Prefeitura de SP: Veja a íntegra da sabatina UOL/Folha com Guilherme Boulos

O deputado Guilherme Boulos (PSOL-SP) lançou sua pré-campanha à prefeitura de São Paulo em outubro de 2023. Dois meses antes, o PT já havia anunciado que apoiaria sua candidatura na eleição deste ano. Boulos já havia concorrido à prefeitura paulistana em 2020, quando chegou ao segundo turno mas foi derrotado pelo ex-prefeito Bruno Covas (PSDB), que faleceu em maio de 2021. O atual prefeito, Ricardo Nunes (MDB), era o vice-prefeito na ocasião e assumiu o cargo depois da morte de Covas.

Em fevereiro, Boulos — que se elegeu deputado federal em 2022 com a maior votação para o cargo no estado — anunciou a chegada de Marta Suplicy como vice da sua chapa. O anúncio marcou também a volta de Marta ao PT, depois de romper com a legenda em 2015. Migrou para o MDB e chegou a ocupar o cargo de secretária de Relações Internacionais na gestão Covas/Nunes entre 2021 e 2023. Ex-prefeita de São Paulo entre 2001 e 2023, a agora petista entrou na campanha de Boulos quando Nunes mostrou crescimento nas pesquisas. Boulos e o atual prefeito lideram tecnicamente empatados a corrida pela prefeitura de São Paulo, segundo o último Datafolha. Nunes tem 24% da intenções de voto, e Boulos, 23%.

A seguir, leia ou assista a íntegra da sabatina, conduzida pelos jornalistas Fabíola Cidral, Raquel Landim e Carolina Linhares.

[Fabíola Cidral]: Eu queria começar essa sabatina perguntando quem é você, Boulos. Porque é muito curioso quando a gente vai procurar a respeito do seu nome, o que falam de você nas redes. Te chamam de militante, defensor dos pobres, esquerda caviar, invasor de terras, socialista, capitalista, radical? quem é Guilherme Boulos na real? Porque você tem uma história muito curiosa. Você vem de uma elite, é filho de médicos da USP, estudava em um colégio particular, pediu para sair para estudar em uma escola pública. Você se sente um privilegiado por poder fazer essa escolha?

[Guilherme Boulos]: Eu vivi os dois lados da ponte em São Paulo. Eu tive oportunidades na minha infância, na minha juventude, que a maioria dos jovens de São Paulo, das crianças de São Paulo, não tem. Eu estudei em boas escolas, meus pais são professores da USP, médicos do SUS até hoje, aliás, devo muito a eles da minha escolha de vida, do ensino de valores, de solidariedade, de humanidade. Mas pude conhecer e viver o que é ser classe média, média alta, na cidade de São Paulo. E tomei uma opção de vida, como você mencionou, com 18 anos de idade, saí da casa dos meus pais, antes disso já tinha ido estudar em escola pública, terminei meu ensino médio na escola Fernão Dias e fui viver com os sem-teto. Tomei uma decisão.

[Fabíola Cidral]: Você abriu mão de qualquer ajuda dos seus pais ou eles continuaram te financiando nessa tua escolha?

[Guilherme Boulos]: No primeiro momento, ainda me ajudaram, mas depois não. Eu fui trabalhar como professor antes de terminar a faculdade, porque eu me formei em filosofia, se tornou obrigatório filosofia no ensino médio, não tinha professores suficientes, começaram a chamar "ultimoanistas". Aí eu fui, comecei a dar aula no estado antes de terminar a faculdade, depois dei aula em várias instituições, fui colunista da Folha, fui colunista da Carta Capital?

[Fabíola Cidral]: Você chegou a ser concursado nessa época?

[Guilherme Boulos]: Não, eu fui categoria 1. Quem é professor da rede estadual de São Paulo sabe o que é isso, é a categoria precarizada de professores do estado, que não tem os benefícios de um concursado, é um contrato temporário de professores.

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[Raquel Landim]: Deputado, vamos entrar nas eleições. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse que a disputa era, entre aspas, ele e a figura, se referindo a Jair Bolsonaro. Essa é uma eleição nacional ou é uma eleição sobre a cidade de São Paulo?

[Guilherme Boulos]: Essa é uma eleição sobre a cidade de São Paulo com impacto nacional, como toda eleição municipal da maior cidade do Brasil. Veja, o que eu vou discutir é a cidade. O que eu quero discutir com todos os paulistanos é por que São Paulo é a cidade mais rica da América Latina e a população de rua quase triplicou nos últimos três anos. É por que São Paulo está com o maior orçamento da sua história e o problema de mobilidade continua e a fila da saúde se agravou, e dobrou a fila de exames na saúde, por que nós temos uma prefeitura que gasta muito, mas resolve pouco. Eu quero discutir os temas da cidade, mas é inevitável, ainda mais num país polarizado, em tudo que a gente viveu nos últimos anos, a gente saber quem apoia quem. A gente saber que o atual prefeito, por exemplo, botou um vice indicado pelo Jair Bolsonaro que acha que a polícia tem que tratar diferente quem mora nos Jardins e quem mora na periferia. É importante, porque pense uma coisa, Raquel. Pode parecer que é polarização ideológica, não é isso não. É também sobre a cidade. Imagine se o Bruno Covas fosse aliado do Bolsonaro. Como teria sido o tratamento da pandemia na cidade de São Paulo? Como teria sido a vacinação na cidade de São Paulo? O Bruno Covas foi contra o Bolsonaro, foi atacado pelo Bolsonaro por isso. Quem era vice dele e que assumiu a cadeira agora, meu adversário nessa eleição, resolveu fechar uma aliança e vender a alma para o Bolsonaro.

[Raquel Landim]: Mas o paulistano vai para a urna preocupado com o quê?

[Guilherme Boulos]: Com a cidade. E é isso que eu vou falar na minha campanha. Aliás, vejam bem, e vocês vão se lembrar disso daqui a três meses, vão se lembrar dessa conversa nossa. Quem vai investir e a quem interessa investir em polarização ideológica é o meu adversário.
Porque ele ficou três anos no cargo e não entregou nada. Qual é a marca desse governo? Foi começar a fazer coisa na véspera de eleição. Asfalto sem planejamento, obra sem planejamento.

[Fabíola Cidral]: Mas ele está à frente na pesquisa.

[Guilherme Boulos]: Mas, lógico, com a máquina que ele tem, com a grana que ele tem, se não tivesse a frente gastando R$ 600 milhões em publicidade, e olha que está empatado. Agora, só se me permite, Carol, para concluir esse raciocínio. Então, veja, o meu adversário, como não tem o que mostrar, ele vai vir numa linha de tentar me caracterizar daquilo que a Fabíola dizia no começo. Vai vir com fake news, falando em invasão, falando em tentativa de fazer uma guerra cultural e moral, de pautas que não têm nada a ver com a cidade. Já começou a fazer isso. Já tem feito isso nas suas declarações, já tem feito isso nas suas entrevistas. Eu vou discutir a cidade de São Paulo.

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[Carolina Linhares]: Mas o senhor, a Fabíola bem disse, o senhor está empatado no público geral. Quando a gente olha para o público que está sofrendo as consequências dessa gestão que o senhor diz que não faz, que não investe, que tem problema de moradia, que tem problema de transporte, essas pessoas, os mais pobres e quem tem ensino fundamental, elas estão escolhendo o Ricardo Nunes. Nesse público, ele tem quase o dobro de intenção de voto que o senhor. Por que um candidato de esquerda não tem a votação do eleitor mais pobre e menos escolarizado?

[Guilherme Boulos]: Carol, veja uma coisa. Lembre-se da última eleição que a esquerda ganhou em São Paulo, Fernando Haddad em 2012. A essa altura do campeonato, o Haddad tinha 7% das intenções de voto, todas elas concentradas na classe média, mais de 5 e 10 salários mínimos. O público de menos de 2 salários mínimos é o último que se decide na eleição. Neste momento, quem está pensando em eleição é candidato e jornalista. A maioria da sociedade está pensando na sua vida cotidiana. E aí tem uma entrega de obra, uma entrega de asfalto. Isso tem um impacto na periferia, é inevitável, mesmo que seja eleitoreira, e as pessoas percebem, mesmo que seja superfaturada e as denúncias mostram, inclusive as denúncias aqui do UOL, sobre os contratos emergenciais que vocês repercutiram.

Agora, o tema é o seguinte, esse público vai se decidir quando a campanha começar. A maior parte do público de 0 a 2 salários mínimos, que está nas periferias sofrendo essas consequências, a maior parte desse público não sabe que o Ricardo é apoiado pelo Bolsonaro, não sabe que eu sou apoiado pelo Lula, não conhece ainda o xadrez eleitoral de São Paulo, não conhece as propostas de cada candidato.

Este público vai saber, olha que coisa, é o público onde eu ainda não cresci, mas é o público que eu tenho a minha menor rejeição. Então, esse público, eu não tenho a menor dúvida que nós vamos crescer. Aliás, essa configuração que alguns analistas têm apontado como uma desvantagem da minha candidatura, eu vejo como uma vantagem, porque o público que eu teria maior dificuldade de crescer, por razões do meu posicionamento, de estigma e de caricaturas que fizeram sobre mim, que é o público de mais de 5 salários mínimos, mais que 10 salários mínimos, é onde eu já estou com um percentual bom.

Esse público entendeu que a gestão de São Paulo hoje é medíocre e que a cidade precisa de mudança. Quando o debate chegar na população das periferias, na população mais pobre, é inevitável, como aconteceu nas outras eleições. Em 2020, para prefeito, onde foi minha maior votação?
No extremo da Zona Sul, eu ganhei do Bruno Covas, no Grajaú, Parelheiros, Campo Limpo, onde eu moro, Capão Redondo, Piraporinha.

[Carolina Linhares] Porque hoje o senhor não tem o voto nem dos eleitores do presidente Lula.

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[Guilherme Boulos] Ganhei na Zona Leste, em Cidade Tiradentes, São Mateus. Minha votação há dois anos para deputado federal, eu ganhei em 80% dos distritos da periferia da cidade. Então é inevitável que, quando chegar na eleição e esse público entender o que está em jogo, a gente vai crescer.

[Raquel Landim]: Nessa periferia, onde a prefeitura tem mais máquina pública, mais dinheiro para investir e mais apoio de vereador, é onde as alianças do Ricardo Nunes vão fazer diferença.

[Guilherme Boulos]: Olha, a máquina cumpre um papel. Agora, se máquina decidisse a eleição, o Rodrigo Garcia era governador de São Paulo. Ele não foi nem para o segundo turno. A máquina dele era maior que a do Ricardo e inaugurava dez obras por dia. Máquina não basta para ganhar a eleição. Na periferia, eu tenho andado a periferia da cidade inteira, Raquel.

Eu fui outro dia na UPA Dr. Sócrates, em Itaquera. Doze horas para uma senhora ser atendida. Eu estive, semana passada, na UPA da Cidade de Tiradentes, tragédia, ali perto da Cidade de Tiradentes. Pessoal sofrendo, falta remédio, falta médico. Quando as pessoas verem o que está em jogo e as alternativas existentes...

[Raquel Landim]: Mas, candidato, vamos olhar só para um número claro. Segundo turno. São dez pontos de diferença entre o senhor e o Ricardo Nunes. Dez pontos. Como reverter isso? É uma diferença muito grande.

[Guilherme Boulos]: Nós estamos no primeiro turno. Raquel, se você pegasse a eleição de segundo turno... Repetindo, vamos pegar mais um exemplo em 2012. A essa altura, antes de começar a campanha, há três meses da eleição, o segundo turno era Serra e Russomanno, com o Russomanno ganhando a eleição. Quem ganhou a eleição foi o Haddad, e o Russomanno não foi nem para o segundo turno. Calma. A gente tem que? pesquisa a três meses sobre segundo turno, diz muito pouco. Agora vou te dar um exemplo. De uma pesquisa interna nossa. Da nossa campanha. Coisa que o Datafolha não fez, que foi colocar os apoiadores. Porque quando as pessoas vão decidir, elas não decidem só por nome, elas decidem pelo contexto. Você pega hoje, bota os dois. Ele aparece na minha frente, bota: Ricardo Nunes com apoio do Bolsonaro, Boulos com apoio do Lula. O cenário se inverte. Tem toda uma eleição para se ganhar. Eu estou muito tranquilo.

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[Carolina Linhares]: 20% dos eleitores do Lula estão votando no Ricardo Nunes na pesquisa.

[Guilherme Boulos]: Vocês estão mais preocupadas que eu com o meu crescimento. Eu estou muito tranquilo.

[Carolina Linhares]: Mas por que o senhor acha que o eleitor do Lula escolhe o Ricardo Nunes? 20% de quem votou no Lula em 2022. O senhor tem 40%, mas ele tem 20%.

[Guilherme Boulos] : Em primeiro lugar, porque quase 60%, segundo essa mesma pesquisa, não sabe que o Ricardo Nunes é apoiado pelo Bolsonaro.

[Raquel Landim]: A sua estratégia está muito apoiada nisso, candidato. Em dizer que o Ricardo Nunes é bolsonarista. Mas o arco de alianças dele não é só Jair Bolsonaro. Ele tem feito essa diferenciação. E se isso não colar?

[Guilherme Boulos] Raquel, essa não é minha única estratégia. Vocês só estão me perguntando disso nos primeiros dez minutos da sabatina. Se vocês me perguntarem sobre a cidade, sobre as propostas, vocês vão entender qual é a minha estratégia.

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[Raquel Landim]: Mas a gente está colocando essa questão para o senhor, porque ela é relevante.

[Guilherme Boulos]: Eu também acho ela relevante e estou respondendo. Agora, só não diga que essa é a minha única estratégia, porque foi só sobre isso que vocês me perguntaram. Me pergunte sobre como eu avalio essa gestão.

[Raquel Landim]: Eu não falei que é a única, eu falei que ela está muito apoiada nisso.

[Guilherme Boulos]: Pois é, não está. Esse é um ponto importante para a eleição. E, logicamente, a cidade precisa saber quem apoia quem. Mas vou te falar uma coisa. Qual é o principal problema que nós temos hoje? Por que São Paulo precisa mudar? Veja, nós temos uma gestão que faz o seguinte: gasta. O orçamento da cidade de São Paulo hoje é o maior em termos reais da história. Só é comparável, se nós pegarmos décadas, com o orçamento que teve no milagre econômico da ditadura, de 68 a 78 nós tivemos dois prefeitos marcantes, Prestes Maia e Faria Lima. Prestes Maia concluiu ali, já tinha governado duas décadas antes, ele concluiu o plano de avenidas, deixou um marco.

Faria Lima iniciou o metrô na cidade de São Paulo, que na época era municipal, e começou a levar os equipamentos públicos para as periferias, para os loteamentos clandestinos da época. Deixou marco. Hoje nós temos uma gestão com R$ 112 bilhões no orçamento, com uma capacidade de investimento gigantesca, que ficou três anos, e é importante marcar isso. Esse prefeito, que às vezes as pessoas acham, ah, ele entrou agora. Não, não, ele teve a chance e não fez. Ele está há mais de três anos na gestão.

[Fabíola Cidral: Isso vai ser uma estratégia sua, desconstruir a gestão dele.

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[Guilherme Boulos]: Não é só desconstruir, Fabíola. Me permita concluir o raciocínio, por favor.

Três anos, quase três anos e meio na gestão. Não tem nenhuma entrega relevante. Começou a trabalhar na véspera de eleição e fazendo de forma mal feita, sem planejamento e superfaturada. Vamos pegar dois exemplos simples. Eu fui lá para o Itaim Paulista, na Vila Simone.

Fui chamado pelos moradores lá. Houve uma obra emergencial da prefeitura. Uma obra emergencial sem licitação. Todos os problemas que já são públicos. Só que pior. Ele fez a obra, 200 metros de córrego. Um bairro que nunca tinha enchido na vida, como só fez 200 metros, terminava ali na Vila Simone, a água correu mais rápido, logicamente, na parte que canalizou, na primeira chuva depois da obra, encheu a Vila Simone, que nunca tinha enchido na vida. A obra piorou a vida das pessoas. Aí você pega o que foi a nova Santo Amaro, que está fazendo uma propaganda danada. O orçamento inicial da nova Santo Amaro era R$ 58 milhões. Eles não terminaram a obra e já foi R$ 161 milhões. Três vezes mais. É igual você pegar um síndico de condomínio?

[Fabíola Cidral]: O senhor vai ter bastante tempo para poder falar sobre isso na sua campanha.

[Guilherme Boulos]: Deixa eu só concluir.

[Fabíola Cidral]: É que a gente tem um monte de perguntas. Vai lá, conclui, por favor.

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[Guilherme Boulos]: Deixa eu concluir o raciocínio. Pega um síndico de condomínio. Imagine, nós moramos num condomínio. Tem um caixa do caramba. O elevador está ruim, quebra toda hora. As crianças querem uma quadra, não tem. Tem um monte de problema para resolver.
Aí o síndico vai lá e pinta a portaria, e você vai vendo o balancete com o orçamento que dava para pintar o prédio inteiro. É isso que está acontecendo em São Paulo. É disso que nós vamos falar.

[Fabíola Cidral]: Uma das questões que eu queria trazer aqui é o caso Janones. Eu sei que isso é delicado, até, pela sua atuação lá na comissão de éticos. O senhor recebeu críticas até de aliados seus sobre a atuação ali. Você, de certa maneira, passou pano para a rachadinha do André Janones?

[Guilherme Boulos]: De jeito nenhum. Eu acredito, independente de quem faça, que rachadinha é crime. Se for o Flávio Bolsonaro, é crime. Se for o Janones, é crime. Quem quer que seja, rachadinha para mim é crime. Agora, o que eu não posso é usar dois pesos e duas medidas.

Pense uma coisa. Nós temos uma jurisprudência no Conselho de Ética da Câmara, do qual eu sou membro. Eu não escolhi relatar esse caso. Eu fui sorteado para relatar esse caso, como é em todos os casos. E tem uma jurisprudência que diz o seguinte: o que ocorre antes da atual legislatura, do atual mandato com o parlamentar, não pode ser julgado. O que pode ser julgado é o que ocorre neste mandato. Ou um fato novo relevante neste mandato. Certo? Foi por isso que se absolveu, aliás, sequer foi levado, o Lira sequer mandou para o Conselho de Ética com esse argumento, os 10, 15 deputados bolsonaristas que estimularam o 8 de janeiro. Estavam lá, tinham vídeos, estavam lá. E porque aconteceu 20 dias antes de tomar a posse, porque a posse foi em 1º de fevereiro, eles sequer foram julgados. Você não pode adotar dois pesos e duas medidas. O meu processo não foi para absolver o Janones. Foi um processo de critério. Se o Conselho de Ética usa esse critério para um, tem que usar para todos.

[Raquel Landim] Deputado, Janones já era deputado quando ele é indicado. Era 2019, ele já era deputado.

[Guilherme Boulos]: Ele já era deputado na legislatura anterior.

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[Raquel Landim] Mas se um lado é, o outro tem que errar?

[Guilherme Boulos] ]Raquel, me desculpe, jurisprudência é para todos.

[Carolina Linhares]: Mas essa jurisprudência não é clara, deputado. Se você for ver caso a caso, isso varia bastante. A regra geral é se a pessoa é parlamentar, se não é. Ele já era um parlamentar.

[Guilherme Boulos]: Eu acho muito curioso. Veja, a jurisprudência ali valeu para todos. Eu acho que talvez pelos nomes envolvidos, isso chamou uma atenção maior da imprensa. Mas eu não vi esse questionamento quando os bolsonaristas sequer foram levados para o Conselho de Ética.

[Raquel Landim]: Sempre se questiona. Sempre se questiona.

[Guilherme Boulos]] Pau que bate em Chico, tem que bater em Francisco. Se um critério é utilizado para um, tem que ser utilizado para outro.

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[Raquel Landim] É claro que é questionado, deputado.

[Guilherme Boulos]: Mas sabe o que é mais curioso quando você vem com um diálogo desse, usa um termo como passar pano? Sabe quem o partido de Janones apoia aqui em São Paulo? O Ricardo Nunes. O partido dele é o Avante, está na coligação do meu adversário.

[Fabíola Cidral]: Por isso que surpreendeu tanto.

[Guilherme Boulos] O que eu ganhei com isso?

[Fabíola Cidral]: Mas, por exemplo... Então, mas, candidato. Isso não é um incômodo? Porque, assim, isso foi discutido muito. O quanto essa questão, o senhor até falou, eu fui sorteado, eu tive que ser ali o relator disso. Isso te prejudicou?

[Guilherme Boulos] Não, eu não acho que me prejudicou.

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[Fabíola Cidral] Você acha que não vai prejudicar?

[Raquel Landim]: Deixa eu só pontuar, deputado. O Janones, o partido do Janones apoia o Ricardo Nunes aqui, mas Janones foi um grande esteio para a Lula nas eleições presidenciais.

[Guilherme Boulos]: Foi um apoiador do Lula, ok. Assim como o partido dele estava com Lula.

[Fabíola Cidral]: E até hoje é um grande defensor do governo.

[Guilherme Boulos]: Mas apoia o Ricardo Nunes. Eu não fui candidato a presidente. Eu sou pré-candidato a prefeito de São Paulo. Apoiado por Lula. O que eu estou querendo dizer para vocês é o seguinte. Eu não teria nenhuma razão escusa, estranha, para salvar, para absolver Janones. Não se trata disso. O que nós temos que ser é coerente.

Doa a quem doer. Isso me fez ser questionado pela imprensa? Muito bem, estou aqui respondendo os questionamentos. Mas eu não vou perder minha coerência por isso. Se um critério é utilizado para os bolsonaristas, este mesmo critério tem que ser utilizado para quem é do outro campo ideológico.

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Não tem razoabilidade você usar um critério, uma jurisprudência, uma lei diferente para cada caso, independente de quem é o acusado. E vai caber à Justiça analisar. Se a Justiça analisar que o Janones é culpado, que ele seja punido.

[Raquel Landim]: Mas o fato é que este critério que está sendo utilizado pelo Comitê de Ética da Câmara, está deixando escapar de uma investigação séria dentro do Comitê de Ética da Câmara, tanto bolsonaristas quanto gente da esquerda.

[Guilherme Boulos]: Pois é, e eu sou contra. Já disse isso e disse isso no meu voto. O meu partido entrou contra os bolsonaristas. Quem entrou com pedido no Conselho de Ética do Rio de Janeiro foi o PSOL, o meu partido. Eu sou contra este critério.

[Carolina Linhares]: Mas por que o senhor não apresentou um relatório coerente?

[Guilherme Boulos]: Na medida em que ele é adotado... Ora, se ele é utilizado no Conselho de Ética, eu como membro do Conselho de Ética vou utilizar o critério que a jurisprudência...

[Carolina Linhares]: ... O senhor poderia ter proposto isso?

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[Guilherme Boulos]: Aí tem que fazer um PLP interno da Câmara para alterar regimento, as regras do Conselho de Ética. O que não pode é valer para um caso, não valer para outro.

[Fabíola Cidral]: Falando sobre essa atuação na Câmara, eu queria até falar sobre isso também, porque abrindo as suas redes sociais, você está praticamente em campanha. É agenda em São Paulo, é reunião, é elaboração do plano de governo. Você acha justo continuar ainda recebendo o salário de deputado federal trabalhando em São Paulo como pré-candidato? Não seria o caso de abrir mão e se licenciar do cargo de deputado federal?

[Guilherme Boulos]: Fabíola, verifique lá no site as minhas faltas em sessões da Câmara. Eu tive uma falta em um ano e meio de mandato. Minha atuação como deputado federal não foi impedida e prejudicada em nada pela minha atuação como pré-candidato a prefeito de São Paulo. Faça a comparação. Verifique a produção legislativa.

[Fabíola Cidral]: De reuniões, por exemplo, esse ano o senhor participou de duas reuniões, se não me engano, que é bem menor da sua participação no ano passado.

[Guilherme Boulos]: Não, de reuniões não, de comissões.

[Fabíola]: Isso, reuniões de comissões.

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[Guilherme Boulos]: Não é das reuniões, participei de muito mais que duas, eu estou em duas comissões. Mas eu estou em menos comissões do que no ano passado. Normal, natural. Agora, veja a minha produção legislativa.

[Carolina Linhares]: Mas a produção caiu.

[Guilherme Boulos]: Eu aprovei três projetos de lei no meu mandato. Três projetos de lei. No ano passado estive entre os cinco deputados da Câmara, de 513, que mais aprovaram. Bolsonaro ficou 27 anos e aprovou dois projetos.

[Carolina Linhares]: Projetos. No ano passado, né, deputado, mas a questão é este ano.

[Guilherme Boulos]: Eu em um ano aprovo três.

[Fabíola Cidral]: Comparado ao Bolsonaro?

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[Guilherme Boulos]: Não, me desculpe, essa não é uma comparação. O que eu quero te dizer é o seguinte, que falar que a minha produção legislativa, que a minha atuação como parlamentar foi prejudicada por eu estar em pré-campanha e que por isso eu não deveria receber salário, é uma ilação que não tem razoabilidade.

[Fabíola Cidral]: Foi uma pergunta que eu fiz, porque é o seguinte. Ser pré-candidato te demanda muito tempo. O senhor tem que ter uma agenda, o senhor faz muitas reuniões, atua, está indo pela cidade inteira. Isso é um trabalho muito forte. O que eu estou perguntando já, que o senhor tem toda essa transparência, a sua história é tratada dessa maneira, né, o senhor tem toda essa transparência, fala o que pensa... Se não é o caso, por exemplo, de abrir mão, se licenciar da Câmara e falar assim, olha,

[Guilherme Boulos]: Se chegar o momento...

[Fabíola Cidral]: É isso que eu estou lhe perguntando.

[Guilherme Boulos]: Se chegar um momento em que eu não consiga estar presente nas sessões da Câmara em Brasília, eu vou me licenciar. Esse momento não chegou. Eu tive uma falta em um ano e meio. Voltei de Brasília ontem.

Nós estamos aqui numa sexta-feira, fui para Brasília na terça, participei da sessão, votei. Estive em Brasília quarto o dia inteiro, participei da sessão, votei. Voltei de Brasília ontem, participei da sessão, votei. Enquanto eu conseguir compatibilizar a minha atuação de parlamentar com a minha atuação de candidato, de pré-candidato, eu vou manter o mandato.

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Fui eleito para isso, tive mais de um milhão de votos. Quando chegar um momento em que não seja possível, eu me licencio.

[Raquel Landim]: Deputado, a Justiça Eleitoral condenou o senhor e o presidente Lula por conta do pedido de voto que o presidente Lula fez ao senhor. Voto pelo senhor no primeiro de maio. O presidente Lula errou?

[Guilherme Boulos]: Olha, Fabiola... Desculpa.

[Raquel Landim]: Raquel.

[Guilherme Boulos]: Raquel, perdão.

[Raquel Landim]: A gente está pertinho aqui, não tem problema.

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[Guilherme Boulos]: Eu acho impressionante quererem inverter onde está o uso da máquina pública e de campanha antecipada. O atual prefeito está, desde o ano passado, usando cada inauguração, às vezes vai inaugurar uma placa, vai inaugurar um metro de asfalto, e aí ele faz um palanque, chama a imprensa, fala mal de mim, reiteradamente. Se promove, promove a pré-candidatura dele à reeleição, com dinheiro público, e isso é tratado como algo natural.

[Raquel Landim]: Mas é uma decisão da Justiça Eleitoral, deputado.

[Guilherme Boulos]: Claro, como teve outras tantas decisões da Justiça Eleitoral que, por minha entrada, o condenou. Não foi uma só. O Ricardo Nunes teve várias condenações por campanha antecipada, também pela minha atuação. Agora, o presidente Lula, no primeiro de maio, não era um ato público de governo. Era um ato das centrais sindicais. Ele emitiu a posição dele de voto.

[Fabíola Cidral]: Mas estava sendo transmitido ao vivo no canal dele. E até eu vi algumas análises que...

[Raquel Landim]: Inclusive foi retirado [o canal do presidente].

[Fabiola Cidral]: É, foi retirado depois. E aí falavam assim [as análises]: o crime compensa. Eu cheguei a ouvir uma análise como essa. Um crime como esse compensa.

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[Raquel Landim]: Porque a multa é baixa.

[Fabíola Cidral]. O crime compensa?

[Guilherme Boulos]: Gente, pelo amor de Deus. Eu acho que essa não é uma boa forma de colocar. Você tratar isso como um crime.

[Raquel Landim]: Só um minutinho, porque se o senhor não respondeu minha pergunta. Ele errou?

[Guilherme Boulos]: Não, não acho que ele errou. Não, não acho que o presidente errou. Acho que o presidente expressou a posição dele no 1º de maio. Num ato das centrais sindicais. Que não era ato oficial de governo. Num feriado, em que ele estava fora da agenda oficial. E expressou quem é o candidato dele.

[Raquel Landim]: Então errou a Justiça Eleitoral?

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[Guilherme Boulos]: Nós recorremos à justiça eleitoral. Minha campanha recorreu.

[Carolina Linhares]: O senhor falou que o Ricardo Nunes usa máquina. Que quando ele vai inaugurar um metro de asfalto, ele está lá falando mal do senhor. Agora, o senhor em toda oportunidade que o governo Lula vem também inaugurar um metro de asfalto aqui...

[Guilherme Boulos]: Um metro de asfalto não...Instituto Federal na periferia, a primeira universidade federal da periferia, o hospital federal em Santo Amaro.

[Carolina Linhares]: O senhor também tem uma máquina a seu favor, que é uma máquina muito poderosa, que é a máquina federal. Todos os eventos do governo Lula aqui em São Paulo, o senhor está presente, os ministros vêm, prestigiam. Então o senhor também está usando esse expediente. E o senhor tem criticado especialmente o vice nesses eventos. Então o senhor também tem usado o palco aí.

[Guilherme Boulos]: Carol, aí é muito diferente. Em proporção. Você tem razão, lógico. O presidente Lula me apoia. Eu ajudei a trazer investimentos do governo federal para a cidade. Pergunte quantas reuniões eu tive com o Arthur Chioro, da Ebserh, e com a reitora da Unifesp para poder viabilizar o Hospital de Santo Amaro que a gente anunciou há duas semanas, para atender a zona sul toda. Pergunte quantas reuniões eu tive com o ministro Camilo Santana e com o Getúlio, que é responsável por institutos federais no MEC, para a gente viabilizar o Instituto de Cidade Tiradentes e do Jardim Ângela.

Ou para a gente conseguir as condições para garantir o início de obra da Universidade Federal em Itaquera, na Zona Leste. Ou seja, foram investimentos que eu como deputado federal fui, dialoguei com o governo e ajudei a trazer. Estive nos eventos. Fiz minhas falas nos eventos valorizando a atuação do governo federal. O que eu quero te dizer é a diferença de proporção. Isso aconteceu três vezes. Inauguração de uma obra de moradia, início de obra de moradia lá na Copa do Povo, em dezembro. Depois, Jardim Ângela e a Universidade em Itaquera. Três vezes em seis meses. O prefeito faz isso três vezes por dia. A proporção é muito desigual.

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[Carolina Linhares]: Mas não falta o Tarcísio e o Nunes nessas inaugurações que também tem investimento...?

[Guilherme Boulos] Eles foram convidados. Tem que perguntar pra eles.

[Carolina Linhares]: E por que o senhor não convida eles se eles têm participação?

[Guilherme Boulos]: São eventos oficiais do governo federal. O governo federal convidou a ambos e eles não foram. Sabe por que eu acho que o Nunes não foi? Eu vou te dar minha opinião pessoal. Acho que não foi porque ele tem medo de aparecer ao lado do presidente e ser alvo dos bolsonaristas, porque ele está refém do bolsonarismo.

[Fabíola Cidral]: Candidato, eu queria falar um pouquinho sobre o seu passado. Isso é muito tratado até pelos seus adversários, e os eleitores têm muitas questões relacionadas a isso. Você já foi preso algumas vezes justamente durante reintegrações de posse, em situações inclusive com cobertura de imprensa. Há muitos processos que já respondeu por descumprimento de ordem judicial, incitação à violência, dano qualificado. Teve até a questão da invasão do triplex do Guarujá. Eu queria te perguntar, o senhor se arrepende do seu passado ou tem orgulho dele?

[Guilherme Boulos] Eu tenho o maior orgulho de ter ficado mais de 20 anos da minha vida ao lado das pessoas que lutam por casa. Lutando junto. Tenho o maior orgulho disso. Porque política para mim, Fabiola, não é um instrumento para enriquecer, para ter privilégio, para ganhar dinheiro. Política para mim é a ferramenta mais poderosa que a gente tem para mudar a vida das pessoas. Seja fazendo isso no movimento social, seja fazendo isso em um cargo eletivo.

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O que acontece é que muitas vezes existe um preconceito tremendo e uma caricatura sobre a atuação do movimento social. "O movimento sem teto invade casa". O movimento sem teto dá casa para as pessoas. Eu, no movimento sem a caneta, já ajudei mais de 15 mil famílias a conquistarem suas casas. E isso me orgulha demais. Eu quero muito comparar biografias. Se os meus adversários vão ter a mesma transparência —minha história foi escrutinada várias vezes, como você falou— sobre o que fizeram nos verões passados.

[Fabíola Cidral]: Você iria de novo lá no triplex?

[Guilherme Boulos] O Lula é presidente da República. Questão, se me permite para completar isso. Veja, as pessoas, ao longo da vida, as pessoas amadurecem. A vida ensina para a gente. Eu hoje, às vezes me perguntam. Pô, Boulos, você está aqui na entrevista, parece um cara mais tranquilo, mais calmo. Está aqui de camisa alinhada.

[Fabíola Cidral]: Boulos, paz e amor.

[Guilherme Boulos]: O pessoal fala. O pessoal às vezes fala isso. Eu falo, pô, você é outro Boulos? Não, eu sou a mesma pessoa. Eu sou o mesmo cara que com 17, 18 anos de idade foi viver com os sem teto. E que há mais de 20 anos mora na periferia. Eu tenho, para mim, política continua sendo uma missão e não uma profissão para enriquecer. Eu tenho a mesma coragem, os mesmos valores, os mesmos princípios. O que mudou? O que mudou é que, antes, eu vi uma situação de injustiça e, às vezes, reagia com raiva. E o que eu aprendi ao longo do tempo é que, às vezes, essa não é a melhor maneira. Você vai ficar dando murro em ponta de faca e não é a forma mais eficiente. Às vezes, você tem que engolir, respirar. E tendo os mesmos princípios, você agir de uma forma diferente. Aprender a dialogar com quem pensa diferente. E eu aprendi a fazer isso. Agora, amadurecer não é a mesma coisa e não pode ser a mesma coisa que amolecer. Senão, você vira um político igual àqueles que só pensam em reeleição e em poder.

[Raquel Landim]: Eu queria fazer uma pergunta sobre esse amadurecimento, então, deputado. Se o senhor for eleito prefeito, essa sua ligação com os movimentos sociais vai dificultar para o senhor tomar decisões duras que, às vezes, um prefeito tem que tomar. De zeladoria pública, de, eventualmente, ter que retirar pessoas em situação de rua, ter que retirar camelôs, ter que fazer reintegrações de posse.

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[Guilherme Boulos]: O problema não é retirar pessoas em situação de rua. O problema é arrancar a barraca delas e deixarem elas sem alternativa, que é o que tem acontecido hoje. Ninguém quer estar numa barraca na rua. Isso é ruim para o comerciante que está na frente, é ruim para quem passa na calçada e é pior ainda para quem está embaixo da barraca. O que nós vamos fazer? Nós não queremos que as pessoas fiquem na rua. Nós queremos que as pessoas tenham uma alternativa e eu vou resolver. Para mim, essa é a maior missão, porque essa, para mim, é de vida, não é de campanha. Eu vou resolver o problema da população em situação de rua em São Paulo.

[Raquel Landim]: Deputado, mas que atitude o senhor vai tomar?

[Guilherme Boulos]: Vou resolver da seguinte forma, Fabiola. Combinando ações. Veja, nós temos que combinar três ações para resolver esse problema. Isso eu conheço de perto. Essas pessoas eu conheço por nome, não por estatística. Primeiro, você tem que ter um acolhimento humanizado. Sabe por que muito morador de rua hoje não vai para um abrigo da prefeitura? Porque ele não pode levar o cachorro dele, que às vezes é o único companheiro que ele tem, o segurança. Porque ele não pode levar a carroça dele, que às vezes é o instrumento que ele tem para tirar uma renda no dia.

Nós vamos fazer abrigos humanizados, com assistente social, com psicólogo.

[Raquel Landim]: Essa informação é contestada, né. A prefeitura diz que tem muitos dos abrigos que tem esse tipo de apoio, que tem onde colocar a carroça, o animal.

[Guilherme Boulos] Quem fez esse projeto, o projeto inicial onde tinha isso, foi a Marta, no Boracéia. Foi o projeto piloto de população em situação de rua, que o Serra entrou e desmontou. E agora, apesar de existir uma lei municipal obrigando o canil em todos os abrigos e centros de acolhida, isso não é cumprido, é cumprido em uma minoria de abrigos.

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Então, esse é o primeiro ponto. Você tem que fazer acolhimento humanizado. E nós vamos criar essas vagas de acolhimento humanizado. Só que isso não basta, porque o abrigo, o centro de acolhida, ele não é moradia definitiva. Ele é um ponto de passagem. Então, como que você atua?

Você tem que gerar emprego e renda. Primeiro, você acolhe. Você faz o tratamento, às vezes psicológico. Tem um problema de alcoolismo profundo na população em situação de rua, até pela situação que as pessoas estão. Você dá as condições para a pessoa se reerguer. E aí você chega dando a oportunidade de renda.

Eu tive uma conversa, e esse vai ser um projeto piloto para nós, com o pessoal do sindicato da construção civil. Sabe o que eles me contaram? Eles foram lá, montaram, pelo sindicato, uma escola de formação em construção civil. Pedreiro, ajudante, mestre, carpinteiro.

Hoje, falta mão de obra qualificada. Pergunte. Eu fui conversar com o Secovi. Uma das coisas que eles me falaram é que 'falta mão de obra qualificada na construção civil'. O sindicato fez isso, criou a escola, pegou gente que estava na rua, atendeu, apresentou para a construtora e essas pessoas foram contratadas.

Salário base na construção civil, R$ 2.500, R$ 3.000 inicial. Essa pessoa consegue pagar um aluguel e sobreviver. Se um sindicato fez isso, imagine o que a prefeitura da maior cidade da América Latina não pode fazer. Nós podemos criar escolas como essas na cidade inteira e garantir que essas pessoas que hoje estão na rua tenham a porta de saída.

E o terceiro passo é simplesmente cadastrar no programa habitacional. Elas vão ter a renda, vão conseguir pagar um aluguel por um período depois dá moradia.

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[Raquel Landim]: Mas deputado, o fato é que tem uma fatia da população de São Paulo que tem receio que se o senhor for eleito, o senhor não vai ter mão firme para resolver determinadas situações tensas que tiverem. Se tiver uma grande ocupação dos movimentos...

[Guilherme Boulos]: Raquel, eu participei de movimentos sociais muitos anos e posso te dizer com propriedade...

[Raquel Landim]: Estou colocando um receio que existe de uma fatia da população.

[Guilherme Boulos]: Eu acho que a tua pergunta é absolutamente legítima. Agora, eu participei de movimentos sociais muitos anos. Sabe o que leva à ocupação de movimento organizado? O que leva é falta de política habitacional. Eu vou fazer um programa habitacional nessa cidade de São Paulo exemplar.

O que pode acontecer, e essas eu não vou tolerar, e que a atual gestão, essa sim, não está tendo mão firme, por relações escusas que tem, é loteamento clandestino ligado ao crime nas periferias e na beira de mananciais. Vocês devem acompanhar isso. A imprensa acompanha, de maneira geral. Isso não é ocupação de movimento, não. É o crime que vai lá, faz o loteamento clandestino com vista grossa de fiscal da prefeitura, vista grossa para dizer o mínimo, vende para pessoas necessitadas, o lote, depois, se tem o despejo, as pessoas ficam à própria sorte, o cara vai embora. Isso que essa gestão tem permitido, a Deus dará, em áreas de manancial, inclusive, isso eu não vou aceitar.

[Carolina Linhares]: Deixa eu voltar só um pouquinho, porque o senhor deu uma deixa, o senhor falou que amadureceu, mas que continua com os mesmos princípios. Eu queria trazer uma situação de 2016 que está aparecendo bastante na campanha, os adversários do senhor relembram isso, que foi um protesto organizado também pelo MTST, na Paulista, contra o Temer, contra a PEC do Teto, em que a fachada da Fiesp foi depredada. O senhor estava lá e as aspas do senhor naquele dia foram: 'Isso não estava programado, mas foi um gesto de indignação das pessoas. A Fiesp defende a destruição do povo brasileiro, a Fiesp é contra o povo brasileiro. Nosso entendimento é que algumas vidraças quebradas na Fiesp não são nada perto do dano que a Fiesp faz para o povo trabalhador.'

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Corta para 2023, o senhor chega na Fiesp, levado pelo Rui Costa, foi o único deputado que o ministro levou quando ele foi apresentar o novo PAC para os empresários. O que mudou, esse amadurecimento de lá para cá, é a necessidade de se eleger, de ter eleitor, de conseguir mostrar para os empresários, ir para o centro, que o senhor é viável? O que mudou de lá para cá?

[Guilherme Boulos]: Carol, isso não tem sequer impacto eleitoral. Você acha que a Fiesp ganha eleição em São Paulo?

[Carolina Linhares]: Mas o senhor ainda pensa isso sobre a Fiesp?

[Guilherme Boulos]: Não. Eu quero dizer duas coisas. Primeiro, o que eu aprendi quando eu falo em amadurecimento é dialogar com quem pensa diferente. Eu penso diferente de boa parte da Fiesp. Agora, eu hoje tenho a percepção de que para a gente conseguir as mudanças que eu sigo querendo, você precisa ter a capacidade de conversar, dialogar, trocar ideias e agir de uma maneira diferente com quem tem uma opinião distinta da sua.

Eu aprovei três projetos de lei na Câmara. Sabe com votos de quem? União Brasil, PSDB, MDB, Republicanos. Partidos que pensam totalmente diferente de mim. Se eu não buscasse dialogar com esses partidos, eu não tinha aprovado nem nome de rua.

E quando alguém vira prefeito de São Paulo, que é o que eu pretendo ser, e me preparei nos últimos anos para isso, fui conversar com todo mundo. Eu rodei cada canto da periferia dessa cidade. Ouvi todo mundo. Eu fui conversar com todos os setores, com empresários, com empreendedores, com comerciantes, com associações setoriais, com evangélicos.

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Eu fui visitar cidades mundo afora. Fui conversar com a prefeita de Paris, a Anne Hidalgo. Fui para Xangai. Fui conversar com esse prefeito de Nova York, que me retribuiu a visita aqui.

[Carolina Linhares]: Esse Boulos de 2016, então, não existe mais?

[Fabíola Cidral]: Você repensou o que é a Fiesp. Ela continua sendo uma destruidora do povo?

[Guilherme Boulos]: O que eu estou querendo dizer é o seguinte. Eu me preparei nos últimos anos para governar São Paulo. E quando você senta numa cadeira de prefeito, você não representa só a sua ideologia, só o seu partido. Você tem que representar a cidade.

Eu tenho para mim a convicção que combater a desigualdade é bom para todo mundo. É bom para quem vai receber a política pública na ponta, para quem vai melhorar a saúde pública, mas é bom também para quem tem plano de saúde e não precisa do SUS. É bom para quem vai ver o seu filho numa escola pública melhor, mas é bom também para quem tem um filho numa escola particular.

Sabe por quê? Porque uma cidade mais justa, menos desigual, é uma cidade mais segura. É uma cidade onde a convivência é mais possível. E eu quero ser prefeito de São Paulo para fazer esse combate às desigualdades e entendo que isso precisa ser feito não só com os movimentos sociais, com os sindicatos, com os setores aos quais eu historicamente fui ligado, mas dialogando com outros setores.

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[Fabíola Cidral]: Você não repetiria uma frase como essa, quando destruiu o vidro da Fiesp?

[Guilherme Boulos]: Eu continuo sendo contra a reforma trabalhista, continuo sendo contra a PEC do teto de gastos, que era o que estava em jogo naquele momento e naquela manifestação. Quando você está no calor, Fabiola, eu já te encontrei no bloco de carnaval, você no Baixo Augusta, lá, não era a Fabiola aqui toda, entrevistando sério. Quando você está numa manifestação, ali com as pessoas, no calor da hora...

[Carolina Linhares]: Mas aquilo não é atuação política, deputado.

[Raquel Landim]: É que a Fiesp não dá voto, mas conversar com a Fiesp suaviza a sua imagem, e aí sim, isso dá voto.

[Guilherme Boulos]: Eu não conversei só com a Fiesp, eu conversei com o Secovi, eu conversei com a Associação Comercial, eu conversei com inúmeros empresários, vocês acompanharam vários em off, conversamos algumas vezes. 'Quais os empresários que conversaram?' Tive jantares com empresários. Porque eu acho que isso é importante para poder ter condições de governar São Paulo, que é uma cidade complexa e pujante economicamente.

[Fabíola Cidral]: Eu queria voltar na política habitacional, que eu acho que é um ponto que, primeiro, que o senhor estuda muito isso, e trabalha com isso há muito tempo. A história de ocupar prédios abandonados, isso está sempre no seu discurso, e até no seu trabalho no movimento. Se o senhor for prefeito de São Paulo, isso vai ser uma política habitacional também? Isso está dentro da política habitacional? O que o senhor vai fazer, por exemplo, prédios abandonados no centro de São Paulo? Vai permitir a ocupação?

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[Guilherme Boulos]: A ocupação acontece porque a lei não é cumprida. Eu vou cumprir a lei. Sabe o que diz a lei em relação a prédio abandonado? Estatuto da Cidade e Lei Federal, aprovado em 2001, Fabiola. A lei diz que um imóvel subutilizado, ocioso, abandonado, muitos daqueles prédios no centro estão abandonados há 20, 30 anos, gerando insegurança para quem passa, gerando criminalidade, uso de droga, insegurança para as mulheres, especialmente.

A lei diz que o prédio está abandonado, tem que ser notificado, não cumpriu função social, IPTU progressivo, e a prefeitura pode tomar para fazer habitação no interesse social. É isso que nós vamos fazer. Em relação a prédio abandonado. Aliás, uma parte desses prédios são públicos

[Fabíola Cidral]: Nesse ponto, por exemplo, eu lembro muito de conversar com o prefeito, na época, Gilberto Kassab. Ele reuniu, fez um levantamento da quantidade de prédios abandonados no centro de São Paulo para justamente fazer a lei cumprir.

Só que a dificuldade é jurídica, e você entra numa dificuldade jurídica. O que eu estou lhe perguntando é, vai liberar, ocupar antes de conseguir a autorização judicial?

[Guilherme Boulos]: Não. A ocupação acontece justamente porque não houve política nesse sentido. Nós vamos fazer a política começando pelos imóveis públicos, que não tem essa burocracia.

[Fabíola Cidral]: Mas você vai ter que esperar essa burocracia então.

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[Guilherme Boulos]: Então. Não, a burocracia vem quando o imóvel é privado. Você está falando da desapropriação. Sim. Vários desses imóveis são públicos. Eu estive com o presidente do INSS, o Stefanutto. Começo do ano. Não, final do ano passado. Stefanutto, você pode levantar os imóveis do INSS em São Paulo? Ele levantou.

[Fabíola Cidral]: Quantos?

[Guilherme Boulos]: São trinta e poucos só no centro expandido. Imóveis do INSS abandonados. Por que o INSS quer imóvel? Para nada. O INSS pega o imóvel por execução fiscal de uma dívida previdenciária de uma empresa. Pega para o INSS. Ele falou, pô, o que tem com esse imóvel? Ele falou: 'não tem nenhum projeto'. Peguei esses imóveis, levei para a mesa do presidente Lula. Falei, presidente, nós precisamos ter um projeto para isso. O Lula chamou a Esther Dweck, ministra da gestão. Pediu para levantar porque a SPU está no ministério dela. Não só os do INSS, todos os imóveis da União. Não só em São Paulo, em todas as grandes cidades do Brasil. Já deu no levantamento, o programa foi lançado no início desse ano, mais de mil imóveis, só da União, que podem ser destinados de imediato no Brasil inteiro.

Lógico, isso não é tudo em São Paulo. E esses imóveis, a maior parte deles podem virar moradia popular. Outros não. Às vezes, e eu conheço isso de vários imóveis do centro, um imóvel para virar moradia popular fica muito caro, porque ele foi construído só como escritório. É mais fácil demolir e fazer outro. Aí dá para fazer um programa, que nós vamos apresentar no nosso programa de governo, de coworking, de laboratórios e centros de inovação para recuperar o centro. É isso que nós vamos fazer, levar a vida de volta ao centro.

[Raquel Landim]: Só um minutinho. O deputado está falando de uma possível parceria com o governo federal na área de habitação. Segurança pública. Segurança pública é uma das principais preocupações do paulistano. Isso está muito ligado com o governo do estado. É preciso a ajuda da Polícia Militar. E o senhor vive às turras com o governador Tarcísio de Freitas. Como é que vai ser isso?

[Guilherme Boulos]: Olha, primeiro, aàs turras, eu acho que é uma palavra excessiva. Nunca tive nenhum embate de briga pessoal, nenhum problema pessoal. Nós temos problemas políticos, como o Lula tem.

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[Fabíola Cidral]: Mas tuita bastante contra ele, né?

[Raquel Landim]: Não existe um diálogo fluido entre vocês dois.

[Guilherme Boulos]: O Lula tem problema com o Tarcísio. Ele tem com o adversário. O Tarcísio tem problema com o Lula. Eles se criticam, são de campos opostos. E o governo federal passou R$ 10 bilhões do PAC para São Paulo. Então, uma coisa é você ter posições diferentes.

Eu não vou deixar de criticar a privatização da Sabesp. Eu achei uma coisa absurda, ainda mais com a Equatorial, toda essa coisa esquisita. Eu não vou deixar de criticar quando o governo Tarcísio quer tirar câmeras corporais da PM. Agora, eu, como prefeito de São Paulo, vou trabalhar junto com o governo federal e com o governo do estado para aquilo que for melhor para a cidade.

Já disse, inclusive, em relação à segurança pública, que uma das primeiras medidas, eleito prefeito, em janeiro, eu vou chamar o governador Tarcísio, o presidente Lula, o ministro Lewandowski da Justiça, para que a gente discuta medidas integradas de segurança pública para a cidade de São Paulo. Vamos buscar trabalhar conjuntamente naquilo que for bom para a cidade. Ele tem as posições dele, eu tenho as minhas.

[Fabíola Cidral]: Vamos trazer a pergunta do Raul Juste Lores?

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[Carolina Linhares]: Só no tema da segurança ainda, como é uma preocupação muito grande do eleitorado, o senhor sacou ali uma solução, algo para responder, até porque o prefeito colocou um vice da Rota, e aí o senhor apresentou um coronel da Rota que está trabalhando na campanha do senhor com o programa de segurança pública, que é o Alexandre Gasparian. Ele ficou sete meses à frente da Rota numa gestão um pouco contestada, foi quando aconteceu a chacina de Osasco e Barueri e tinha um policial da Rota envolvido nessa chacina, foi preso por isso. Não é contraditório o senhor que defende que a polícia haja de acordo e igualmente com a periferia e com o centro, o senhor trazer um coronel da Rota que tem essa questão na biografia dele para a campanha do senhor?

[Guilherme Boulos]: De jeito nenhum e vou te dizer por que, Carol. Primeiro, o Gasparian ficou pouco tempo na Rota e quando ficou, atuou pela punição de policiais envolvidos em crime. Essa foi a atuação dele. Quando o Gasparian fez a primeira conversa comigo para entrar no nosso grupo de trabalho, o que é composto, é importante dizer, por ele, pelo Benedito Mariano, que foi secretário de segurança de São Paulo, por gente da guarda, por gente da Polícia Civil, por organizações de direitos humanos, por gente do movimento negro. Nosso grupo é diverso. A primeira coisa que ele disse para mim foi - e disse publicamente depois, quando surgiu essa questão, que ele resolveu me apoiar porque ele defende uma segurança baseada nos direitos humanos, uma segurança cidadã. E, aliás, pesquisem, levantem. O Gasparian já apoiou o Haddad na eleição anterior. O Gasparian é um coronel da PM que tem viés e posições progressistas. É natural que ele esteja me apoiando.

[Carolina Linhares]: Mas na gestão dele ocorreram crimes cometidos por policiais da Rota.

[Guilherme Boulos]: E ele atuou para investigar e punir esses policiais, que é o papel de um comandante.

[Raquel Landim]: Mas foi tirado do cargo pelo então secretário de Segurança Pública, Alexandre de Moraes.

[Guilherme Boulos]:. Foi tirado do cargo, talvez, inclusive, porque tem atuado para punir os policiais. Não vou aqui fazer ilações nesse sentido.

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[Raquel Landim]: Foi o ministro Alexandre de Moraes que tirou ele do cargo.

[Guilherme Boulos]: Tudo bem. Agora, a questão é a seguinte. A atuação dele é uma atuação, historicamente, de buscar defender os direitos humanos. A diferença é muito clara. Querer fazer essa comparação não cabe. O coronel Melo Araújo disse publicamente, vice do Ricardo Nunes, que a polícia tem que tratar diferente quem mora nos jardins e na periferia.

O fato de alguém ser da polícia... Porque às vezes se cria essa ideia que a esquerda é contra a polícia e a direita é a favor da polícia. Não é isso. Eu conheço vários policiais. Tenho relação com vários deles. O que nós somos contra é a polícia entrar na casa de um cadeirante e agredir, como as imagens que nós vimos. O que nós somos contra é a polícia tratar o negro diferente do branco, a periferia diferente dos Jardins. E os policiais que são sérios também são contra alguém que usa a farda para cometer o crime. É disso que se trata.

[Fabíola Cidral]: Vamos para a pergunta do Raul Juste Lores. O Raul Juste Lores é nosso colunista aqui de cidades e tem uma pergunta para o pré-candidato Guilherme Boulos.

[Raul Juste Lores]: Candidato, o que o senhor pretende fazer no seu governo com o Minhocão? Transformá-lo em parque, demolir ou manter como está?

[Guilherme Boulos]: Excelente pergunta do Raul. Aliás, parabenizá-lo pelo São Paulo nas Alturas, tanto o livro quanto a série que está lançando. O Raul é um dos grandes conhecedores da nossa cidade. O Minhocão, nós juntamos um grupo grande de urbanistas. Está o Nabil [Bonduki], está a Raquel Rolnik, está a Ermínia Maricato, está um monte de gente. Guilherme Wisnik que estão pensando com a gente as soluções para esses temas. Do jeito que está, não é uma boa solução. Nós fomos recuperar um edital que ocorreu em 2006 na gestão Serra, se eu não me engano, que fez concursos de projetos para o Minhocão, que lamentavelmente depois ficaram engavetados.

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E o projeto vitorioso propunha o seguinte: você manter o Minhocão como uma via, mas você fechá-lo nas laterais, ou seja, um túnel suspenso, e fazer o parque em cima, na laje do túnel suspenso. Esse foi um projeto vitorioso. Nós estamos estudando, tem quase 20 anos, nós estamos estudando a viabilidade técnica de um projeto dessa natureza. Da forma como está, degrada a região, aquela região ali embaixo da Avenida São João, da General Olímpio da Silveira, ficou muito degradada. E, ao mesmo tempo, é ruim para a cidade. Então, nós estamos discutindo uma solução mista, que não traga um problema profundo para asfixiar ainda mais o congestionamento naquele corredor centro-oeste, mas que, ao mesmo tempo, recupere urbanisticamente aquela região. Hoje, eu vejo com muitos bons olhos esse projeto que foi lá atrás levantado e que ganhou um concurso na gestão Serra, mas eu não posso aqui firmar meu compromisso integral com ele, porque a nossa equipe está estudando as questões técnicas de viabilidade.

[Raquel Landim]: Deputado, tarifa zero do ônibus: o senhor defende a expansão da tarifa zero do ônibus, só que hoje as investigações estão mostrando que existe, sim, uma máfia do ônibus em São Paulo ligada ao PCC, o Primeiro Comando da Capital. Faz sentido aumentar a tarifa zero do ônibus, que é subsídio para as empresas de ônibus, que já chegam aí a R$ 5 bilhões, antes de debelar essa máfia?

[Guilherme Boulos]: Sabe o que faz sentido? Passar a limpo os contratos de ônibus em São Paulo. E é isso que eu vou fazer. Eu vou passar limpo, porque não tem cabimento, Raquel. E aí você tem toda a razão.

[Raquel Landim] Antes de aumentar o subsídio para essas empresas, então.

[Guilherme Boulos]: Só se me permite. Você tem toda a razão no ponto que é o seguinte: você teve um aumento brutal de subsídio. Tem gente da Fazenda da prefeitura dizendo que o subsídio esse ano pode chegar a R$ 7 bilhões. O ano passado já foi R$ 5,5 bilhões. E você teve uma redução de quase 20% no número de viagens. Então tem menos ônibus na rua, o povo andando mais superlotado, esperando mais no ponto e as empresas ganhando mais. E ainda com essa suspeita fortíssima de atuação no Ministério Público de ligação com o crime organizado. O que eu não consigo entender é o atual prefeito, no dia seguinte da operação da Polícia Civil numa empresa que o dono tinha sido preso com arma e com ligação com o crime, fazer um vídeo declarando que essa empresa era a proba, muito boa, prestava um excelente serviço. É inaceitável. No nosso governo, nós vamos passar a limpo os contratos de ônibus na cidade de São Paulo. Você tem a certeza disso. Eu sou um defensor da tarifa zero, mas a tarifa zero, e aí você tem razão, respondendo a tua pergunta, só pode ser feita depois que a gente botar ordem na casa e acabar com a farra dos subsídios que ninguém controla, que ninguém fiscaliza, que o serviço só piora e o dinheiro que as empresas recebem só aumenta.

[Raquel Landim]: Uma coisa depois da outra, então, né? Primeiro acabar com a máfia e depois aumentar o dinheiro.

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[Guilherme Boulos]: Veja bem, a tarifa zero é um processo. Hoje ela já existe nos domingos. O que não pode acontecer é tarifa zero com ônibus zero, que é o que está acontecendo nessa gestão. Implementou a tarifa zero no domingo, reduziu de novo a frota e as pessoas esperam uma hora no ponto para pegar. Não dá. Eu quero implementar uma tarifa zero que seja sustentável ao longo do tempo, financeiramente e também com frota adequada para as pessoas não irem superlotadas. Isso é um processo. Mas vou passar limpo antes de qualquer outra coisa.

[Fabíola Cidral]: É capaz então que não consiga adotar a tarifa zero na sua gestão.

[Guilherme Boulos]: A tarifa zero, para ela chegar a tarifa zero integral, é um processo. Nós temos que ser corretos aqui. Não dá para ficar vendendo fumaça. Esse processo depende de dois fatores, do meu ponto de vista. Primeiro de você resolver a situação financeira, de equilíbrio financeiro do subsídio. Então hoje, do jeito que está, está uma farra, nós vamos passar limpo. Mas tem outra. Sabe o que vai dar melhores condições para você viabilizar financeiramente a tarifa zero? Um outro projeto que eu tenho e nós vamos fazer, que é a mudança de modal da frota. Elétrica e híbrida. O ônibus elétrico e o híbrido têm um custo de rodagem que pode chegar até a metade do custo de rodagem do ônibus a diesel. O problema e a dificuldade dele é que o custo inicial pela bateria a lítio é mais caro. Então você precisa de um aporte inicial. E aí eu fui conversar com o BNDES para isso, para criar essa linha de crédito. Um fomento para poder comprar. Depois o custo de rodagem dele é mais barato. Então você vai ter uma redução do custo do sistema, que vai dar melhores condições financeiras para a tarifa zero. E melhor do que tudo, com emissão zero de carbono, com energia limpa. O segundo processo para viabilizar a tarifa zero é o processo de aos poucos. Porque se você faz tarifa zero de uma vez na cidade de São Paulo, você colapsa o sistema. Os passageiros de metrô migram, sempre tem um aumento proporcional das pessoas que vão. O ônibus já está superlotado. Então isso tem que ser feito e nós vamos começar pelos mais vulneráveis. Vamos apresentar um programa inovador de tarifa zero gradual na cidade de São Paulo, que vocês vão ver. É spoiler. Não vou passar os detalhes aqui, senão nossos adversários ainda tentam roubar.

[Fabíola Cidral]: Vamos para o pinga-fogo. Eu peço que o senhor responda sim ou não contra ou a favor sobre vários assuntos aqui que a gente selecionou. A favor ou contra equiparar o crime de aborto ao de homicídio?

[Guilherme Boulos]: Contra. Um absurdo o PL do estupro.

[Fabíola Cidral]: Descriminalização da maconha.

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[Guilherme Boulos]: Eu sou a favor de diferenciar usuário de traficante.

[Fabíola Cidral]: Mas descriminalizar a maconha?

[Guilherme Boulos]: Eu sou a favor da decisão do Supremo, que diferencia usuário de traficante. Ou seja, o usuário não é tratado como criminoso, o traficante é.

[Fabíola Cidral]: Mas no geral, então, o senhor é contra?

[Guilherme Boulos]: Defendo essa decisão do Supremo. O usuário não pode ser tratado da mesma forma que o traficante.

[Fabíola Cidral]: Cobrança de mensalidade nas universidades públicas.

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[Guilherme Boulos]: Contra.

[Fabíola Cidral]: É a favor da multa para quem doar comida para as pessoas em situação de rua?

[Guilherme Boulos]: Esse é um dos maiores escândalos que São Paulo já viu.

[Fabíola Cidral]: É a favor de câmeras no uniforme da polícia e pretende colocar isso na GCM?

[Guilherme Boulos]: Totalmente a favor e pretendemos colocar isso na GCM.

[Fabíola Cidral]: Contra ou a favor a posse de armas por pessoas comuns? Posse e porte?

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[Guilherme Boulos]: Contra, ambos. Contra.

[Fabíola Cidral]: Privatização da Sabesp.

[Guilherme Boulos]: Contra.

[Fabíola Cidral]: A favor da taxa zero no transporte?

[Guilherme Boulos]: Sim.

[Fabíola Cidral]: É a favor da terceirização na área da educação?

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[Guilherme Boulos]: Na educação infantil, o que já foi feito foi o que permitiu zerar a fila da creche, tem que continuar assim. No ensino fundamental, não.

[Fabíola Cidral]: Vai voltar com a inspeção veicular em São Paulo?

[Guilherme Boulos]: Não. Vamos ter um programa ambiental ousado, mas que não passa por isso.

[Fabíola Cidral]: Vai proibir os táxis nos corredores de ônibus e nas faixas de ônibus?

[Guilherme Boulos]: Vamos deixar da forma como está.

[Fabíola Cidral]: Três metas que vão estar no seu plano de metas.

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[Guilherme Boulos]: Três metas muito importantes. Resolver a população em situação de rua, zerar a fila da saúde e garantir empregos na periferia para reduzir as distâncias entre local de moradia e trabalho.

[Fabíola Cidral]: Vai reduzir a velocidade nas marginais de 90 para 70 km por hora?

[Guilherme Boulos]: Não.

[Fabíola Cidral]: Quem é o seu mentor? Quem é o seu político que te inspira?

[Guilherme Boulos]: Eu não diria mentor, mas eu tenho várias referências na política. Aqui no Brasil, pela sua trajetória de vida, a sua história, o Lula para mim é uma referência. Pela sua coragem, o Leonel Brizola é uma referência. Pelos seus valores eu tenho, não no Brasil, mas na América Latina, o Pepe Mujica como uma grande referência. A gente se inspira em pessoas, mas cada um constrói sua trajetória.

[Fabíola Cidral]: Uma qualidade e um defeito seu.

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[Guilherme Boulos]: Uma qualidade, além de ser corintiano. Eu gosto de estudar. Minhas filhas me chamam de CDF. Eu pego duas, três horas por dia para mim, estudo, estudo, estudo e é o que eu tenho feito. Um defeito. Bom, além de ser um péssimo jogador. Eu adoro jogar futebol, mas eu afundei o time na vargem. A gente jogou no CDC esses dias lá no Jardim das Palmas. Foi uma tragédia, o time perdeu por minha causa. O Cleiton está até aqui que era o capitão do time.

[Fabíola Cidral]: Isso é um defeito? Além desse, qual é o outro?

[Guilherme Boulos]: Além desse, eu sou uma pessoa meio teimosa. A Natália, minha esposa, sempre diz, para me fazer mudar de opinião, tem que me convencer muito. Porque eu formo, eu demoro para formar minhas opiniões, mas quando eu formo, eu sou um pouquinho teimoso para mudar.

[Fabíola Cidral]: E o Corinthians cai esse ano ou não?

[Guilherme Boulos]: De jeito nenhum, Fabiola. Não diga isso. Afasta de nós esse cálice.

[Fabíola Cidral]: Por que você quer ser prefeito de São Paulo?

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[Guilherme Boulos]: Quero ser prefeito de São Paulo porque eu acho que a nossa cidade, de mudança, pode ser muito mais do que é hoje. São Paulo já foi a cidade das oportunidades, São Paulo é uma cidade acolhedora, solidária, uma cidade inovadora. Hoje está parada no tempo e acho que São Paulo merece estar entre as cidades mais humanas, mais inovadoras do mundo e é isso que eu quero fazer.

[Fabíola Cidral]: O melhor e o pior de São Paulo.

[Guilherme Boulos]: O melhor de São Paulo, eu acho que é a sua diversidade, é a sua vida cultural integrada, é a cidade de todos os povos, como dizia a Luiza Erundina. O pior de São Paulo? eu acho que é uma coisa que a gente precisa superar, que é uma cultura da indiferença. A gente precisa perder a capacidade de se colocar no lugar de quem sofre, ver alguém jogado na rua e achar que é parte da paisagem, ver uma criança revirando o lixo para comer na cidade mais rica e não se indignar com isso. Eu quero também ser prefeito de São Paulo para superar essa indiferença e fazer um choque de humanidade na cidade.

[Fabíola Cidral]: É isso. A gente tem ainda 40 segundos. Qual é a avaliação que o senhor faz do governo Lula até agora?

[Guilherme Boulos]: O presidente Lula está cumprindo uma função incrível de reconstruir um país que estava devastado, de reconstruir uma democracia ferida, de buscar retomar programas sociais que tinham sido desmontados no governo anterior, de enfrentar um congresso extremamente difícil. Eu estou lá e vivo isso. Por isso acho que está fazendo isso com muito êxito e, aliás, a última pesquisa da Quaest ontem mostrou um pouco isso.

[Raquel Landim]: A gente tem 10 segundos. O senhor defende o governo da Marta e o governo do Haddad, mas o que ficou deles foi?

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[Guilherme Boulos]: Não só da Marta e do Haddad, da Erundina também.

[Raquel Landim]: Mas o que ficou deles foi a taxa do lixo?

[Carol Linhares]: ? e o aumento do fluxo na Cracolândia. O senhor vai repetir?

[Raquel Landim]: Vai repetir essas experiências?

[Guilherme Boulos]: De jeito nenhum. O que ficou da Marta foi CEU e Bilhete Único. O que ficou do Haddad foi Paulista aberta, carnaval de rua, ciclovias.

[Raquel Landim]: Mas nenhum dos dois se reelegeu. Nenhum dos dois se reelegeu.

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[Guilherme Boulos]: Independente disso, o Ricardo Nunes também não vai se reeleger. Nós vamos ganhar a eleição.

[Fabíola Cidral]: Guilherme Boulos, agradeço a sua participação aqui na nossa sabatina. Muito obrigada e já te esperamos para o debate que vem aí em setembro.

[Guilherme Boulos]: Não tenha dúvida, Fabíola. Você sabe que de debate eu não fujo. Eu gosto demais. Obrigado pelo convite. Obrigado pela oportunidade. Obrigado pelo respeito, pela entrevista respeitosa que você, a Raquel e a Carol fizeram. E obrigado para quem acompanhou a gente aí no UOL e na Folha.

[Fabíola Cidral]: Agradeço a Raquel e a Carol pela parceria. Estaremos juntas mais uma vez na próxima segunda-feira. Nosso sabatinado na segunda-feira será o atual prefeito, inclusive, às 10 horas da manhã, Ricardo Nunes.

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