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Eleitor do Paraná reabilita, no voto, Moro e Dallagnol para a política

10.dez.2021 | Deltan Dallagnol e Sergio Moro em evento do Podemos - Theo Marques/UOL
10.dez.2021 | Deltan Dallagnol e Sergio Moro em evento do Podemos Imagem: Theo Marques/UOL

Graciliano Rocha

Colunista do UOL

02/10/2022 20h18Atualizada em 02/10/2022 21h51

Tradicionalmente conservador, o eleitorado paranaense realizou, com uma enxurrada de votos nas urnas, um ato de desagravo a expoentes da Lava Jato, anos depois que a operação caiu no ostracismo sob alegações de violações processuais de investigadores e juiz.

Testado nas urnas pela primeira vez, o ex-juiz federal Sergio Moro (União Brasil) venceu a disputa para o Senado, prometendo ser oposição em um eventual governo Lula —réu a que, como magistrado, condenou por corrupção em 2017.

Ex-procurador-chefe da força-tarefa do Ministério Público Federal, Deltan Dallagnol foi o deputado federal mais bem votado no estado, superando os 325 mil votos.

Lula, que passou 580 dias preso e teve suas condenações e investigações anuladas, deve terminar o primeiro turno à frente de Jair Bolsonaro (PL).

A chamada "República de Curitiba" caiu em desgraça a partir de 2019 —quando aconteceu a chamada Vaza Jato, um escândalo em que foram expostas mensagens trocadas entre o ex-juiz Moro com Dallagnol via Telegram.

Tanto Moro quanto Dallagnol responderam, em ocasiões anteriores, que as mensagens capturadas por hackers nunca foram periciadas e que o conteúdo —a aparente indicação de testemunhas pelo juiz e aspectos de processos— não seriam ilegais.

Muitas condenações de Moro —entre elas a que levou o ex-presidente Lula à prisão e tirou-o da eleição de 2018— foram anuladas por questões processuais, após o escândalo.

Moro fez campanha prometendo ser oposição no Senado em caso de volta de Lula à Presidência da República, além de levar a pauta anticorrupção, que definhou sob a gestão Bolsonaro. O cargo de ministro da Justiça foi sua estreia na política.

Não foi a única reconciliação política. O ex-juiz, que foi ministro de Bolsonaro até deixar o cargo em 2020 acusando o presidente de interferir na Polícia Federal, também reaproximou-se de parte da base bolsonarista do Paraná.

Na reta final da campanha, Moro acusou Alvaro Dias —seu ex-aliado— de firmar um "pacto diabólico com o PSB, MST, o PT e o Lula".

Na verdade, referia-se ao fato de parte da esquerda ter votado em Dias a fim de derrotar o antigo algoz de Lula. Dias chamou a informação de mentirosa, mas a Justiça Eleitoral manteve a propaganda de Moro.

Com isso, tirou o foco do fato de primeiro ter tentado se candidatar em SP e, só depois de não conseguir, buscou o voto no Paraná.

O resultado que saiu das urnas traz algumas ironias e indícios de traições partidárias.

Em tese, o ex-procurador Dallagnol pertence ao Podemos, mesmo partido de Alvaro Dias, adversário de Moro. Isso aconteceu porque, no ano passado, Moro foi lançado candidato a presidente pela legenda.

Neste ano, o ex-juiz rompeu com o partido e foi para o União Brasil. Não conseguiu manter a candidatura presidencial nem a disputa pelo Senado em São Paulo, sua primeira opção.

Dallagnol permaneceu no Podemos, mas parte de sua base fez campanha para Moro, e não para Dias, conforme o UOL pode perceber entre participantes de carreatas do ex-juiz nos últimos dias de campanha em Curitiba e na região metropolitana.

O resultado no Paraná difere dos principais cenários previstos por institutos de pesquisa nos últimos dias. O Ipec dava vitória de Alvaro Dias sobre Moro. O Paraná Pesquisa apontava um empate técnico entre o ex-juiz e o senador do Podemos.