Bolsonaro se irrita com pergunta de repórter mulher sobre orçamento secreto
O presidente Jair Bolsonaro (PL) se irritou com a pergunta de uma jornalista sobre o chamado orçamento secreto, em Ceilândia (DF), na manhã de hoje. As emendas do relator são criticadas pela inexistência de um mecanismo claro de monitoramento e transparência em relação ao pagamento, destino e objetivo da aplicação de recursos da União.
A repórter Julia Affonso, do Estadão, questionou: "Presidente, em dezembro de 2019, o senhor recuou do veto do orçamento e mandou para o Congresso o projeto...".
O chefe do Executivo a interrompeu para responder: "Por favor... Você não aprendeu sobre o orçamento secreto ainda, que não é meu? Pelo amor de Deus, para com isso. O orçamento secreto é uma decisão do Legislativo que eu vetei, e depois derrubaram o veto".
"Depois o senhor recuou do veto", afirmou a jornalista.
Bolsonaro disse: "Quem recuou do veto? Ah, eu desvetei? Desconheço 'desvetar'".
O presidente chegou a vetar por duas vezes dispositivos referentes à criação das emendas de relator para o Orçamento de 2020 e de 2021. Nas duas ocasiões, parlamentares pressionaram o governo contra a decisão — em uma, o Congresso derrubou o veto presidencial. Na outra, fez um acordo com o Executivo para aprovar outra lei sobre o tema.
Entretanto, Bolsonaro sancionou o projeto sem vetos relacionados ao orçamento secreto, para o Orçamento deste ano e para o de 2023. Na prática, ele "autorizou" a manutenção do pagamento sem critérios desse dinheiro e incluiu a digital do governo.
Apesar de o presidente jogar a responsabilidade para o Congresso, todo pagamento é controlado pelo governo, que escolhe quando e qual parlamentar será beneficiado. O congressista, nesse caso, indica para onde vai o dinheiro e, até mesmo, o que deve ser comprado com o montante.
O que mudou no cenário político desde então? A aliança entre Bolsonaro e partidos do centrão — inclusive a filiação dele ao PL, partido de Valdemar Costa Neto, no ano passado — foi concretizada.
Em 2019, quando as emendas foram criadas, o chefe do Executivo não queria negociar com o Congresso — Bolsonaro foi eleito em 2018 atacando o que chamava de "velha política" e com a promessa de não lotear seu governo.
Em abril de 2020, porém, em meio à escalada da crise em sua gestão e na tentativa de evitar a abertura de um processo de impeachment, Bolsonaro passou a negociar com o centrão.
* Com informações do Estadão Conteúdo.
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