Candidato mais rico do Brasil, empresário declara R$ 2,8 bilhões em bens
João Pinheiro (PRTB), candidato a prefeito de Marília (SP), foi o que declarou o maior valor em bens para a Justiça Eleitoral entre os que registraram a intenção de concorrer às prefeituras deste ano em todo o país. O prazo terminou nesta quinta-feira (15).
O que aconteceu
O total em patrimônio de Pinheiro é de R$ 2,8 bilhões. O valor é quase 80% maior do que o orçamento de 2024 da prefeitura do município no interior paulista, que fica a cerca de 440 km de São Paulo por rodovia. A cidade vai administrar cerca de R$ 1,6 bilhão.
Ele é, portanto, o candidato mais rico do Brasil até o momento. Os dados ainda podem mudar, já que os registros no TSE (Tribunal Superior Eleitoral) ainda estão sendo processados.
De onde vem o dinheiro? Do montante declarado, a maior parte refere-se a cotas de capital de uma empresa dele do ramo de açúcar e outras commodities, em um total de R$ 2,85 bilhões. Outra quantia computada pelo Tribunal Superior Eleitoral é de cotas de uma empresa de agropecuária —R$ 1 milhão— além de R$ 300 mil na poupança da Caixa Econômica Federal. Seu vice na chapa, Rafa Amadeu (PDT), declarou bens no valor de R$ 173,9 mil.
Pinheiro falou abertamente de seu patrimônio. O candidato a prefeito contou, em entrevista ao UOL, sobre os carros esportivos que possui e disse que grandes quantias de dinheiro não mexem com ele, uma referência aos altos valores das verbas públicas a que os governantes têm acesso.
Acusação de estelionato, ocultação de bens e lavagem de dinheiro. O candidato tem processos em que é acusado desses crimes. Sobre o estelionato, ele diz ter devolvido o recurso com um terreno após um "desacerto comercial", mas que a pessoa acionou a Justiça mesmo assim. Sobre as outras acusações, diz que foi a mídia local que inventou. Ele diz que vai "até a última instância" para "não pagar o que não deve". "Está nas mãos dos advogados. Eu estou totalmente tranquilo. Quando você está errado, está errado. Mas, quando você está na sua razão, pode demorar, mas a verdade tarda, mas não falha."
Fácil acesso ao candidato. O contato com o candidato bilionário foi feito diretamente pelo telefone celular disponível no site da empresa de Pinheiro, que informa também o email pessoal do empresário. Na aba "Quem Somos", o portal mostra João Pinheiro ao lado de dois carros de luxo e um jatinho, além de frases dele sobre a missão do grupo, do qual é fundador.
Carros esportivos e inspiração
Aos 39 anos, ele diz estar no ramo açucareiro desde os 18. Foi quando começou a vender máquinas usadas para esse segmento da indústria. Antes, conta ter sido servente do pai, pedreiro. "Eu vim do zero. Meu pai me ensinou a trabalhar e me relacionar com as pessoas."
Ele não esconde o tamanho do seu negócio bilionário, atuando em vários países. Pinheiro afirma estar influenciando pessoas com seu sucesso financeiro. "Eu passei pelo camelódromo e alguns meninos me disseram: 'Você é fera, você é fera, me inspiro em você'".
Paixão pelos carros esportivos. "Eu sou uma pessoa de carros esportivos, eu tenho minha Ferrari, meus Porsches, minhas Lamborghinis, e eu quero passar que é possível, desde que trabalhe muito, tenha decência, e tenha um sonho. Quero ser exemplo."
O UOL perguntou a opinião do empresário sobre o que a população, especialmente a mais pobre, pensa a respeito dele. "Quem vê e não me conhece pensa que eu sou de São Paulo e filho de um bilionário que recebeu herança. Mas quem me conhece conta minha história para todos."
Sucesso privado x recursos públicos
João Pinheiro exalta seu patrimônio. Ele destaca a sua condição financeira bilionária para tentar deixar claro estar acostumado com altos valores em dinheiro, apontando isso como uma qualidade, o que não seria a realidade de outros políticos, segundo ele.
São pessoas muito despreparadas que estão hoje à frente para administrar recurso público, onde é uma enxurrada de dinheiro, onde pessoas que nunca viram dinheiro na vida veem um monte de dinheiro daquele jeito e ficam loucas e alucinadas, por isso a política não muda. Mas eu estou chegando para fazer algo diferente. A gente vê dinheiro como meio, não como alguns políticos que só veem o dinheiro como a solução.
João Pinheiro, candidato a prefeito de Marília
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A exemplo de outros políticos de direita ligados ao bolsonarismo, Pinheiro repete a ideia de ser possível transferir para as ações do poder público o modo de atuar em negócios privados. "O que deu certo na vida privada, a gente quer aplicar na vida pública, só que é mais fácil na vida pública. O recurso já vem, a gente só tem que saber administrar, mas de uma forma decente, honesta, pensando no povo, na população, que é muito carente."
Ele nunca ocupou cargo público e concorre pela primeira vez. Questionado sobre a lentidão típica da administração pública, com muitas regras e burocracia em contraste com a liberdade de agir enquanto empresário, ele afirma também precisar de paciência nos negócios. "Um navio de açúcar pequeno, com 12,5 milhões de quilos, demora quase 45 dias para chegar à China. Paciência é um dom, principalmente quando você lida com dinheiro em altas cifras."
Experiência com dinheiro. Segundo ele, o fato de estar acostumado a mexer com grandes quantias de dinheiro o ajudaria a lidar com a dívida atual da prefeitura, superior a R$ 1 bilhão, da cidade de 237 mil habitantes (segundo o Censo de 2022 do IBGE). "A gente está acostumado a mexer com essas cifras, diferente de todos que estão aí, que são pessoas que têm pai político, outro que é filho de juiz, que nunca fizeram R$ 1 milhão ou R$ 1 bilhão na vida e querem entrar na política dizendo que sabem mexer com um dinheiro desse."
Bom trânsito com políticos. Apesar de nunca ter participado da vida política, diz que sua condição de empresário permitiu conhecer ex-presidentes da República, ex-governadores e que tem relacionamento muito bom com vários deles. "Eu conheci o Brasil todo, por isso tenho relacionamento muito grande com vários políticos, de todo o Brasil, porque todos têm alguma coisa com usina de açúcar e álcool, é incrível. Eu estou no caminho certo."
Sem querer se comparar a Marçal. Ao se referir ao aliado Pablo Marçal, candidato em São Paulo pelo mesmo partido, procura se descolar quanto ao modo de agir. "Eu sou um pouco mais calmo que ele. Ele pega um pouco mais pesado, não é desse jeito que se faz política, né? Tem que saber entrar no jogo porque senão simplesmente você é carta fora do baralho."
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