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Ausente, Lula é alvo; Bolsonaro briga com mulheres e tem ajuda de nanico

Do UOL em São Paulo, Rio e Brasília*

24/09/2022 20h05Atualizada em 25/09/2022 14h44

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o presidente Jair Bolsonaro (PL) foram alvos no debate de presidenciáveis promovido por SBT, CNN Brasil, Veja, O Estado de S. Paulo, Nova Brasil FM e Terra neste sábado (24).

Lula, no entanto, não foi ao programa e as críticas a ele apareceram principalmente em entrevistas antes do debate e no primeiro bloco. No estúdio, Bolsonaro contou com a ajuda de um candidato desconhecido.

Simone Tebet (MDB) e Soraya Thronicke (União Brasil) foram as mais incisivas nas discussões com o presidente. A primeira citou o orçamento secreto —Bolsonaro negou que tenha envolvimento e ainda disse que as duas candidatas teriam recebido verbas por meio desse mecanismo. Ambas negaram.

Por outro lado, os candidatos de Kelmon Souza (PTB), o Padre Kelmon, e Felipe D'Avila (Novo) serviram de apoio ao presidente que tenta a reeleição. Kelmon —que teve a sua candidatura confirmada no início deste mês— chegou a elogiar a gestão federal e disse que o debate era de "cinco contra dois", referindo-se aos demais candidatos contra ele próprio e Bolsonaro. D'Avila criticou o PT em quase todas as suas participações —ainda que a pergunta tivesse a ver com o atual governo.

Apesar das provocações e de uma série de pedidos de direitos de resposta, o debate, que durou duas horas, foi morno. Apenas Bolsonaro teve três direitos de resposta —dois a partir de falas de Ciro Gomes (PDT) e outro, de Soraya.

O que você precisa saber sobre o 2º debate dos presidenciáveis:

  • Todos os candidatos criticaram a ausência de Lula --que lidera as pesquisas de intenção de voto-- na chegada à emissora e principalmente no primeiro bloco do debate. O petista estava em um ato na zona leste de São Paulo.
  • Bolsonaro, que está em segundo lugar nas pesquisas, virou alvo no debate. Mas teve ajuda de Padre Kelmon, candidato do PTB que seguiu a agenda do presidente --elogiou a gestão federal, criticou cotas e países que são governados pela esquerda.
  • Soraya e Tebet foram as principais oponentes de Bolsonaro e foram acusadas de receber verbas do orçamento secreto --ambas negaram. A primeira fez uma provocação sexista e a segunda se disse cristã e citou o corte de despesas em merendas.
  • Isolado, Ciro reclamou da polaridade entre Lula e Bolsonaro e do chamado "voto útil".

O que os candidatos disseram:

O Lula produziu uma onda de propaganda [que] é o seguinte: todo mundo que não for Lula é fascista. E ele tem a oportunidade de caracterizar de fascista o Bolsonaro, e em vez de vir aqui, foge."
Ciro Gomes

A judicialização feita contra o Executivo é clara, quase toda semana tem algo contra o Executivo (...) Tenho certeza, caso reeleito, indicarei mais dois para o Supremo, com quatro pessoas lá dentro pensando em prol do Brasil, o Supremo [Tribunal Federal] mudará a forma de agir. Não mais interferirá tanto na vida de todos nós."
Jair Bolsonaro

Eu gostaria que o senhor [Bolsonaro] explicasse para as pessoas a diferença entre o mensalão e o orçamento secreto."
Felipe D'Avila

Todos os candidatos aqui [estão] atacando um só, o presidente da República! Cinco contra um. Mas agora são cinco contra dois, porque nós somos candidatos de direita."
Padre Kelmon

O feminismo no Brasil precisa ser entendido não como uma pauta de esquerda, mas como uma pauta cristã."
Simone Tebet

Quero dizer ao candidato Jair Bolsonaro: não cutuque onça com sua vara curta, respeito."
Soraya Thronicke

Veja as principais frases do debate aqui

Como foi o debate:

'Lula fugiu'. A ausência do ex-presidente Lula foi o principal assunto da chegada dos presidenciáveis ao debate do SBT. Lula havia informado que não iria porque teria uma agenda com dois eventos na cidade de São Paulo.

Soraya Thronicke classificou Lula como "covarde", enquanto Tebet disse que o ex-presidente "correu" do debate. Já Bolsonaro chamou o adversário de presidiário. "A ausência do presidiário, do ex-presidiário, demonstra que ele não tem qualquer compromisso para com a população", afirmou.

As críticas à ausência de Lula continuaram no primeiro bloco, mas rarearam nas outras partes do programa. No mesmo horário, o petista estava em um ato em Itaquera, zona leste de São Paulo.

Dobradinha ideológica. Logo no início do debate, Bolsonaro falou sobre uma suposta ameaça aos cristãos brasileiros, citando a situação da Nicarágua, onde há conflitos entre a ditadura de Daniel Ortega e a Igreja Católica. Ao responder Bolsonaro, Padre Kelmon disse que os brasileiros "correm os mesmos riscos". O presidente parabenizou o candidato "por sua posição".

A dobradinha continuou nos demais blocos. Kelmon voltou à pauta conservadora, se disse cristão e antiaborto —o que fez com Ciro explicasse que a questão do aborto é decidida no Congresso.

Na última parte, Kelmon voltou a criticar a esquerda —dessa vez, numa resposta à D'avila. "Onde a esquerda coloca as mãos para governar apodrece tudo, tiram o direito das pessoas de se alimetar e viver".

O candidato do PTB —que se apresenta como padre— não faz parte da comunhão das Igrejas Ortodoxas do Brasil, e ficou conhecido por divulgar em seu canal no YouTube vídeos convocando apoiadores para manifestações em favor de Bolsonaro.

Mulheres contra Bolsonaro. Se D'avila e Kelmon se posicionaram mais próximos de Bolsonaro, Soraya e Tebet foram as mais críticas.

"Candidato, você diz que defende as famílias brasileiras mas você não respeitou a dor das famílias que perderam entes na pandemia, que você não respeita as mulheres brasileiras todo mundo já sabe", afirmou Tebet logo na sua primeira pergunta.

A emedebista disse ainda que o presidente "não trabalha, anda de jet-ski, moto, não conhece a realidade do Brasil. Por isso que diz, e disse, que o Brasil não tem fome".

Soraya atacou o presidente ao ser questionada por Ciro sobre o fato de ter se "arrependido" de ter apoiado Bolsonaro na eleição de 2018. "Foi ele que abandonou", respondeu a candidata. "Ele traiu o nosso partido, eu continuo nele. Eu continuo no mesmo lugar, a pergunta tem que ser para ele: por que é que ele traiu a nação brasileira?"

Orçamento e transparência. Tebet voltou à carga contra Bolsonaro ao mencionar a instituição do orçamento secreto, "para comprar apoio no Congresso Nacional". Ele se esquivou da responsabilidade.

O orçamento secreto é um sistema criado em 2020 a partir de um acordo entre o governo Jair Bolsonaro e o Congresso Nacional para que uma parte significativa das verbas federais seja administrada por deputados e senadores. É uma mudança drástica no modo como o dinheiro público é usado, porque torna o processo menos transparente, sem uma prestação de contas clara, e menos planejado.

Isso é corrupção. Hoje as nossas crianças estão comendo bolacha e suco em pó. No meu governo vai ser diferente, eu não terei um governo corrupto como o do senhor e do PT, eu dou importância e respeito às crianças do Brasil."
Simone Tebet

O presidente respondeu acusando Tebet de derrubar "o veto do dito 'orçamento secreto'". Bolsonaro responsabilizou o Congresso pelo dinheiro retirado do orçamento para dividir entre parlamentares que apoiam o governo.

"Esse orçamento é totalmente administrado pelo relator, ora do Senado, ora da Câmara", disse. Apesar de dizer que não tem a "relação dos parlamentares que usam desse recurso", Bolsonaro afirmou que as suas candidatas —então senadoras— foram beneficiadas pelo esquema. "No ano passado, a senhora usou desse recurso. A sua atual vice [Mara Gabrilli, PSDB-SP], no corrente ano, usou também desse recurso."

O orçamento é uma lei, e para ser lei passa pelo Parlamento. A senhora, repito, a senhora tem uma chance enorme, maravilhosa de, agora, como parlamentar, pegar dinheiro desse dito 'orçamento secreto' e mandar para essas áreas carentes."
Jair Bolsonaro

Já no segundo bloco, Bolsonaro relacionou Soraya ao orçamento secreto. "A senadora Soraya, em matéria aqui de quase toda a imprensa, ela fez uso de 114 milhões do dito orçamento secreto", afirmou. Ela reagiu. "Não cutuque onça com sua vara curta."

Durante toda a discussão, os três —Bolsonaro, Tebet e Soraya— negaram envolvimento no orçamento secreto.

O que é o que é. Bolsonaro chamou a atenção ao pedir direito de resposta no primeiro bloco do debate mesmo sem ter sido citado nominalmente. Ele fez o pedido depois de uma indireta de Soraya, que mencionou polêmicas do governo em pergunta a Felipe D'Avila.

Candidato, você já brincou de o que é o que é? Eu vou te perguntar. O que é o que é, não reajusta merenda escolar mas gasta milhões com leite condensado? Tira remédio da farmácia popular, mas mantém a compra de Viagra? Não compra vacina para Covid, mas distribui prótese peniana para seus amigos. O que é, o que é?"
Soraya Thronicke

Bolsonaro ganhou o direito de resposta e aproveitou para lembrar que ela se elegeu senadora apoiando o atual presidente. "Todo o seu material de campanha está escrito 'a candidata de Jair Bolsonaro". A senhora é uma estelionatária'", atacou.

Disfunção erétil. Ainda no direito de resposta sobre a charada de Soraya, Bolsonaro tentou se explicar sobre a compra de Viagra. Começou dizendo que "é medicamento cujo efeito colateral é combater a disfunção erétil".

Isso é usado por todos os médicos do Brasil, até a senhora governadora do Rio Grande do Norte comprou."
Jair Bolsonaro

Soraya se referia ao fato de as Forças Armadas terem aprovado a compra de 35.320 comprimidos de Viagra, segundo dados do Portal da Transparência revelados em abril.

Na boca do povo. Sem Lula, Bolsonaro foi o postulante mais citado pelos outros candidatos no debate, segundo monitoramento da empresa Quaest divulgado pela CNN Brasil durante a exibição do debate.

  • No primeiro bloco, Bolsonaro ficou com 47% das menções dos candidatos. Lula, com 38%.
  • No segundo bloco, o presidente se manteve em primeiro, com 35%, e Lula caiu para o quinto lugar, com 8%.
  • Já no terceiro bloco, Bolsonaro perdeu o posto de liderança para Simone Tebet, que ficou com 27%, e o presidente com 26%.

No entanto, nas redes sociais, a maioria das menções ao presidente foram negativas no primeiro bloco e, no segundo bloco, as menções positivas e negativas empataram, segundo Guilherme Russo, diretor de inteligência da Quaest.

Novo debate entre presidenciáveis. Esse foi o segundo debate entre os candidatos à Presidência da República. O primeiro encontro foi promovido pelo UOL com o jornal Folha de S.Paulo e TV Bandeirantes no dia 28 de agosto.

Na próxima quinta-feira (29), o último debate entre os presidenciáveis será na Rede Globo, com presença confirmada de Lula. Segundo aliados, Bolsonaro deve ir —mas deve confirmar em cima da hora. Você pode conferir a cobertura completa no UOL.

* Participaram desta cobertura:

Em São Paulo: Caê Vasconcelos, Felipe Pereira, Isabela Aleixo, Juliana Arreguy e Wanderley Preite Sobrinho.
No Rio: Lola Ferreira.
Em Brasília: Camila Turtelli, Eduardo Militão, Gabriela Vinhal e Leonardo Martins.