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Campanha de Bolsonaro aposta em abstenção; Lula clama por comparecimento

Lula discursa durante comício em Grajaú, em São Paulo - Lucas Borges Teixeira/UOL
Lula discursa durante comício em Grajaú, em São Paulo Imagem: Lucas Borges Teixeira/UOL

Do UOL, em Brasília

29/09/2022 04h00Atualizada em 03/10/2022 18h08

Sem fórmula mágica para mudar o rumo da campanha nesta reta final, a equipe do presidente Jair Bolsonaro (PL) torce por um alto índice de abstenção entre os eleitores do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) na eleição do próximo domingo (2). O petista, por sua vez, investe para tentar sensibilizar o comparecimento dos eleitores.

Bolsonaro tem tentado emplacar a teoria do "Datapovo" para contrapor seu desempenho nas pesquisas eleitorais, que mostram desvantagem para ele em relação a Lula. A comparação, porém, é um equívoco, já que as pesquisas usam métodos científicos e não podem ser comparadas com atos populares.

Mobilização x abstenção. A narrativa dos auxiliares do presidente que ainda tentam se mostrar otimistas é de que o poder de mobilização de Bolsonaro vai fazer o seu eleitor ir também às urnas. E que a tendência é que a abstenção fique mesmo em uma camada de eleitores do petista.

A aposta, segundo aliados de Bolsonaro, é que o índice de abstenção deva ser, pelo menos, similar ao de 2018, que ficou em 20,3%. Já no PT, a meta é tentar reduzir esse índice para 15%, segundo apurou o UOL.

No último fim de semana, Lula disse, durante um comício em São Paulo, que as pessoas precisam ir às urnas e que tudo o que Bolsonaro quer é "que o povo não compareça para votar".

A campanha do petista pretende intensificar a ofensiva contra abstenção e pelo voto útil para evitar uma desmobilização nos três dias que antecedem o pleito.

Escolaridade versus abstenção. Um estudo feito pelo cientista político Jairo Nicolau, da FGV (Fundação Getulio Vargas), mostra que a escolaridade do eleitor é um fator decisivo para o comparecimento no dia da votação: quanto maior o nível de instrução, mais chances de ir votar.

Ele analisou os dados do TSE (Tribunal Superior Eleitoral) de 2018 e concluiu que menos da metade dos eleitores analfabetos (49,2%) foi votar —e o voto não é obrigatório para esse grupo. Por outro lado, 88,4% dos eleitores com curso superior foram às urnas.

Pesquisa Ipec divulgada no último dia 26 mostra que Lula tem a preferência entre eleitores que concluíram até o ensino fundamental (55%), seguido pelo grupo que terminou o ensino médio (45%) e o superior (42%); o eleitor que prefere Bolsonaro é mais escolarizado (26%, 33% e 36%, respectivamente).

Mulheres. Ao analisar os dados de 2018, Nicolau apontou outro indicativo sobre o peso do voto feminino: as mulheres, que são a maior fatia do eleitorado (cerca de 53%), tiveram maior índice de comparecimento (80,4%) no primeiro turno do que os homens (79,2%).

Segundo o Ipec, Lula tem 51% dos votos das mulheres, enquanto Bolsonaro tem a preferência de 26% desse grupo.

"Apenas nas duas faixas inferiores (analfabetos e eleitores que sabem apenas ler e escrever) o comparecimento masculino é superior ao feminino. Nas outras seis faixas, as mulheres compareceram mais do que homens", mostram os dados levantados por Nicolau.

Redução do medo de violência. O ex-ministro e deputado federal Alexandre Padilha (PT-SP) disse ao UOL que uma das estratégias do partido para estimular o comparecimento no dia da eleição é tentar minimizar o risco de violência.

Segundo Padilha, a ideia é reforçar que o momento é importante para participar, "sem ódio e sem medo".

"Em todo o país, Lula e Alckmin têm o maior número de candidaturas de deputados que carregam seus nomes, além de palanques regionais fortes que estão mobilizando, conversando e agindo nas regiões de maior abstenção para estimular as pessoas a irem votar e tranquilizar a população em relação a questões sobre violência", afirma.

Garantir o transporte. O ex-ministro diz ainda que vereadores e lideranças locais estão se mobilizando nos últimos dias para evitar eventuais tentativas de redução do transporte em algum município que possam obstruir ou dificultar o direito do cidadão ao voto.

Não há indicativos de sabotagem do transporte público, afirma, mas, segundo ele, já houve relatos de redução do transporte público em dia de eleições locais no país.

"Tradicionalmente os governos municipais e estaduais solicitam à Justiça eleitoral apoio logístico para garantir a realização das eleições", diz ele.

Até quando vai ter jogo? Do lado bolsonarista, ainda há uma confiança de que a disputa ainda tem chance, apesar de as pesquisas apontarem Lula perto da possibilidade de liquidar a disputa já em 2 de outubro.

"O segundo turno está assegurado. Não há possibilidade de primeiro turno para nenhum lado. A macroeconomia está indo bem, mas temos a crise ainda afetando os mais humildes", diz o líder do governo na Câmara, deputado Ricardo Barros (PP-PR).