Prefeitura de SP: Veja a íntegra da sabatina UOL/Folha com Datena

O apresentador e pré-candidato à Prefeitura de São Paulo, José Luiz Datena (PSDB), participou nesta terça-feira (16) de sabatina promovida pelo UOL e pelo jornal Folha de S.Paulo.

Veja a íntegra da entrevista, conduzida por Diego Sarza, com participação das jornalistas Raquel Landim, do UOL, e Carolina Linhares, da Folha de S. Paulo.

[Diego Sarza]: Olá, um ótimo dia pra você. Estamos no ar com a série de sabatinas do UOL e da Folha de S.Paulo com os pré-candidatos à Prefeitura de São Paulo. Você já sabe, ao longo dos últimos dias temos entrevistado os pré-candidatos à prefeitura da maior cidade do país. Uma oportunidade de você, eleitor, já conhecer quem se apresenta como pré-candidato. Hoje, comigo, um pré-candidato já conhecido da maioria da população paulistana e brasileira...

[José Luiz Datena]: Eu espero que sim.

[Diego Sarza]: ... que é o apresentador José Luiz Datena. Datena, a gente separou aqui um perfil, uma biografia sua. Todo mundo já sabe, mas eu vou...

[José Luiz Datena]: Perfil de frente ou de lado? Se for de lado, vai aparecer a minha barriga.

[Diego Sarza]: Vamos fazer o seguinte: vamos rodar imagens...

[José Luiz Datena]: 'Ibagens' [brinca]

[Diego Sarza]: Roda 'ibagens' pra mim, por favor do Datena. José Luiz Datena tem 67 anos, nasceu em Ribeirão Preto. Ele é jornalista, começou a carreira no rádio, em coberturas esportivas, depois foi para a televisão. Despontava na Globo quando, em 89, foi demitido por subir num palanque de Lula, do presidente Lula...

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[José Luiz Datena]: Você tinha que lembrar isso? Vai me tirar voto pra caramba, cara.

[Diego Sarza]: Migrou para a Band, em meados da década de 90. Se destacou na apresentação do programa 'Cidade Alerta', um programa policial da Record. Depois, transitou pela Record de novo, RedeTV, se consolidou na Band, no comando do 'Brasil Urgente', programa que ele apresentou até junho, quando tirou férias, mas é quando a legislação permite que um pré-candidato fique nessa função. Atual pré-candidato pelo PSDB, já passou por 10 partidos, tentou concorrer à eleição como prefeito, vice-prefeito, senador, mas desistiu em todas as ocasiões.

[José Luiz Datena]: Eu sou o político mais vitorioso da história. Eu nunca perdi uma eleição, tá certo? Eu desisti de todas, mas eu nunca perdi uma eleição.

[Diego Sarza]: Bom dia, Datena. Bem-vindo.

[José Luiz Datena]: Só um detalhe que faltou no meu perfil. Pra quem acha que eu sou comunista, é que eu ganhei dois prêmios Herzog de Jornalismo. Se as pessoas não sabem. É que eu apresento um programa policial, mas eu tenho dois prêmios Herzog de Jornalismo, que são muito importantes na minha carreira e faço questão de colocá-los no meu perfil porque, como jornalista que sou, prezando a minha profissão...

[Diego Sarza]: Olha, ele é tão bom comunicador que está aqui já aproveitando a oportunidade. Datena, a gente vai ter uma hora.

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[José Luiz Datena]: Não, é que só tem uma coisa importante. Você falou que eu subi no palanque do Lula, mas não lembrou os prêmios Herzog que eu ganhei.

[Diego Sarza]: A gente vai ter uma hora pra conversar. O relógio vai até aparecer aí na tela, mas antes o meu bom dia para você.

[José Luiz Datena]: Bom dia, Diego. É um prazer estar com você, com a Raquel e com a Carol.

[Diego Sarza]: Bom dia, Raquel.

[Raquel Landim]: Bom dia, Diego. Bom dia, Datena. Seja muito bem-vindo.

[Diego Sarza]: Bom dia, Carolina Linhares.

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[Carolina Linhares]: Bom dia pra todo mundo.

[Diego Sarza]: Então, é isso. O relógio vai aparecer no canto da tela e aí, para não ser injusto com os demais, quando você. Posso te chamar de você?

[José Luiz Datena]: Claro, estou me sentindo muito velho sendo chamado de 'senhor' aqui. Não que eu não seja, mas estou me sentindo.

[Diego Sarza]: Datena, eu mencionei: você já foi ou se colocou como possível candidato quatro vezes. Chegou a desistir em todas as ocasiões. A população paulistana e brasileira quer saber: ela pode confiar na sua palavra? Você, desta vez, vai ser candidato?

[José Luiz Datena]: Não, na minha palavra ela confia há 40 anos, quando eu comecei a trabalhar. Há 26 anos fazendo esse tipo de programa. Então, a população confia na minha palavra. Questão política é outra coisa. Eu que não confio em político. Eu não confio na palavra de político e quando o político me sacaneia como me sacanearam no meio do caminho, em todas as outras outras oportunidades, que não cabe lembrar o porquê, eu larguei esses caras no meio do caminho. Então a minha desconfiança com política é total e até que eu faça parte do meio político e passe a ter confiança nos políticos de uma forma geral, eu vou continuar na expectativa de ser ou não ser, eis a questão, você entendeu? Se alguém me sacanear de hoje até o dia da eleição, vai ficar no meio do caminho também.

[Diego Sarza]: Você não garante que vai ser candidato então?

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[José Luiz Datena]: Eu posso morrer amanhã. Agora, a minha intenção, desta vez, é ir até o fim. É esta a minha intenção desde que alguém não me encha o saco.

[Raquel Landim]: Mas agora você está no PSDB, um partido relativamente pequeno...

[José Luiz Datena]: O PSDB é um partido que foi rachado e destruído por uma série de detalhes

[Raquel Landim]: Minha dúvida é a seguinte: tem perspectiva de alguém te sacanear daqui até a eleição?

[José Luiz Datena]: É claro que existe. Hoje em dia, você tem que tomar cuidado com tudo que acontece. Desde conchavos políticos, de 'toma lá, dá cá'. Tudo que as pessoas dizem que não vão fazer quando se propõem a serem eleitos e que fazem. É a chamada velha política. Isso eu não admito e não vou fazer. Se eu for eleito e vou ser eleito prefeito de São Paulo, continuando até o fim, não tem 'toma lá, dá cá', quem vai estar no governo é o povo. Nesse país só se faz política, mas governabilidade mesmo, pensando na Constituição, que é o povo, pouco gente faz isso. É só conversa fiada e conversa que não leva a nada.

[Raquel Landim]: Datena, supondo que você vá até o final...

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[José Luiz Datena]: Eu vou até o final.

[Raquel Landim]: Se ninguém te sacanear.

[Raquel Landim]: Você é hoje um dos maiores comunicadores do país. Não vou ter a indelicadeza de perguntar quanto você ganha, mas a gente sabe que é na casa dos três dígitos.

[José Luiz Datena]: Quantos dígitos?

[Raquel Landim]: Três.

[José Luiz Datena]: Três? É. É mais ou menos isso. Muito menos agora porque eu refiz o meu contrato com a Band e, antes de qualquer coisa... Me disseram outro dia assim: 'Datena, você usa a política para se promover?' Aí um cara gritou da janela da favela, a gente estava na laje da Tabata, 'Aí, Datenão, como vai você? Eu disse 'Olha, tá vendo, é o contrário'. Quem me usa como apresentador, com o prestígio que eu tenho são os políticos. Não é o contrário. Eu, agora, fiz um acordo com a Band, em plena campanha, e as outras todas que eu desisti, eu tinha quatro anos de contrato e ganhava entre R$ 600 mil, R$ 700 mil, R$ 800 mil, e eu cheguei a ganhar mais R$ 1 milhão e tinha quatro anos de contrato. Desta vez, meu contrato está se encerrando agora, em dezembro. A Band me procurou porque todas as emissoras de televisão estão passando por uma crise terrível e queriam reduzir o meu salário pela décima quinta vez em R$ 100 mil, R$ 150 mil. Eu falei 'Não, reduz em 70%, assim eu fico mais tranquilo, assim não tem sacanagem de perguntarem se eu estou usando política para renovar contrato e assim, quem sabe, vocês mantêm mais gente empregada aqui na Band, porque a Band está sofrendo uma crise como todos as outras televisões. Eu sou um cara bonzinho? Não. Mas é uma questão pragmática.

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[Raquel Landim]: Mas você...

[José Luiz Datena]: Não tem dinheiro pra pagar e eu não preciso de tanta grana pra viver.

[Raquel Landim]: Então você está negando que você esteja usando a política para renegociar o seu contrato...

[José Luiz Datena]: Não, não é que eu estou negando, é que...

[Raquel Landim]: Mas deixa eu só finalizar...

[José Luiz Datena]: Político sempre usou o meu prestígio para me lançar candidato. Eu nunca fui político.

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[Raquel Landim]: Mas deixa eu só finalizar a minha pergunta. O prefeito de São Paulo ganha R$ 35 mil.

[José Luiz Datena]: E daí?

[Raquel Landim]: Se você vencer, o partido...

[José Luiz Datena]: Eu já tenho. Olha, eu paguei uma multa...

[Raquel Landim]: Ô Datena, deixa eu só fechar a pergunta.

[José Luiz Datena]: Pode fechar. Desculpa.

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[Raquel Landim]: Se você vencer, o partido vai cobrir a diferença? Como é que você vai manter o padrão de vida?

[José Luiz Datena]: É o seguinte. Raquel, é o seguinte: eu paguei uma multa, eu fui único cara que pagou, talvez da televisão mundial, uma multa de US$ 10 bilhões, na época. Eram R$ 60 milhões e já fazem [sic] 11 anos. Eu perdi quase tudo que eu tinha. Casa. Me aconselharam a não pagar. 'Não paga, não. Porque nesse país aqui, ninguém paga dívida e ninguém vai preso'. Eu falei: 'Mas eu digo uma coisa na televisão, professo uma coisa na televisão e vou fazer outra? Peguei e paguei cada centavo que eu devia à Rede Record porque eu realmente descumpri com o contrato com a Rede Record e voltei pra Band na época e paguei a multa. Mas mas consegui, com o meu trabalho, de um dinheiro que sai da Band e vem pro meu bolso e a Receita Federal sabe de onde vem esse dinheiro, é declarado esse dinheiro, mesmo porque é praticamente na fonte. Eu só recebo de um lugar, que é a Band, não é verdade? E eu consegui arrecadar um dinheiro que, para que eu e minha esposa vivamos, a gente vive bem. Então eu estava pensando até em parar de trabalhar. Então não é o dinheiro público que vai me sustentar, é o dinheiro que eu já guardei, eu não vou ter uma vida nababesca, eu estou um cara muito longe de ser —perto de muitos apresentadores, eu diria que sou até um cara de classe média remediada— de alguns apresentadores que ganham muito dinheiro. E hoje, então, eu ganho muito menos dinheiro do que eu ganhava, eu não dependo de dinheiro público para viver.

[Carolina Linhares]: Mas para esclarecer, Datena, essa questão do contrato. Porque tem muitas notícias saindo que o senhor está renegociando, que o senhor já fechou o contrato?

[José Luiz Datena]: Não, se eu não fosse eleito prefeito de São Paulo, eu tenho um acordo com a Band de trabalhar mais dois anos, com uma redução de 70% de salário.

[Carolina Linhares]: Isso está fechado.

[José Luiz Datena]: Isso foi um acordo que a Band quis, não fui eu quem pedi. Por mim, o meu contrato encerrava em dezembro, eu parava de trabalhar, ou ia para outra emissora de televisão, quem sabe ganhando esses milhões todos que a TV, eu duvido, que vai pagar hoje em dia.

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[Diego Sarza]: Agora, Datena, você migrou muitas vezes de partido, até já mencionei aqui. Anotei: agora está no PSDB, foi do PT, foi do MDB, do PSL, que é o antigo partido do?

[José Luiz Datena]: Vai estourar uma hora.

[Diego Sarza]: Então, muito partido.

[José Luiz Datena]: Mas você lembra de uma coisa?

[Diego Sarza]: Só uma coisa. Você se preocupa com a bandeira desses partidos?

[José Luiz Datena]: Não.

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[Diego Sarza]: Quer dizer, com o que eles representam?

[José Luiz Datena]: Não, não me preocupo.

[Diego Sarza]: Porque tem partidos que o espectro está na esquerda, no centro, na direita...

[José Luiz Datena] Eu acho que os partidos são importantes, são fundamentais. Ideologia é importante, é fundamental. Mas partido, se fosse bom, não chamava partido, chamava inteiro. Então, tem realmente as suas dificuldades, tem as suas críticas. Muitos partidos partiram para a corrupção, outros se fragmentaram porque pessoas viraram entidades...

[Diego Sarza]: Você é progressista ou é conservador?

[José Luiz Datena]: E se sobrepuseram aos próprios partidos.

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[Diego Sarza]: Você é progressista ou conservador? Você é progressista ou conservador?

[José Luiz Datena]: Eu sou constitucionalista. Eu sou pelo povo brasileiro. Acho que essa questão de polarização... Primeiro que não existe Estado contra a direita ou contra a esquerda. Isso é um erro grave. E não existe... Não é... Você é de direita, então você é ruim. Não, tem cara na direita que é bom. Tem cara na esquerda que é muito bom. Agora, nos extremos, não há nada bom. Esse prefeito de São Paulo, como não entende nada de política... Aliás, a Prefeitura de São Paulo caiu no colo do prefeito. Aliás, eu era o candidato a vice com o Bruno [Covas]. Ele disse que eu não devia relembrar o Bruno. Como não devia relembrar? Eu faço questão de relembrar o Bruno. Eu tive orgulho quando o Bruno me chamou para sentar em um restaurante e me convidou para ser vice dele. O que foi, depois, confirmado em uma reunião com o Doria —que já foi, graças a Deus— com o [Rodrigo] Maia, com ele e com o Bruno, e com o Baleia [Rossi]. Eu era o vice do Bruno. Fui vice do Bruno durante quase um mês. E, na realidade, eu saí porque percebi que estavam me sacaneando dentro do partido.

[Raquel Landim]: Datena, você?

[José Luiz Datena]: Isso foi confirmado pelo Geraldo Alckmin, numa conversa que eu tive com ele. Vale a pena dizer isso, porque o Ricardo [Nunes] disse que é uma injustiça eu ser candidato pelo PSDB. Injustiça é São Paulo ter ele como prefeito e arrasar a cidade de São Paulo. Isso que é uma injustiça. Ter um prefeito tão ruim como ele.

[Raquel Landim]: Você está dizendo que você não é nem de direita, nem de esquerda, está se colocando o tempo todo na campanha como a opção do centro democrático?

[José Luiz Datena]: Não é que eu não sou de direita e de esquerda. Só um minutinho, Diego.

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[Diego Sarza]: Eu não ia falar. Só pra a gente respeitar a pergunta e depois a resposta.

[José Luiz Datena]: Claro.

[Raquel Landim]: Você está se colocando como a opção do centro democrático. Mas quem fez o melhor governo, Luiz Inácio Lula da Silva ou Jair Bolsonaro?

[José Luiz Datena]: Claro que foi o Lula. O Lula não foi eleito três vezes à toa. É óbvio que foi o Lula. O melhor governo foi o Lula. O Lula teve três governos. Ele foi ajudado pela perspectiva do quadro externo, que naquela época teve a quebra do Lehman Brothers, a quebra do sistema financeiro internacional. E a gente teve a sorte de ter os bancos saneados pela CPI do Banestado. E começou todo mundo a investir aqui. Então, o Lula não descobriu o Brasil. Eu disse a ele um dia, porque em um Canal Livre com o Joelmir [Beting], com o [Fernando] Mitre e companhia limitada, o Lula estava se colocando como o Cristo Redentor e quem tinha descoberto o Brasil. Ele fez realmente dois bons governos. Mas ele foi ajudado pelo cenário político externo.

[Raquel Landim]: E o 8 de janeiro foi tentativa de golpe?

[José Luiz Datena]: Oi?

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[Raquel Landim]: O 8 de janeiro foi tentativa de golpe?

[José Luiz Datena]: Você tem alguma dúvida disso?

[Raquel Landim]: Estou perguntando para você.

[José Luiz Datena]: Você tem alguma dúvida de que o 8 de janeiro foi uma tentativa de golpe?

[Raquel Landim]: Estou perguntando para você.

[José Luiz Datena]: Clara, absurda, desproporcional. E eu acho que é interessante. Como é que pode acontecer uma tentativa de golpe como essa? E, de repente, o Lula está lá em Araraquara com o Edinho, prefeito de Araraquara, almoçando, nem sabendo o que estava acontecendo. Como é que as forças de segurança do governo não avisaram o presidente Lula de que o golpe iria acontecer? Aquilo foi uma tentativa de golpe explícita. Completamente explícita. Isso é inegável. Quem nega essa tentativa de golpe quer negar a história brasileira. Isso é um absurdo, quem nega isso. É um absurdo. Não tem cabimento uma coisa dessa.

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[Carolina Linhares]: Datena?

[José Luiz Datena]: Que nem o Ricardo Nunes. Eu não vi, mas quis desmoralizar a tentativa de golpe dizendo que o tiro do Trump, sim, foi um atentado à democracia. Querendo desmoralizar o 8 de janeiro como tentativa de golpe. Coisa nenhuma. As duas coisas foram um atentado à democracia. Você atirar num candidato, quem quer que seja, a qualquer cargo, é um ato ou terrorista ou uma tentativa de homicídio. Mas é um ato contra a democracia. Se bem que o Trump não é, cá entre nós, esse exemplo de democracia que a gente queria que fosse. Ele é responsável pela invasão do Capitólio, que foi uma coisa que eu jamais pensei que fosse ver na minha vida. Em vida, o país mais democrático, a nação mais democrática da história tendo o seu Congresso Nacional invadido.

[Carolina Linhares]: Datena, mas só pra gente falar de São Paulo e entender um pouco. O senhor disse que não tem nada de bom nos extremos. Aqui em São Paulo, o senhor falou mal do prefeito, está criticando a gestão dele.

[José Luiz Datena]: Eu não falei mal do prefeito?

[Carolina Linhares]: Criticou a gestão.

[José Luiz Datena]: É que é ruim mesmo.

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[Carolina Linhares]: E o Boulos, o senhor já disse que gosta do Boulos?

[José Luiz Datena]: Eu posso ser amigo do cara e achar que ele vai ser um mau administrador.

[Carolina Linhares]: Mas o senhor até tentou, teve uma conversa para o senhor ser vice dele. Eu queria entender.

[José Luiz Datena]: Não, não teve conversa. Ele me convidou duas vezes formalmente para ser vice dele.

[Carolina Linhares]: Mas na cidade de São Paulo, quem são os extremos? Boulos, que é tido como invasor? O senhor é um defensor da segurança pública? Quem são os extremos em São Paulo?

[José Luiz Datena]: O Boulos não é de extrema esquerda. O Ricardo Nunes não sabe nem o que ele é. O Ricardo Nunes pra você ter uma ideia?

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[Raquel Landim]: O Boulos invadiu a Fiesp?

[José Luiz Datena]: Eu vou falar do Boulos.

[Raquel Landim]: O Boulos participou de vários movimentos de invasão.

[José Luiz Datena]: Não, ele só tem que acabar com essa história de que ele vai tomar a sua casa, vai tomar o seu terreno. Ele precisa acabar com essa imagem de que ele vai invadir tudo, de que ele é o maior invasor. Essa imagem, ele precisa se desfazer disso.

[Diego Sarza]: O senhor concorda com essa imagem dele?

[José Luiz Datena]: Ele deve ter feito por isso, né. Não é à toa que dizem que ele gosta de tomar a propriedade dos outros. Ele precisa deixar bem claro que não vai tomar. E ele precisa corrigir isso. Isso não quer dizer que ele seja um cara de extrema esquerda. Hoje em dia, ele é um cara até muito ponderado, perto do que ele foi na juventude. Eu sou mais ponderado do que eu fui na juventude. Você disse que eu fiz a campanha do Lula, que eu fui demitido da Globo por causa da campanha do Lula. É verdade. Porque aconteceu o seguinte: naquela época, era Lula contra Collor, que foi um dos maiores ladrões que esse país já viu. Um dos caras mais corruptos que esse país já viu. Entre o Lula e o Collor, eu podia escolher quem? Eu escolhi o Lula e acho que fiz muito bem na época em escolher o Lula. Se bem que o Lula acabou perdendo a eleição para o Collor, eu fui mandado embora exatamente por causa disso.

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[Carolina Linhares]: Quem é que está nos extremos? O senhor diz que não tem nada de bom nos extremos. Quem é os extremos?

[José Luiz Datena]: Ah, os de sempre. São os de sempre. São os fascistas, os nazifascistas de sempre. Tem tanto...

[Carolina Linhares]: Tem nome?

[José Luiz Datena]: Não há um nome para colocar? O neofascismo, ele cresce no Brasil como cresce na Alemanha. A ultradireita cresce no Brasil como cresce na Alemanha?

[Carolina Linhares]: Mas quem são os representantes na urna?

[José Luiz Datena]: É diferente da direita, que é uma direita que pensa no país. É diferente da esquerda, que é uma esquerda que pensa no país. O prefeito diz que aceita bolsonarista, extremista, desde que ele seja democrático. Como é que um cara pode ser extremista e democrático ao mesmo tempo? Só no conceito do nosso amigo, que é o prefeito de São Paulo.

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[Raquel Landim]: Datena, pra você chegar no segundo turno, você tem que tirar ou Guilherme Boulos ou Ricardo Nunes. Quem vai ser seu adversário no segundo turno?

[José Luiz Datena]: Não, não tem que tirar ninguém. Eu vou ganhar deles no primeiro turno. Do jeito que eles estão falando bobagem. Você lembra o que o Lincoln dizia?

[Raquel Landim]: Mas a sua estratégia parece que é muito mais bater no Ricardo Nunes.

[José Luiz Datena]: O [Abraham] Lincoln dizia o seguinte: que é muito melhor você ficar calado e o sujeito achar que você é um idiota do que você falar e o cara ter certeza que você é um idiota. É o que está acontecendo com esses caras aí.

[Diego Sarza]: Já que a gente está falando dos candidatos de São Paulo, pré-candidatos, tem a Tabata Amaral, que até pouco tempo você?

[José Luiz Datena]: Que eu adoro, respeito.

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[Diego Sarza]: Você se filiou ao PSB, se colocou como pré-candidato a vice na chapa dela?

[José Luiz Datena]: Não, ela que me pediu para que eu saísse do PTB e fosse para o partido dela como vice?

[Diego Sarza]: Você decidiu sair para o PSDB com cabeça de chapa.

[José Luiz Datena]: ? e eu fui. Com esse objetivo.

[Diego Sarza]: Você traiu a Tabata?

[José Luiz Datena]: Que trair a Tabata? A Tabata falar que eu traí é uma mentira. Deslavada. Eu amo a Tabata, gosto da Tabata. Acho que a Tabata representa uma bela de uma política. Ela vai ter um crescimento nacional muito grande. Talvez não para essa eleição, mas ela vai ter um crescimento nacional. Nas eleições nacionais, ela vai ser importante. Ela é uma menina que vem de origem humilde. A família dela é excepcional. Mas a Tabata nunca disse que eu a traí. Ela disse que o PSDB a traiu. Se o PSDB a traiu, o problema é do PSDB, não é meu, mas ela quem me propôs...

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[Diego Sarza]: Você aceitou?

[José Luiz Datena]: Ela quem me propôs eu sair para o PSDB. Falei, Tabata, eu não quero ir para o PSDB. Eu quero ficar com você porque está tudo definido. 'Ah, mas eu quero ganhar um minuto na televisão'. Falei: 'Tabata, eu prefiro ficar com você'. Eu insisti. Ela insistiu e eu fui para o PSDB. Se o PSDB me fez um convite para ser prefeito, o problema é entre ela e o PSDB. Eu não sou traidor de ninguém.

[Raquel Landim]: Datena, deixa eu falar um ponto no PSDB. Aécio Neves. Na época em que Joesley Batista...

[José Luiz Datena] Ele mereceu a crítica que eu fiz.

[Raquel Landim]: Posso lembrar dessa crítica?

[José Luiz Datena]: É, pode lembrar.

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[Raquel Landim]: Você disse o seguinte?

[José Luiz Datena]: Eu pedi a prisão preventiva dele, do cachorro dele, de tudo o que ele tinha.

[Raquel Landim]: 'Eu acho que o Aécio devia estar preso. As provas de que ele recebeu propina foram todas gravadas. Foram quatro malas de 500 paus cada uma. E você ainda falou, se o Aécio for preso, eu venho de cueca amanhã no programa.

[José Luiz Datena] Porque eu sabia que não ia ser.

[Raquel Landim]: O Aécio estava no lançamento da sua candidatura. Te incomoda estar do lado dele?

[José Luiz Datena]: Absolutamente, porque o Lula estava preso até outro dia. Ele foi absolvido de todas as acusações dele. E a mesma coisa está acontecendo com o Aécio. Eu falo sobre provas que você tem na época. Eu falo sobre o que acontece na época em que o fato está sendo noticiado. E naquela época, o Aécio merecia essas críticas. Ao longo do tempo ele foi sendo, na realidade, inocentado.

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[Raquel Landim]: Você acredita na inocência do Aécio Neves?

[José Luiz Datena]: Eu não tenho que acreditar na inocência do Aécio. Quem tem que acreditar é a Justiça brasileira. Quem sou eu para acreditar na inocência dele?

[Diego Sarza]: Não te constrange depois desse discurso aparecer na mesma foto que o Aécio... lado a lado?

[José Luiz Datena]: Claro, se o cara foi inocentado, qual o problema?

[Diego Sarza]: Ele foi inocentado de todos os processos?

[José Luiz Datena] De todos os processos. Como o Lula. A mesma coisa que o Lula. O Lula até outro dia estava preso. Hoje ele não está mais. Eu não tive problema nenhum em ir até a casa do Márcio França, convidado pelo Lula, para apoiá-lo nas últimas eleições.

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[Diego Sarza]: Dias antes você estava em Brasília com o Bolsonaro, até atrás dele?

[José Luiz Datena]: Sim.

[Diego Sarza]: ?atrás dele numa entrevista coletiva também, né?

[José Luiz Datena]: E disse ao Bolsonaro que não iria apoiá-lo porque eu não iria apoiar o Lula também. E disse ao Lula que porque eu não apoiei o Bolsonaro não seria justo eu apoiar o Lula.

[Carolina Linhares]: Mas o senhor acabou de dizer que foi na casa do Márcio França para apoiar o Lula, mas disse que não apoiou nem o Lula nem o Bolsonaro. Quem o senhor apoiou em 2022?

[José Luiz Datena]: O Bolsonaro me convidou, então vamos colocar de uma forma temporal. O Bolsonaro me convidou para ser o apoiador dele nas eleições, já que eu tinha desistido de correr junto com o Tarcísio, que é meu amigo, falei com ele há três dias atrás. Ele falou assim: 'Datena, se você for eleito, você pode dizer publicamente, peça para as pessoas me ligarem que eu vou governar com você. Nós vamos governar juntos. Se você for eleito, apesar de eu estar com o Ricardo, por uma consequência de política, eu vou governar com você. Eu acho importante isso do Tarciso, porque você não pode governar a cidade de São Paulo independente de falar com o governador. Metade da população do estado está na região metropolitana de São Paulo. São 23 milhões de habitantes.

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[Raquel Landim]: Deixa eu pontuar isso que você está falando antes de você continuar a resposta.

[José Luiz Datena]: Deixa só eu terminar a história que a Carol perguntou.

[Raquel Landim]: Deixa eu só pontuar isso do Tarcísio. Você está falando que falou com o governador há três dias atrás e que ele disse que se você for eleito, vai governar junto com você. No seu último programa, você chamou o Ricardo Nunes, eu acho que de 'aquele cara', e disse que confia no Tarcísio. Você quer o apoio do governador na sua candidatura?

[José Luiz Datena]: Agora, não. Ele não pode me apoiar. Ele está do lado do Ricardo Nunes. Agora, como prefeito de São Paulo, eu tenho que governar junto com o estado de São Paulo.

[Raquel Landim]: Segundo turno, você quer o apoio do governador?

[José Luiz Datena]: Como?

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[Raquel Landim]: No segundo turno, você quer o apoio do governador?

[José Luiz Datena]: No segundo turno, eu não vou precisar do apoio do governador porque eu vou ganhar no primeiro. Deixa eu responder a Carol.

[Carolina Linhares]: Eu estou interessada nessa cronologia.

[José Luiz Datena]: Eu não pedi para apoiar o Bolsonaro. O Bolsonaro me pediu para que eu o apoiasse. Eu, infelizmente, fui num dia errado, que tinha uma entrevista coletiva, dizer para o Bolsonaro que o Bolsonaro não teria o meu apoio, já que eu tinha desistido da campanha com o Tarcísio que, no fundo, no fundo, o Tarcísio também não queria que eu fosse senador com ele. Ele preferia outra pessoa. Foi o que eu percebi, que por isso, que, mesmo com o apoio do Bolsonaro, o Bolsonaro foi leal até o fim, mantendo a minha candidatura contra alguns caras de rede social que me atacaram. Eu fui até o Bolsonaro para dizer que não iria apoiá-lo. Só que teve uma entrevista coletiva antes. Quando eu passei, chamaram o Bolsonaro de novo.

[Carolina Linhares]: A imagem que ficou era que o senhor apoiava ele.

[José Luiz Datena]: E aí eu apareci de segurança no Bolsonaro. E o Bolsonaro começou a descer o pau em mim. Em todo mundo, no Supremo, 90% do que ele falou ali, eu não concordava com quase nada. Eu fiquei pensando, imagine você na minha situação. Você está do lado, atrás do presidente da República, que está falando um monte de bobagem. Algumas coisas eram bobagens absurdas. Eu fiquei pensando, eu saio daqui ou eu fico aqui? Afinal, eu podia ter saído, resolvi não sair. Eu resolvi não sair por uma questão de respeito. E depois eu falei à imprensa que eu não concordava com quase nada do que ele disse ali. Depois o Lula me convidou para ir à casa do Márcio França e pediu o meu apoio. Eu falei, 'Lula, se eu não apoiei o Bolsonaro, eu não vou te apoiar também. Eu vou permanecer imparcial'. Agora, o que eu acho interessante é que o Bolsonaro é um cara de direita. Está mais do que provado isso. Que o Lula é um cara de esquerda. É de direita exagerado. Eu não diria que de extrema direita, mas direita exagerado. O Lula é um cara de esquerda. E é interessante que os dois pediram o meu apoio naquela eleição. Então alguma coisa eu devo ter.

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[Raquel Landim]: Mas naquela eleição em que estava em jogo o processo democrático, em que havia ataques ao Supremo Tribunal Federal, fazia sentido ficar neutro?

[José Luiz Datena]: Ah, eu acho que fazia, porque eu acho que não é ético. De repente, meses antes, você está na campanha junto com o cara e, de repente, apoiar o outro candidato. Então, para mim especificamente, no meu caso, a democracia precisava de todo mundo, mas ela podia, como pôde, abrir mão do meu apoio ali, porque eu achei que não seria ético, meses atrás, estar na campanha do Tarcísio e depois apoiar o Lula.
Não ficaria legal.

[Diego Sarza]:O Tarcísio está ao lado do Bolsonaro, esteve recentemente naquela convenção em Santa Catarina e o senhor já falou que tem apreço pelo Tarcísio, mas que é alguém democrático. Como é que é essa relação? O senhor considerou que o governo Bolsonaro foi um governo defensor da democracia, Tarcísio sendo aliado?

[José Luiz Datena] Não, o Bolsonaro cometeu vários erros. Se o Bolsonaro ficasse calado do primeiro momento até o fim...

[Diego Sarza]: O Tarcísio sendo uma cria dele, se mostrando aliado, que está lado a lado com ele...

[José Luiz Datena] Peraí, a todo momento o Tarcísio quer se distanciar do Bolsonaro.

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[Diego Sarza]: Ah, ele quer?

[José Luiz Datena]: Ah, ele quer. Você não percebe isso? Todas as matérias dizem que o Tarcísio quer se distanciar das ideias do Bolsonaro.

[Diego Sarza]: Mas ele não disse isso.

[José Luiz Datena]: Claro que não, mas ele vai a encontro com o Lula em Santos, no lançamento daquele túnel que não sai nunca, que liga nada a lugar nenhum e ele sorri das piadas do Lula e daí por diante. Ele não se abstém de ser um cara democrata, de participar do princípio do contrário.
O presidente da República está lá, ele vai lá e participa da campanha? do lançamento com o presidente da República. Então, isso não é um contrassenso, pelo contrário. Isso é ser democrata. E em nenhum momento eu vejo, só agora, quando pediram realmente que ele enfatizasse o que ele pensa do Bolsonaro, que ele achou que seria injusto se distanciar do Bolsonaro nessa eleição. Mas ele não é totalmente bolsonarista como tenta parecer, não.

[Raquel Landim]: Datena, quem vai ser o seu vice?

[José Luiz Datena]: Olha, eu não sei e pretendo que o partido escolha bem o meu vice. Mesmo porque eu acho que o partido tem que ter prioridade na escolha do vice. Só que vai ser escolhido pelo partido se eu achar que é um bom cara. Se eu achar que não é um bom cara, eu sou democrata, mas nem tanto a ponto de permitir que o partido escolha um vice que eu acho que não tenha ligação com o povo de São Paulo.

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[Raquel Landim]: E uma mulher?

[José Luiz Datena]: Pô, seria ótimo. Eu acho que está faltando mulheres na política brasileira e está faltando demais. Os caras acham que porque a Dilma não fez um bom governo, as mulheres não devem participar da política. É o contrário. Tem políticas brilhantes. A Simone [Tebet] é uma política brilhante. A Tabata é uma boa política. Tem políticas de primeira linha em todos os sentidos. Nós precisamos de mais mulheres, não é só na política, não. No nosso contexto geral, na vida pública em geral. As mulheres são descriminalizadas [sic] num país que ainda é super machista. Não me venha dizer que o Brasil não é machista, porque é. Eu, por exemplo, sou apresentador de televisão. Eu ganhava R$ 800 mil, R$ 900 mil e uma apresentadora ganhava R$ 20 mil, R$ 30 mil. Está certo isso? Claro que não.

[Carolina Linhares]: Eu queria pegar o gancho. O senhor falou da Tabata. Eu queria voltar nesse assunto para a gente deixar bem?

[José Luiz Datena]: Você quer que eu eleja a Tabata? Porque eu não vim aqui fazer campanha da Tabata.

[Carolina Linhares]: O senhor elogiou ela de todas as formas. Por que, então, o senhor... E o senhor disse que foi o PSDB que lançou o senhor. Mas existe um movimento aí do senhor de ter aceitado...

[José Luiz Datena]: Porque a Tabata insistiu para que eu fosse ao PSDB.

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[Carolina Linhares]: Mas o senhor aceitou ser candidato do PSDB e o senhor elogiou tanto a Tabata. Por que o senhor, então, não está na campanha dela? Por que o senhor está se lançando...

[José Luiz Datena]: Porque ela pediu para eu sair de um partido em que eu estava, que era o partido dela, o PSB, para partir para uma aventura no PSDB. E essa aventura aconteceu. Foi ela que me jogou no colo do PSDB e não o contrário.

[Diego Sarza]: Está certo. E falando sobre a cidade de São Paulo, Tarcísio, por exemplo, tem uma política de segurança pública que é alvo de críticas. Aquela operação na Baixada Santista, por exemplo, que deixou muitos mortos, é alvo, inclusive, de uma análise internacional sobre esse assunto. Qual vai ser a sua visão sobre a Guarda Civil, a Guarda Municipal da cidade de São Paulo, a Guarda Civil Metropolitana armada? Ela vai ter a mesma postura dos policiais do governo Tarcísio?

[José Luiz Datena]: Tem que ter respeito pela população. E eu confio na polícia. O cara falou assim, 'Datena, mas você confia na polícia?' Eu falei, claro. Você quer que eu confie em quem? No Marcola? No PCC?

[Diego Sarza]: Porque o PCC, por exemplo, está infiltrado, pelo que tudo indica, em algumas questões do poder público. E você mesmo disse que vai tirar?

[José Luiz Datena]: Em algumas questões do poder público?

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[Diego Sarza]: Você disse que vai varrer o PCC. Como é que se varre o PCC se ele está tão entranhado assim?

[José Luiz Datena]: Todos os atores da segurança pública, desde o Poder Judiciário, desde as polícias, desde os políticos, agora estão querendo inventar a roda. Muita gente não assiste ao meu programa, diz que não assiste, mas vê. Há quanto tempo eu venho falando que esse país tem que ter uma política de prevenção contra o crime organizado? Quando eu disse, há 15 anos atrás, que ia ter algo parecido como o PCC, como o Comando Vermelho, eu era tachado de sensacionalista. Eu queria perguntar a essas pessoas que me tachavam de sensacionalista quem tinha razão, eles ou eu. Aliás, eu nem tinha tanta razão, porque eu achava que o crime organizado não se organizasse tão depressa e que não chegasse ao poder que tem. O crime organizado está arraigado na política, elegendo gente até para cargo executivo. Legislativo, então, nem se fala. Aqui mesmo em São Paulo tem gente eleita pelo crime organizado em cargo executivo.

[Carolina Linhares]: Mas o senhor vai chegar na prefeitura e fazer o que para tirar o PCC da prefeitura?

[José Luiz Datena]: Estava tentando terminar. Vocês estão reclamando que eu não deixo vocês perguntarem. Deixa eu terminar. Então, todos os atores da segurança pública têm que estar em ação. Os políticos agora estão fazendo a PEC contra o crime organizado para tornar isso constitucional. Antes disso, há muito tempo eu tinha proposto que fosse reformado um código penal de 100 anos que não condiz mais com a realidade do quê? Da violência que nós enfrentamos exatamente por causa do crime organizado. O Brasil corre o risco de virar um narcoestado, de virar a Colômbia do Pablo Escobar. O Brasil é hoje a máfia que mais cresce no mundo de tráfico de drogas pelo PCC. Cresce mais do que qualquer máfia no mundo. E as outras máfias que brigam com o PCC estão quase se equiparando. O Brasil deixou de ser um corredor de drogas para ser o segundo maior consumidor de cocaína, o maior consumidor de crack. Está começando a estourar o fentanil aqui, que são as drogas-K, que é o maior problema que existe nos Estados Unidos. Há quanto tempo eu venho vociferando, venho gritando num programa que parece, por ser um programa policial, reacionário, mas que eu já disse tanta coisa ali que tem muita gente que me bota de comunista, porque eu digo coisas que são óbvias, coisas que são naturais, que o crime organizado tinha que ser combatido, que violência tem que ser combatida. Por exemplo, a violência policial. É claro que se o policial é violento, vale para a Guarda Municipal, como para todas as polícias. Se o policial é violento, tem corregedoria, tem Justiça, para que ele pague por isso. Como todos nós. Se há um evento morte envolvendo ou polícia ou qualquer um de nós, o cara vai a julgamento. Agora, eu sou a favor de que, se você estiver numa situação, você ou qualquer um de nós, estejamos numa situação, por exemplo, de refém de um bandido com arma na cabeça. De refém de um bandido que tem duas mulheres e o marido de uma delas na frente, que ele violentou a mulher três, quatro vezes, e a outra mulher com uma faca no pescoço, e o Gate (Grupo de Ações Táticas Especiais) entra e dá um tiro para matar o bandido, para impedir que ele esfaqueie a mulher, como ele ia dizer, depois de violentá-la várias vezes na frente do marido. Isso não é violência contra o bandido, é defesa da vítima.

[Raquel Landim]: Datena, mas deixa eu contar uma coisa para você. Eu preciso te interromper um pouquinho só para colocar as coisas no lugar. Tem várias atribuições dentro da segurança pública e de outras políticas. Algumas do governo federal, outras do governo estadual, e algumas da prefeitura. Vamos pegar um exemplo prático porque o prefeito pode muita coisa, mas não pode tudo. Cracolândia: o atual prefeito colocou grades ali na Cracolândia.

[José Luiz Datena]: Isso me lembra os guetos da época do nazismo, os guetos da Polônia, os campos de concentração. Isso é um absurdo.

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[Raquel Landim]: Se você for eleito prefeito de São Paulo, qual vai ser a sua política? A política do Datena para a Cracolândia?

[José Luiz Datena]: Cracolândia? Para resolver o problema da Cracolândia. Eu vou nomear Deus como secretário de Segurança Pública. Porque só Deus para resolver o problema da Cracolândia.

[Raquel Landim]: O prefeito de São Paulo precisa tentar resolver o problema da cracolândia.

[José Luiz Datena]: Deixa eu terminar um negócio da polícia. A polícia tem que usar de letalidade, de armas letais, quando ela percebe que uma vítima vai ser morta. Se não tem outro jeito, se a vítima estiver em iminência de ser morta, a polícia tem o direito e o dever de parar o agressor. Fora disso, qualquer situação policial que tem evento morte tem que ser investigada e obviamente que vai ser investigada. E quem praticou a violência desnecessária na polícia, como agente de segurança, vai pagar por isso. Agora, se tiver alguém em perigo, eu sou a favor de uso de letalidade por parte da polícia.

Passando à Cracolândia. Cracolândia é uma coisa que todo prefeito diz que vai resolver, mas não resolve. Primeiro, tem que ter ação de Polícia Judiciária, de Polícia Civil. Polícia Civil quem é? A polícia que faz a investigação. Por que existe Cracolândia? Porque a droga chega ao centro de São Paulo. Se a droga não chegasse ao centro de São Paulo, ou chegasse menos ao centro de São Paulo, obviamente, que não teria tanto traficante e tanto dependente químico.

Então, como é que você faz a droga não chegar ao centro de São Paulo? Você tem que ter investigação de quem são os verdadeiros barões do crime. O PCC fatura milhões com a Cracolândia, parece uma coisa simples, fatura milhões com a Cracolândia. Então, você impedindo que a droga chegue ao traficante "pé de chinelo" que ali distribui a droga, você já resolve boa parte do problema.

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O traficante que é preso, ele é solto no outro dia. Ele é solto em audiência de custódia, aquele traficante pé de chinelo, ele volta ali e continua esse ciclo. E a GCM (Guarda Civil Metropolitana) tem pouca coisa a fazer. Ela só pode exercer o poder de polícia. Mas não com essas ideias reacionárias de você botar grade e não deixar as pessoas circularem porque são dependentes químicos. Você tem que prender o traficante, jogar o sujeito na cadeia e jogar a chave fora e descobrir quem são os barões do crime.

Porque se você tem um monstro, e quer matar o monstro, você tem que impedir o sangue de chegar ao coração do monstro. Se você não impedir a droga de chegar até o traficante que vai vender para o coitado do dependente químico - e eu sei o que é dependência química, enfrentei isso dentro da minha família e desestruturou todo o nosso sistema, e graças a Deus, a maior conquista que eu tive na minha vida foi ter uma pessoa na minha família que saiu finalmente da droga do crack e hoje é um pai de família excepcional, é uma pessoa excepcional - por isso que eu acho todo o tipo de traficante e tráfico de droga execrável.

Todo mundo tem o direito, todo dependente químico, seja ele da cracolândia ou de boates de bilionários que também consomem droga até mais do que os caras da cracolândia, todo mundo tem o direito de se livrar da droga. Se você conseguir dar ao dependente químico uma forma de se livrar da droga, você vai ter menos traficantes, você vai ter menos drogas circulando e vai começar a resolver o problema.

Que eu vou resolver o problema da Cracolândia? Não sei. Porque o Poder Judiciário tem que participar, o Estado tem que participar com a Polícia Judiciária e a Polícia Militar e, obviamente, a GCM é uma guarda de seis mil homens que também combate o crime organizado e precisa ser equipada para combater o crime organizado.

[Raquel Landim]: Mas você que teve dependente químico na família, a internação compulsória funciona? Se a pessoa não quiser ela mesma sair do vício, adianta internar?

[José Luiz Datena]: A lei diz que não se pode internar compulsoriamente alguém, eu sou a favor de tentar fazer um plebiscito para mudar a lei. Fazem plebiscito para tudo aqui nesse país? Por que não fazem um plebiscito para ver se pode mudar a lei?

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Isso tem que ser uma pergunta feita a um cientista, como o Dr. Wong, que já nos deixou. Você tem que ver até que ponto uma pessoa tomada pela droga - existe um ponto em que a pessoa não tem mais discernimento, ela prefere morrer, e eu acompanho isso de perto, cientista na vida, na pele - a pessoa prefere morrer sendo carcomida pela droga do que fazer um tratamento para sair da droga porque esse é o mundo dela.

Essa é a forma de ela resolver os problemas que ela não consegue resolver de outra maneira. Essa pessoa não teria o discernimento para saber se pode ser internado ou não, mas isso depende de você analisar bastante. Acho que todo mundo tem o direito de se livrar da droga.

[Carolina Linhares]: Eu queria perguntar sobre o centro de São Paulo, porque alguns comerciantes se ressentem um pouco do tratamento que o senhor dá ao centro no programa, dizendo que o centro é muito perigoso, que o centro é violento, e isso acaba afastando as pessoas do centro. O senhor frequenta o centro de São Paulo e qual vai ser a sua política para o centro?

[José Luiz Datena]: As administrações todas relegaram o centro a um segundo plano. Essa última administração foi um horror. Esse cara [Ricardo Nunes] é o pior prefeito que São Paulo já teve. Não tem ninguém pior do que ele. Esse cara foi o pior. Ele relegou o centro a um quinto plano para depois ter essas ideias neofascistas de prender as pessoas em guetos, como nos campos de concentração, ou como na realidade, na Polônia ou coisa parecida. Eu acho até que eu pego muito leve com o centro de São Paulo.

O que eu desconfio na realidade, tem uma certa desconfiança muito grande de que quantas famílias de três ou quatro gerações, de bisnetos, netos, foram criados pelos comerciantes de São Paulo que viviam no centro. Você lembra do centro cheio? Do centro tomado por várias pessoas, fazendo compras ali, no Bom Retiro, fazendo compras na Lapa, fazendo compras no centro específico de São Paulo, mercadorias mais baratas, de boa qualidade, entendeu?

Você lembra o que tinha de gente no centro? Não tem mais ninguém. Por quê? Porque isso, me parece, faz parte de um processo engendrado pelo crime organizado para desvalorizar os prédios que foram vendidos ou largados a preço de banana por gente que criou filho, neto, bisneto, médico, engenheiro, gari, quem quer que seja. Mas muita gente criou família com o dinheiro que ganhava no centro. Essas pessoas foram afugentadas dali. Por quê? Se o cliente não vem, o sujeito não tem por que ficar ali.

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Acho que o crime organizado está atrás disso porque depois o crime organizado fala: "pronto, acabou. Não vamos mais vender droga no centro." E esses prédios que estão sendo vendidos e alugados a preço de banana, vão ser comercializados por quem? Por quem comprou a preço de banana, que acho que tem muito do crime organizado. Tem um cara preso, por exemplo. Você não combate o crime organizado sem combater a lavagem de dinheiro. É onde o cara transforma o dinheiro do crime, o dinheiro sujo, em dinheiro bom. Ele vai comprar mansões, comprar prédios.

Tem um cara preso e que já está como todo mundo, em prisão domiciliar, o [Sérgio] Cabral tomou 400 anos de prisão e está na rua, comprou uma cobertura em Copacabana e está na rua, ele que passeava com o cachorro de helicóptero, então, eu acho que esse cara, especificamente, que é acusado de matar o "cara preta", que era um dos grandes criminosos do crime organizado de São Paulo, porque ele ficou devendo, o cara era tão balãozeiro que ele ficou devendo para o PCC. Você gostaria de dever para o PCC? É ruim dever para o PCC. Mas ele movimentou quase que 200 milhões, segundo a polícia. Vai no Deic e pergunta para o Fábio Caipira. Pergunta para qualquer investigador dessa área. Esse cara levantou, lavou dinheiro em quase R$ 200 milhões de imóveis da zona leste. Então, eu acho que isso está acontecendo também no centro de São Paulo de uma forma diferente.

[Carolina Linhares]: Como prefeito, o senhor não respondeu. O senhor é muito bom de acusar e denunciar, é o que o senhor faz no seu programa.

[José Luiz Datena]: É a única coisa que eu fiz na vida.

[Carolina Linhares]: Como prefeito, o senhor tem que estar do outro lado. Como prefeito, como o senhor vai combater tudo isso que o senhor está dizendo? Como o senhor vai combater o crime organizado sentado na cadeira de prefeito?

[José Luiz Datena]: Fazer o possível para me sentar com o Tarcísio, que eu conheço. Fazer o possível para me sentar com o [Lincoln, promotor do MP-SP] Gakiya e outros promotores, Márcio Cristino, que eu conheço. São pessoas que, ao contrário de muita gente, me dão credibilidade, gostam de mim. Sentar com todos os agentes envolvidos, com cientistas, com médicos, para ver os dois lados da questão. A questão judiciária, a questão policial, com o comandante de Polícia Militar e tentar colocar cada ator desse cenário para funcionar. Porque se você funcionar de forma distante, você não resolve nunca. Só a Polícia Militar, só a GCM, só o governo do estado com força-tarefa, só isso não resolve. Todos têm que se conversar. Como prefeito, eu posso ser uma espécie de intermediário conversando com essas pessoas notáveis para que elas juntas consigam resolver. O problema não é do centro de São Paulo, não. O problema é de São Paulo inteira, que está tomado pelo crime organizado.

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[Raquel Landim]: Datena, tarifa zero no transporte público.

[José Luiz Datena]: Isso é uma sacanagem, uma brincadeira. Esse prefeito é um brincalhão. Você para entrar num ônibus de São Paulo...

[Raquel Landim]: Você vai acabar com isso?

[José Luiz Datena]: Primeiro que é uma maior sacanagem. É um trabalhador que demora duas horas e meia para chegar no seu trabalho e duas horas e meia para voltar. Está pagando passagem de ônibus para a empresa que é investigada de ser do PCC. O dinheiro continua indo para o PCC. O dinheiro continua indo para o PCC. Da Transwolff e da Upbus, que são investigadas. Além do Ricardo Nunes, dá bilhões para essas empresas de subsídio para comprar barco. Ele quer agora fazer o quê? Piratas do Tietê? Navegação sobre piratas do Tietê?

[Raquel Landim]: Exatamente, esse subsídio vai para essa máfia do transporte.

[José Luiz Datena]: Eu acho uma sacanagem isso aí. E além disso, ele tem que subsidiar o PCC. Sabe quanto que ele recebe? Sabe quanto que cada companhia de ônibus recebe aqui em São Paulo, pela passagem que você paga R $ 4,40? $ 10,60. As companhias já recebem. Além disso, tem o subsídio. E além disso, tem a perspectiva de, que não vou ser leviano, de dizer que o crime está dominando totalmente essas companhias, sem que as forças-tarefas atuem como atuaram agora e pegaram a maioria dessa diretoria, dessa Transwolff, que era do PCC. Como é que pode? Grandes criminosos do PCC na diretoria de uma empresa enorme que serve a Zona Leste

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[Raquel Landim]: Você descreveu o subsídio para as empresas de ônibus. A prefeitura já passa dos R $ 5 bilhões.

[José Luiz Datena]: O subsídio, eu acho que essas empresas de ônibus têm que se autogerirem. Se elas não se autogerirem, abre concorrência com transparência, ao contrário dessas concorrências, muitas delas, segundo a polícia, segundo o Tribunal de Contas, muitas delas viciadas com empresas que não existem, com empresas de laranja. Você quer um exemplo?

[Raquel Landim]: Eu quero pontuar e fazer uma pergunta direta. Você descreveu o subsídio para as empresas de ônibus que são de bilhões de reais. Essas empresas de ônibus estão envolvidas numa máfia do transporte.

[José Luiz Datena]: Não todas.

[Raquel Landim]: Não todas..
[José Luiz Datena]: Algumas delas?

[Raquel Landim]: Com o PCC no meio.

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[José Luiz Datena]: Algumas estão em vias de... Porque se o cara não sai de lá, o PCC mata.

[Raquel Landim]: Pergunta direta. Você vai acabar com a política da tarifa zero aos domingos?

[José Luiz Datena]: Claro que sim. Porque não existe esse negócio de tarifa zero. Você tem que cobrar um preço justo durante a semana para o cara pagar um preço justo também aos domingos e feriados. Porque onde menos circula a gente. Eu acho que, repito, esse negócio de tarifa zero é uma mentira. Mais uma desse prefeito. Mentira deslavada, a tarifa zero. Porque se você dá tanto a essas empresas de ônibus, as empresas de ônibus teriam que te pagar pra você andar de ônibus. Ou, no mínimo, o ônibus teria que ter tarifa zero a semana inteira, um ano inteiro, um mês inteiro, de tanto dinheiro que esse cara enfia em empresa de ônibus. Não tem cabimento uma coisa dessa daí. É um absurdo.

[Diego Sarza]: O nosso colunista de cidades, o Raul Juste Lores, ele fez uma pergunta, tá gravada. Vamos ouvir a pergunta.

[Raul Juste Lores]: Candidato, a Câmara Municipal aprovou algumas mudanças no plano diretor e no zoneamento que permitem mais prédios e mais construções em áreas como Berrini, Vila Nova Conceição e ao redor do Jockey Club. O senhor é a favor?

[José Luiz Datena]: Claro que não. É evidente que não. São Paulo já tem prédio demais. Pra que mais prédio em São Paulo? Você gosta mais de Nova York ou de Paris? Eu acho que nós temos que investir não nessas áreas que eles querem mudar o zoneamento. A área de bacana. A não ser que você pegue o Jockey Club e faça lá um conjunto habitacional enorme pra botar os caras que estão morando em comunidade que não tem dinheiro pra pagar aluguel, que não tem dinheiro pra pagar. Aí sim, se quiserem fazer prédios no Jockey Club, mas não pra bacana participar, mas pra, de repente, você criar habitações que tem um déficit habitacional enorme em São Paulo, passa de um milhão de pessoas que moram em área de risco. Se chover um pouquinho mais, isso vem abaixo e morre gente pra caramba. Agora, isso é uma utopia. Eu acho que tem que se escolher outro tipo de área pra você fazer prédio e não em áreas que já são, obviamente, favorecidas pelo dinheiro que as pessoas têm, onde moram.
Essa é a minha opinião. A não ser que seja uma coisa popular. Se for uma coisa popular, eu sou a favor. Pega o Jockey Club, e não adianta fazer só prédio pras pessoas de baixa renda morar. Você tem que primeiro ensinar a pessoa viver em comunidade porque ela está tão acostumada a ser maltratada na periferia que, de repente, vai acontecer a mesma coisa. Meia dúzia de criminosos vão lá, tomam conta desses empreendimentos e expulsam as pessoas de lá. Tem que ter inclusão social. Se você não tiver inclusão social, a pessoa não sabe nem morar num apartamento desse. É terrível.

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[Diego Sarza]: Como você pode diminuir essas desigualdades? Políticas públicas pra população periférica, pras favelas de São Paulo?

[José Luiz Datena]: Olha, a Prefeitura de São Paulo tem o terceiro orçamento da União. O primeiro é o Lula, o segundo é o Tarciso, o terceiro, infelizmente, é esse. Ricardo Nunes. O terceiro orçamento da União. Como é que você pode ter a Prefeitura rica e o povo pobre? Como é possível uma prefeitura bilionária e o povo pobre?

[José Luiz Datena]: Esse cara segurou o dinheiro até agora pra fazer obra eleitoreira que, durante muito tempo, você passava nessas obras. Não tinha ninguém trabalhando lá. Ele esperou, chegou mais próximo das eleições. O que eu vou fazer? O que você acha?

[Diego Sarza]: Eu que te pergunto.

[José Luiz Datena]: Sou contra a prefeitura rica e o povo pobre, é raspar o tacho da prefeitura, que já ganha muito, que já arrecada muitos impostos, e transformar isso em obras pra que as pessoas tenham trabalho. E empresas particulares que vão vencer essas licitações, terão também a obrigação de contratar mão de obra que está desempregada. 10%, por exemplo, por cada empresa, pra cada mão de obra. Mas não existe mais hospitais, mais atendimento público, menos buraco na cidade. Eu tenho a impressão que tem tanto buraco aqui que é a Lua. Tem menos buraco que aqui. Esse cara esperou chegar a um mês antes das eleições, um ano antes das eleições, pra começar a tapar buraco. E contratou firmas que já tinham sido expurgadas como tapadoras de buraco, porque davam balão. Botava aquela brita, a primeira chuva que tinha, levava tudo embora. Entendeu? Você tem que gastar durante a sua administração. Não me interessa se zera o caixa. É melhor você ter o caixa zerado da prefeitura, com responsabilidade fiscal. Ninguém vai ser irresponsável de uma forma fiscal, mas esse dinheiro seria dado ao povo. Se de repente quiserem dizer que o Datena deu pedalada fiscal, tá bom. Me mandem embora daqui, me 'impichem' e vão discutir com o povo que recebeu tudo que tinha direito, porque o dinheiro é dele, e que de repente esses prefeitos ficam guardando pra época de eleição, pra fazer obra e se elegerem. Isso é um absurdo. Eu não sou Robin Hood, não. É uma coisa óbvia. Dinheiro da prefeitura é dinheiro do povo. Aqui a iluminação é uma porcaria. As estradas são uma porcaria. As ruas que cortam São Paulo, são 33 ou 34 mil, são uma porcaria. Periferia não tem luz. Isso favorece a violência, a criminalidade. Os caras são assaltados em pontos de ônibus às 5 horas da manhã.

[Carolina Linhares]: Se o senhor me permite, a gente precisa falar de educação também. O prefeito teve uma marca importante que foi zerar a fila da creche da educação. Qual que é o próximo passo às filas da creche?

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[José Luiz Datena]: Isso é projeto do Bruno Covas. Não é projeto dele.

[Carolina Linhares]: É a mesma gestão, né? Ele se apropriou de uma ideia do Bruno Covas. Mas qual é o próximo passo da educação municipal depois de zerar a fila da creche?

[José Luiz Datena]: Investir o máximo possível em educação. Pagar bem o professor. Que ele disse que paga bem. Um cara não pode dar aula ganhando R$ 2.500 com o salário descontado e morrendo de fome. Saco vazio não para em pé. Você entendeu? A minha discussão na Rádio Bandeirantes foi essa. Que estavam defendendo o prefeito que ele pagava R$ 7.000 para professor. Isso é uma mentira. Absurda. Não tem professor que ganha R$ 7.000 aqui em São Paulo. Melhorar a condição de ensino começa por quem vai dar aula. Melhorar a situação das salas de aula. Que diz a rede municipal é melhor que a rede estadual. É outra mentira. Pode ser melhor, mas é muito pouca coisa. Se uma é ruim, a outra é um pouco melhor, mas é ruim também. Entendeu? Investir tudo que pode em educação. Educação é o básico. Não adianta você ter merenda apodrecendo se você não tem merendeira. Não adianta você ter merendeira, mas não ter merenda. Não adianta você ter sala de aula que não tem aluno por causa de evasão. A maioria da molecada, infelizmente, hoje no Brasil, vai na escola para comer, porque não tem comida em casa, entendeu? Você tem que atrair essas crianças a voltarem à escola. Tem que reforçar. Por isso que eu digo que tem que ter uma união com o governo do estado. Reforçar as rondas policiais em torno de escolas, que estão cheias de traficantes, tiros, mortes, crianças sendo assaltadas em porta de escola para roubar celular. Tem que acabar, isso é um absurdo.

[Raquel Landim]: As mortes no trânsito. As mortes no trânsito de São Paulo cresceram 16%. A prefeitura não aumentou a quantidade de radar. Você vai aumentar? Você vai botar mais radar? Vai diminuir velocidade?

[José Luiz Datena]: Claro que não. Radar é uma grande sacanagem. No Brasil, radar é uma grande sacanagem. Você já viu a perspectiva? Já viu a perspectiva orçamentária, qual é? Como é que o cara passa uma perspectiva orçamentária de que ele sabe quanto que ele vai arrecadar em multa? E se tivesse uma pandemia como teve? Até hoje você não sabe quanto que foi arrecadado durante a pandemia pelos radares de São Paulo.

[Raquel Landim]: Se o radar é uma sacanagem, como é que resolve o aumento de mortes no trânsito?

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[José Luiz Datena]: Qual a última campanha pública que você viu dizendo o seguinte? Se beber, não dirija. O mais simples. Não tem. Qual a última campanha que você viu em escola ensinando a criança a não ser violenta no trânsito? Não tem. As ruas esburacadas, quantas vezes você foi desviado num buraco e acabou se envolvendo num acidente ou machucando alguém? A pista de rolagem, só agora esse cara tá mexendo.

[Carolina Linhares]: Mas como que o senhor vai resolver?

[José Luiz Datena]: Deixa eu tentar responder. Entendeu? O radar não é usado com o objetivo que ele tem. Se o radar fosse usado com o objetivo que ele tem, que é de prevenir acidentes, mas não é. Ele é usado com perspectiva orçamentária. É questão de bilhões para botar em buracos que se abrem em outros lados da prefeitura. É da lei orgânica do município e do estado, do país, que tudo que você arrecada com multa, você tem que investir no trânsito. Nada disso é investido no trânsito aqui. Quantos semáforos em amarelo piscante você vê todo dia que prejudicam mais o trânsito da cidade do que uma grande enchente.
Que, aliás, enchente é outra coisa. Esse cara disse que investiu dois milhões em obras de enchente e eu tava entrevistando o sujeito durante o meu programa na Band. Ele falando, 'não, nós investimos para que não haja enchente', e eu quase morrendo afogado com a imagem que tava atrás do telão do Brasil. Mas como você investe em enchente se tá tudo alagado? Tem galerias aqui da época do centro de São Paulo, da época das carroças, da época do império, antes da República. Porque governador nenhum, prefeito nenhum, gosta de investir debaixo da terra, porque é obra que ninguém vê.
Então o radar é uma grande sacanagem porque ele não devolve legalmente o que deveria devolver. É muito melhor você ensinar uma criança que vai crescer e vai pegar um carro que ela não pode andar de Porsche ou de Romi-Isetta a mais de 150 por hora. A Romi-Isetta teria que ser bombada pra andar a 150. Mas de Porsche e Mercedes você vê toda hora. É muito mais fácil você ensinar uma criança desde a escola a ela não correr porque ela vai matar alguém. A ela não beber porque ela vai matar alguém. Do que você arrecadar indiscriminadamente e não investir em campanhas pra educar essas pessoas.

[Diego Sarza]: A gente já vai ter que ir pro pinga-fogo daqui a pouquinho, mas quero te perguntar, trazendo de volta...

[José Luiz Datena]: O que é o pinga-fogo?

[Diego Sarza]: Respostas rápidas. É só aquela troca rápida de pergunta e resposta. Mas antes eu quero te perguntar sobre um ponto que até você mencionou, que te acusam de fazer sensacionalismo na TV. Teve uma reportagem, acho que do The Intercept, eu anotei aqui, que te coloca na manchete. Como Datena e programas pinga-sangue, falaram assim, ensinaram evangélicos fundamentalistas a odiar. Você acha que contribuiu de alguma maneira pro avanço da extrema direita no Brasil?

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[José Luiz Datena]: Olha, tudo que a gente noticia, os sites do UOL, do G1, noticiam também na primeira página. Aliás, você sabia que a grande imprensa brasileira, quando o Rio de Janeiro era a capital da República, a primeira página do jornal era toda policial? Você sabia disso? E durante muito tempo, as primeiras páginas de jornal em São Paulo, Rio de Janeiro eram páginas policiais. E sabe quem escrevia as colunas, por exemplo? O Nelson Rodrigues. Ele se tornou depois um grande dramaturgo. O Edgar Allan Poe, que hoje é um dos maiores escritores reconhecidamente, escrevia romances policiais e era tido como sensacionalista. Quem sabe, quando eu morrer, há 200 anos, os caras façam uma estátua minha com uma metralhadora do centro de São Paulo, dizendo que eu era um gênio. Não, eu só relato. Eu vou te responder como eu respondi para um ministro da Justiça que, graças a Deus, já morreu e que eu não vou meter o pau no cara porque o cara não está aqui para se defender. Eu respondi a esse ministro e ele falou assim: 'Ô Datena, tem muita violência no seu programa'. Eu falei, é, porque você não faz o seu trabalho como ministro da Justiça, tem tanto crime na rua'. Como é sensacionalismo se você vê, as secretarias de segurança pararam de divulgar quantas pessoas morrem num final de semana nas capitais, produto de violência, de crime, de tiro, de bala. Deveriam voltar a fazê-lo.

[Diego Sarza]: Eu entendi seu ponto de vista. Eu vou pegar para o pinga-fogo, senão não vai dar tempo. Rapidinho, então, viu, Datena, contra ou a favor equiparar o crime de aborto ao de homicídio?

[José Luiz Datena]: Olha, primeiro que, sobre aborto, quem tem que falar é mulher. Mas isso é uma discrepância. Você botar o canalha do estuprador numa condição de pena inferior à da mulher, é uma sacanagem absurda.

[Diego Sarza]: Tá certo. Descriminalização da maconha, a favor ou contra?

[José Luiz Datena]: Droga, sou contra. O uso do canabidiol, sou a favor. Descriminalizar a maconha, eu sou contra porque eu sei que a realidade é uma. De repente, o pobre vai se ferrar, vai ser pego com menos de 40 gramas lá na Zona Leste, e o rico, com um quilo aqui, vai ser beneficiado porque tem grana. Não estou dizendo que a polícia toda é assim.

[Diego Sarza]: Internação compulsória, a favor ou contra?

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[José Luiz Datena]: O quê?

[Diego Sarza]: Internação compulsória de dependentes...

[José Luiz Datena]: Eu sou a favor de um plebiscito que defina isso com participação de pessoas notáveis e que definam até que ponto a pessoa pode tomar a atitude de ser internado ou não.

[Diego Sarza]: Cobrança de mensalidade em universidades públicas, a favor ou contra?

[José Luiz Datena]: Cobrança?

[Diego Sarza]: De mensalidade, pagar pra estudar em universidade.

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[José Luiz Datena]: Pô, cacete, aí você vai contra todo o princípio. Deixa de ser universidade pública. Deixa de ser universidade pública. Claro que sou contra.

[Diego Sarza]: É a favor ou contra aquele projeto que tramitou até na Câmara de multar quem fizer doações pra pessoas em situação de rua? Doação de comida.

[José Luiz Datena]: Primeiro tinha que prender esse cara. Você impedir de doar comida num país onde o sistema público falha pra caramba e principalmente a Prefeitura de São Paulo, você negar comida a quem tem fome, tinha que prender o cara. Claro que eu sou contra. Tinha que pedir o impeachment desse cara.

[Diego Sarza]: Câmera dos uniformes dos policiais, a favor ou contra?

[José Luiz Datena]: As câmeras têm provado cada vez mais que elas são importantes porque elas têm ajudado inclusive policiais a se livrarem de acusações indevidas.

[Diego Sarza]: E cidadão comum? Deve ser armado, deve ser incentivado a se armar?

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[José Luiz Datena]: Fizeram um plebiscito pra isso, não fizeram? Pra que o cara fosse desarmado. Eu gostaria que fizesse um plebiscito pra desarmar bandido também, porque até agora o cidadão comum foi desarmado e, na realidade, o cidadão portar arma, a maioria das armas que foi apreendida foi arma que o cara usava pra se defender dentro de casa. Isso inibe o crime. Não, não sou a favor, eu ficaria no meio-termo. Faz outro plebiscito.

[Diego Sarza]:E taxa zero no transporte público, já disse aqui, a favor da taxa zero?

[José Luiz Datena]: Taxa zero é taxa zero pro prefeito do transporte público.

[Diego Sarza]:É contra, né? A favor da terceirização na área da educação?

[José Luiz Datena]: Não sou, não.

[Diego Sarza]: Inspeção veicular, sim ou não?

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[José Luiz Datena]: Claro que não, eu lutei contra isso.

[Diego Sarza]: Corredores de faixas de ônibus?

[José Luiz Datena]: Acho necessário.

[Diego Sarza]: Três metas que vão constar no seu plano de governo?

[José Luiz Datena]: A primeira delas, que eu acho que é fundamental, é recolocar essas pessoas que não tem trabalho, isso é fundamental. De todas elas dependem a segurança pública. Hospitais que atendem e logo em seguida, além do primeiro atendimento, resolvem o seu problema, na verdade, e de repente você cuidar da segurança alimentar, porque tem muita gente passando fome em São Paulo. Tudo isso faz parte de uma coisa só, que é o meu principal projeto, que é segurança pública.

[Diego Sarza]: Seu mentor na política, quem é? Seu mentor, aquele que te inspira na política.

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[José Luiz Datena]: Um político brasileiro? Tem que ser brasileiro? Fernando Henrique [Cardoso].

[Diego Sarza]: Tá certo. Quero agradecer. Datena, obrigado pela entrevista, pela participação aqui conosco.

[José Luiz Datena]: Obrigado por vocês e a gentileza de ser tão bem acolhido aqui no UOL e tenho a impressão que foi um bom papo.

[Diego Sarza]: Espero que o nosso público tenha gostado também. Raquel, obrigado. Obrigado, Carolina Linhares. Obrigado a você que nos acompanhou. A Fabiola Cidral abriu e fez todas as outras pré...

[José Luiz Datena]: Ela me traiu.

[Diego Sarza]: Ela te traiu. Ela saiu de férias. Hoje eu tô aqui pra encerrar essa série de sabatinas com os pré-candidatos da Prefeitura da cidade de São Paulo e ainda hoje vai começar a série de sabatinas com os pré-candidatos à Prefeitura de Curitiba, às 14h15, e aí o UOL News, analisando também um pouco do que foi essa sabatina de hoje, a apresentação é da Natália Mota. Bom dia para você.

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