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Bancadas coletivas têm recorde de candidaturas, mas apenas duas se elegem

Bancada Feminista (PSOL) foi eleita e 3ª mais votada em São Paulo - Bob Wolfenson
Bancada Feminista (PSOL) foi eleita e 3ª mais votada em São Paulo Imagem: Bob Wolfenson

Gabryella Garcia

Colaboração para o UOL, em São Paulo

04/10/2022 14h20Atualizada em 04/10/2022 15h06

As eleições de 2022 apresentaram um boom das chamadas candidaturas coletivas. Levantamento apontou que ao menos 213 chapas coletivas concorreram ao Legislativo no pleito deste ano. O estudo foi feito pela doutora em cientista política Bárbara Campos e pela mestranda em direito eleitoral Mariane Costa.

Contudo, desse total, apenas duas conseguiram se eleger como deputadas estaduais em São Paulo: Monica do Movimento Pretas (PSOL) e Paula da Bancada Feminista (PSOL). O número de eleitas é igual ao de 2018.

O número mostra um aumento significativo de nomes lançados em relação às últimas eleições. Dados da Raps (Rede de Ação Política pela Sustentabilidade) apontam que, somando as eleições de 2016 e 2018, houve o registro de 98 candidaturas coletivas no TSE (Tribunal Superior Eleitoral). Comparando os dois anos com 2022, houve um aumento de 117%.

Para Carolina Iara (PSOL), primeira deputada intersexo de todo o país, eleita pela Bancada Feminista, as candidaturas coletivas ganham cada vez mais espaço por conseguirem aumentar a representatividade e ampliar as vozes de populações que historicamente são excluídas e subrepresentadas.

"Esse modelo consegue ao mesmo tempo criar maior capilaridade de votos e representação e também levar para esses cargos e espaços de poder pessoas de comunidades e populações marginalizadas que dificilmente conseguiriam entrar pelo modelo tradicional de política. Outra coisa importante é que traz é a própria discussão da coletividade nos espaços de poder, então acaba minando um pouco a imagem personalista do político tradicional. Colocamos à disposição da sociedade um projeto coletivo com conteúdo político e pluralidade de representação", afirmou ao UOL.

A pesquisa ainda indicou que a maioria das candidaturas em 2022 foi constituída por pessoas negras (57%) e estavam espalhadas pelo país inteiro. Apenas em Roraima, Acre, Rondônia e Mato Grosso não foram identificadas candidaturas desse caráter. Deste total, a maioria se concentra no Nordeste (37%) e no Sudeste (24%), em especial nos estados de Pernambuco, Maranhão e São Paulo.

Em relação aos partidos políticos, essas candidaturas se concentram majoritariamente na esquerda. PSOL (33%) e PT (16%) são os partidos que sobressaem. As únicas siglas sem registros de candidaturas coletivas foram PL, Novo, PCB, PP, DC, PROS e PCO.

O mandato coletivo faz uma distribuição de tarefas e representações que consegue abarcar muito mais pautas e coisas. Isso faz o modelo ganhar legitimidade."
Carolina Iara, codeputada estadual eleita em São Paulo pela Bancada Feminista

Em 2018, apesar de um número menor de candidaturas, também foram duas as representações coletivas que conseguiram se eleger para as assembleias legislativas.

Em São Paulo, a Bancada Ativista alcançou 149.844 votos e foi representada por Chirley Pankará, Claudia Visoni, Fernando Ferrari, Jesus dos Santos, Monica Seixas, Paula Aparecida, Raquel MarquesRammi e pela agora deputada federal Erika Hilton (PSOL).

Já em Pernambuco, com mais de 39 mil votos, o Juntas ocupou a Assembleia Legislativa de Pernambuco com Carol Vergolino, Joelma Carla, Jô Lima, Kátia Cunha e Robeyoncé Lima.

Quem faz parte do Movimento Pretas

Representado nas urnas por Monica Seixas, que se elegeu pela Bancada Ativista em 2018, o Movimento Pretas recebeu 106.781 votos para a Assembleia Legislativa de São Paulo em 2022. A candidatura é composta por sete mulheres negras e tem o intuito de priorizar as pautas e lutas dos grupos vulnerabilizados.

Suas atenções tstão voltadas principalmente ao antirracismo, feminismo, ecossocialismo, combate à fome, educação de qualidade, maternidade, LGBTQIA+, defesa da cultura e do patrimônio negro e indígena, saúde e democratização do acesso ao transporte.

Além de Monica, fazem parte do Movimento Pretas: Ana Laura Cardoso Oliveira, Karina Correia, Letícia Siqueira das Chagas, Najara Costa, Rose Soares e Poliana Nascimento.

Quem é a Bancada Feminista

A Bancada Feminista surgiu na disputa das eleições municipais de São Paulo em 2020, sendo a sétima candidatura mais votada, com um total de 46.267 votos.

À época, o grupo era formado por Silvia Ferraro, Paula Nunes, Carolina Iara, Dafne Sena e Natália Chaves. Agora, o mandato permanece na Câmara de São Paulo e Paula e Carolina se juntaram a Simone Nascimento, Mariana Souza e Sirlene Maciel para ocupar uma das 94 cadeiras da Assembleia Legislativa de São Paulo. A chapa recebeu 259.771 votos e foi a terceira candidatura mais votada.

Ao UOL, Carolina Iara afirmou que, além de pessoalmente continuar o legado de Erica Malunguinho como única pessoas trans na Alesp, o mandato também tem um compromisso de trabalhar pela segurança pública, contra o genocídio da população negra, pelos territórios indígenas de São Paulo, por questões de moradias e ocupações e também ter um olhar ecossocialista para a questão do agronegócio no interior do estado.

"Queremos utilizar o mandato como trincheira de luta para a classe trabalhadora e a população marginalizada e fazer o enfrentamento, seja com um governo progressista ou de extrema-direita. Temos uma série de propostas que construímos durante o ano na Câmara e nosso compromisso é continuar com essas demandas na Alesp."

Cargos aos quais candidaturas coletivas concorreram em 2022:

  • Deputado estadual/distrital: 137
  • Deputado federal: 71
  • Senador: 5