu a todos os candidatos um documento antiaborto, para que eles assinassem "ainda hoje um pacto pela vida se comprometendo a proteger as vidas dos bebês nos ventres de suas mães".
Ele é de um partido de um grande aliado de Bolsonaro, o ex-deputado condenado por corrupção Roberto Jefferson (PTB-RJ). O próprio Jefferson era candidato à Presidência, mas foi barrado pela Justiça, considerado ficha-suja —ele foi condenado criminalmente no mensalão e foi preso.
Com a saída de Jefferson, Kelmon Luís da Silva Souza, 45, natural de Acajutiba (BA), registrou-se no TSE com candidato. Como ocupação, afirmou ser sacerdote ou membro de ordem religiosa. "Eu sou católico ortodoxo", afirmou.
Ele recebeu R$ 1,5 milhão em recursos para a campanha —até o momento, gastou R$ 1,2 milhão. Segundo informou ao TSE, seu patrimônio é de apenas R$ 8.500, basicamente aplicações em poupança.
No site do PTB, Padre Kelmon é descrito como "homem cristão, conservador e de direita, que sempre se dedicou à igreja e ao combate da esquerda no país". Ele ajudou a criar o Movimento Cristão Conservador e lidera o Movimento Cristão Conservador Latino Americano (Meccla).
Esta é a primeira participação de Kelmon em um debate com os demais presidenciáveis. Ele, que se intitula padre ortodoxo, não faz parte da comunhão das Igrejas Ortodoxas do Brasil, e ficou conhecido por divulgar em seu canal no YouTube vídeos convocando apoiadores para manifestações em favor de Bolsonaro.
Nas considerações finais do debate, ele afirmou aos eleitores para não votarem na esquerda. E pediu voto para si mesmo. Apesar disso, durante todo o debate atuou como cabo eleitoral de Jair Bolsonaro. Chegou a reclamar que os outros candidatos estavam criticando o atual presidente da República.
Eu estou só observando a fala de cada um. Cinco contra um. Mas, agora, são cinco contra dois porque nós somos candidatos de direita"
Kelmon Souza, candidato
Bolsonaro iniciou o debate perguntando a Kelmon sobre a perseguição religiosa na Nicarágua. Ele afirmou que os cristãos deveriam se unir contra os que perseguem religiosos. Bolsonaro gostou:
Prezado padre, parabéns pela sua exposição"
Jair Bolsonaro, presidente
Ao final do primeiro bloco do debate, Bolsonaro foi até Kelmon e o cumprimentou.
Bolsonaro gostou tanto que mandou outra pergunta para Kelmon e evitou fazer perguntas para outro candidato. "O senhor tem ajudado muito este país", afirmou Kelmon.
Será que o presidente não fez nada de bom para o Brasil?"
Kelmon, candidato
Ciro explica que aborto é decidido no Congresso
Depois, Kelmon fez pergunta a Ciro Gomes (PDT), falando sobre aborto. O candidato explicou a ele que o tema não é definido pelo presidente, mas pelo Parlamento. E acrescentou que, nos últimos anos, os congressistas não têm tido interesse em mudar as leis sobre o tema. "Quero só lhe advertir com muita humildade e cuidado é de que o nosso poder como presidente para este assunto é nenhum", afirmou Ciro, que se apresentou como cristão e antiaborto.
Depois, Kelmon disse a Simone Tebet que ela era feminista e apoiadora do aborto. Ela afirmou ser católica, contra o aborto e contra os salários diferentes de homens e mulheres. "O feminismo precisa ser entendido como uma pauta cristã", respondeu a senadora. "Confesso que tenho dúvidas se teria coragem de me confessar com você. Eu jamais me confessaria como senhor."
Corrupção incomoda Kelmon
Kelmon se sentiu desconfortável quando foi questionado por jornalistas sobre a condenação de Jefferson por corrupção e sobre a Lei da Ficha Limpa. A repórter queria saber o que ele faria para evitar que políticos condenados concorressem. Ele não respondeu.
Em vez disso, Kelmon reclamou de o réu condenado Jefferson ter sido barrado, mas Luiz Inácio Lula da Silva (PT), não. O petista foi barrado nas eleições de 2018 por causa da mesma lei, mas concorre agora porque o Supremo Tribunal Federal anulou as condenações criminais de Lula. Kelmon ainda aproveitou para defender Bolsonaro, dizendo que o presidente estava sendo atacado pelos cinco candidatos.
No comentário, Luiz Feliz D'ávila (Novo) disse ter orgulho de fazer parte de um partido que só admite filiados que se enquadrem na Lei da Ficha Limpa. Em resposta, Kelmon rebateu: "Se ele se orgulha de ser partido de Ficha Limpa, nós nos orgulhamos de ser partido de direita e que defende Deus", afirmou.
Líder nas pesquisas, Lula faltou ao debate de sábado. É uma estratégia para não se desgastar e evitar problemas de desempenho. Formalmente, ele afirmou que não iria porque tinha muitos compromissos. Mas também afirmou que não teve tempo de estudar o padre Kelmon, neófito nos debates.
O padre tem sede
Entre todos os candidatos que compareceram ao debate do SBT, o Padre Kelmon (PTB) foi o único que voltou para o camarim depois do programa. Ele procurou a produção da emissora e justificou que tem problema nos joelhos e estava sentido dores por ficar duas horas e meia em pé.
Quando chegou ao camarim, Padre Kelmon descobriu que tinham levado as bebidas embora e fez novo pedido à produção do SBT. Sobrou para um auxiliar que precisou ir atrás de água. Não havia nenhuma garrafa próxima e o funcionário teve de ir até a água dos jornalistas, de onde saiu com um fardo.
Os outros candidatos criticaram a atuação de Kelmon. "É envergonha; eu sou católica, eu vi aqui a religião ser misturada com a política da pior forma possível", afirmou Simone Tebet (MDB). "Uma pessoa tendenciosa, que não me representa enquanto cristã colocando palavras na minha boca. Um líder religioso está pronto para perdoar, para ouvir, para conciliar. Jamais para pré-julgar, jamais para mentir."
Kelmon disse que "missão" foi cumprida
"Gostei muito do debate", disse Kelmon ao final do evento. "Saio daqui com sentimento de missão cumprida. Minha candidatura é para defender valores, a vida, a direita, Deus, pátria, família, liberdade", continuou, citando trechos do lema de Jair Bolsonaro. Ele pediu ainda que os eleitores votem em deputados federais do PTB.
Erroneamente, ele disse que era "a primeira vez que um sacerdote, um padre participa de um debate presidencial". Na verdade, houve pelo menos outra ocasião em que sacerdotes foram candidatos a presidente. Em 2014, o Pastor Everaldo Pereira (PSC) concorreu ao Planalto.
*Participaram desta cobertura:
Em São Paulo: Caê Vasconcelos, Felipe Pereira, Isabela Aleixo, Juliana Arreguy e Wanderley Preite Sobrinho.
No Rio: Lola Ferreira.
Em Brasília: Camila Turtelli, Eduardo Militão, Gabriela Vinhal e Leonardo Martins
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