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Terceira via não emplaca em eleição polarizada

Candidatos a presidência no debate da Globo - Foto: Globo / João Miguel Junior
Candidatos a presidência no debate da Globo Imagem: Foto: Globo / João Miguel Junior

Do UOL, em Brasília

02/10/2022 23h19Atualizada em 03/10/2022 17h44

A terceira via não emplacou em 2022. Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Jair Bolsonaro (PL) concentraram a maior parte dos votos válidos nesta eleição.

Com 99,71% das urnas apuradas, Lula e Bolsonaro concentram 91,61% dos votos. Em terceiro lugar, Simone Tebet (MDB) obteve 4,16%.

Cientistas políticos ouvidos pelo UOL afirmam que a construção das candidaturas alternativas à polarização se deu muito mais por posicionamento político do que por iniciativa da sociedade. Assim, afirmam, a ideia de um nome que representasse a terceira via não se deu pela ascensão natural de uma liderança por desejo da população.

"Mesmo com uma certa demanda por um candidato que não fosse Lula ou Bolsonaro, não surgiu um nome satisfatório para suprir a demanda", diz o cientista político Claudio Couto, professor da FGV (Fundação Getulio Vargas).

"As pesquisas mostraram em 2021 que havia cerca de um terço do eleitorado que queria outro candidato, mas ninguém chegou efetivamente a empolgar."

Responsável pela análise de risco político na Tendências Consultoria, Rafael Cortez destaca que vários nomes tentaram se viabilizar para furar a polarização, mas todos enfrentaram dificuldade para criar capital político nacional e empolgar o eleitor a ponto de reduzir a radicalização no ambiente eleitoral.

"Pareceu muito mais um posicionamento político do que uma demanda concreta associado a uma ideia de que a terceira via poderia trazer ganhos do ponto de vista democrático e de um apelo por renovação, do que propriamente algo com chances reais", diz ele.

Polarização

Bruno Bolognesi, professor na UFPR (Universidade Federal do Paraná), diz que a participação de dois líderes carismáticos praticamente inviabilizava a ascensão de outro nome com chances reais de vencer.

Para ele, se a eleição não estivesse tão apertada não teria voto útil na reta final e esvaziamento das candidaturas alternativas a Lula e Bolsonaro.

Couto, da FVG, diz que esse movimento era esperado por causa da concentração de votos na dupla que liderou as pesquisas. "Não tem muito voto a ser distribuído entre os demais."

Cortez, da Tendências Consultoria, diz que a demora para surgir um nome que representasse alternativa para furar a polarização dificultou o engajamento do eleitor com outra candidatura que não a dos líderes das pesquisas.

"A terceira via demorou para entrar no jogo e ter a cara de um candidato", afirma. "Isso exacerbou a diferença entre o peso político de candidatos que já foram presidentes ante pessoas sem cargo nacional na eleição que é uma das mais concentradas desde a redemocratização", acrescenta.

Para Claudio Couto, "as pessoas se resignaram a optar por um dos dois que tinham mais chances" e a concentração de votos em Lula e Bolsonaro cresceu ao longo do tempo.

"A partir do momento em que as pessoas foram se decidindo por eles, ficou cada vez mais difícil recuperar esse eleitorado. A competição ficou mais fechada e ninguém conseguiu furar o bloqueio", diz ele.

"Na cabeça do eleitor existe a ideia de fazer a escolha mais efetiva, não necessariamente a de sua preferência", acrescenta.