Em crise com Nunes, Leite diz que não há problema no União em apoiar Boulos
Ameaçando desembarcar da aliança com o prefeito Ricardo Nunes (MDB), o presidente da Câmara Municipal de São Paulo, Milton Leite, afirmou que o União Brasil não tem "nenhuma dificuldade" em apoiar a pré-candidatura de Guilherme Boulos (PSOL). O deputado federal é o principal adversário do emedebista na disputa pelo comando da capital paulista.
O que aconteceu
Leite afirmou que ministros do presidente Lula (PT), filiados ao União Brasil, têm incentivado a aliança com Boulos. "Existe essa sugestão. O presidente apoia Boulos, nossos ministros têm uma boa relação com o presidente. Não tem nenhuma dificuldade em irmos com Boulos", disse o vereador ao UOL.
O presidente da Câmara Municipal afirmou que a pré-campanha de Boulos já o sondou para tentar construir uma aliança com o União. "Ele (Boulos) pediu que nos procurasse. Ele fez contato com vários emissários (do partido)."
A pré-campanha do psolista nega ter conversado com Leite para obter apoio do União nas eleições municipais. Um coordenador da equipe de Boulos disse que estar com o presidente da Câmara seria trazer um "problema para o colo" do pré-candidato.
Investigações do Ministério Público paulista preocupam aliados do deputado. Um interlocutor de Boulos afirma que a pré-campanha prefere "o caminho mais longo", ou seja, sem aliança e benefícios, como maior tempo de TV e recursos. O MP apontou ligações de Leite com donos das empresas de ônibus em São Paulo que são suspeitos de envolvimento com o PCC.
Relação estremecida
Leite quer "esgotar" as conversas com Nunes antes de decidir o rumo oficial do União na eleição paulista. Até então aliado do prefeito, o presidente da Câmara disse que o apoio à reeleição do emedebista não é mais a opção natural do partido: "Se fosse natural, não haveria crise". Na semana passada, ele afirmou que o apoio estava mantido pelos próximos dias, mas ao UOL disse que não há pressa em resolver a situação.
Nunes e Leite têm se evitado. O prefeito disse à imprensa que falaria com Leite quando ele retornasse de uma viagem da Bahia. O presidente da Câmara de Vereadores voltou na terça à noite (9), mas o encontro ainda não ocorreu. Nos bastidores, Nunes tem dito estar chateado com as ameaças de desembarque.
Leite se encontrou nesta sexta-feira (12) com o presidente nacional do MDB, Baleia Rossi. Ele afirmou que a situação na capital paulista não foi assunto da conversa, que classificou como "boa". "Tratamos de muitos assuntos no interior (de São Paulo), sobre cidades em que há divergências nas alianças entre MDB e o União", disse. O presidente da Câmara de São Paulo declarou que vai aguardar ser chamado novamente, para discutir o apoio a Nunes em São Paulo.
Milton Leite tem reclamado a pessoas próximas do que considera ingratidão de Nunes, a quem avalia ter ajudado a governar. O cacique do União Brasil não engoliu a escolha do coronel da PM Ricardo Mello Araújo (PL), indicado do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), para a vice da chapa do atual prefeito. Ele almejava a vaga. Leite também estaria irritado com a falta de pagamento das emendas indicadas por vereadores do partido à prefeitura.
Diante do impasse com Nunes, a direção nacional do União Brasil também negocia apoiar a pré-candidatura do empresário Pablo Marçal (PRTB). Dirigentes do partido, no entanto, avaliam que o principal caminho ainda é a aliança com o atual prefeito, apesar do desgaste na relação.
Nunca conversei com esse cidadão na vida, diz Leite sobre Marçal
Leite reagiu à fala de Marçal, que disse, na sabatina UOL/Folha, que o União estava cobrando "caro demais" para apoiá-lo. Ele afirmou que a decisão sobre os apoios na capital serão do diretório municipal. "Nunca falei com esse cidadão na vida. Nunca peguei na mão dele para cumprimentá-lo. Na cidade de São Paulo, quem vai decidir isso é o diretório municipal. Nunca conversei com ele, sequer por telefone", rebateu.
Declaração "pegou mal" no União. Segundo um dirigente nacional ouvido pela reportagem, a fala de Marçal não foi bem recebida no partido porque teria deixado margem para interpretações negativas sobre a conduta da sigla. Ainda de acordo com essa fonte, a sabatina deixou claro que o empresário não estaria preparado para governar a capital paulista.
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