PSOL quer deixar de ser 'satélite' do PT e faz aposta alta em Boulos
O PSOL quer deixar de ser um "partido de Legislativo" e mira governar cidades e estados para influenciar os rumos da esquerda no Brasil e na América Latina.
O que aconteceu
Projeto começa com Boulos eleito. A presidente do partido, Paula Coradi, considera a eleição do deputado federal Guilherme Boulos (PSOL) a prefeito de São Paulo como o ponto de partida. A maior cidade do país vai ser usada como vitrine da sigla.
Sigla deve alcançar o limite de gastos com Boulos no primeiro turno: R$ 67,2 milhões. É o mesmo montante reservado pela campanha do prefeito Ricardo Nunes (MDB), e só vai ser atingido pelo PSOL graças à ajuda de R$ 30 milhões do PT.
Partido esperar criar projetos de sucesso que sirvam como marcas para futuras eleições. A ideia é ter algo como o CEU, equipamento de educação implementado por Marta Suplicy (PT), ex-prefeita de São Paulo e hoje candidata a vice na chapa de Boulos. O projeto teve tanta aceitação que não pôde ser interrompido por adversários que venceram pleitos seguintes e segue sendo elogiado pela população.
Prefeitura de São Paulo tem dinheiro em caixa. Como escreveu o colunista do UOL Felipe Salto, a dívida municipal está em R$ 22,1 bilhões e existem R$ 30,1 bilhões nos cofres. Mas ele ressaltou que faltam projetos em que aplicar o dinheiro.
PT no caminho
PSOL comanda Belém e busca manter chefia da capital paraense. A reeleição de Edmilson Rodrigues também é vista como bastante relevante pela presidente do partido. Mas a situação na cidade não está fácil. O atual prefeito ocupa somente o terceiro lugar nas pesquisas, com 13,8%, e sua administração tem sido bastante contestada pela população.
Partido tenta dobrar o número de vereadores, saindo de 90 vagas para 180. Existe ainda uma expectativa de boa votação no Rio de Janeiro, segunda maior cidade do Brasil, com a candidatura do deputado federal Tarcísio Motta, embora o atual prefeito, Eduardo Paes (PSD), tenha possibilidade de vencer já no primeiro turno.
Em médio prazo, a consolidação do plano de crescimento resultaria na ameaça ao protagonismo do PT. O partido fundado por Lula em 1980 é o principal representante da esquerda, já venceu cinco corridas presidenciais e transformou as demais legendas de esquerda em satélites, mas enfrenta dificuldades de renovação e teve de ceder espaço para alianças.
A presidente do partido não enxerga o PT como adversário. O discurso é de uma busca por cargos mais importantes para que os valores e posições defendidos pelo PSOL saiam do papel e ganhem relevância.
Nós queremos ganhar a sociedade. Se significa ultrapassar o PT, não é nosso foco. Queremos ser referência da esquerda brasileira e na América Latina.
Presidente do PSOL, Paula Coradi
O reconhecimento internacional também está no radar. Ela visa a aumentar o intercâmbio com lideranças estrangeiras na discussão das mudanças sociais. O embrião destas conversas já existe, a Rede Futuro, foro que conta com a participação dos presidentes do Chile, Gabriel Boric, e da Colômbia, Gustavo Petro.
Enfrentamento de temas sociais e ambientais. Juliano Medeiros, ex-presidente do PSOL e dirigente da Rede Futuro, explica que o foro discute a uberização do trabalho e a pauta ambiental, por exemplo. Também falam sobre a ascensão da extrema direita e o esgotamento econômico do modelo neoliberal.
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Quero receberDificuldades no Sul e no Centro-Oeste
O PSOL é hoje forte nos grandes centros, como São Paulo e Rio de Janeiro. Com o PT sem candidato nas duas capitais, o partido tem se vendido como o representante da esquerda nas eleições municipais.
Enfrenta dificuldades no Sul e no Centro-Oeste. Ela justifica como duas regiões bastante bolsonaristas. Ela contou que há alguns pontos de exceção, como Florianópolis, mas admite que tem menos sucesso nestes locais.
As duas regiões são as de maior resistência ao esforço de crescimento do PSOL. Mas o partido aposta em crescer pela capilaridade. Para isso, a federação com a Rede lançou pelo Brasil 700 candidatos a prefeito e cerca de 3.000 a vereador.
Bandeira das minorias
PSOL entendeu o "espírito do tempo". A presidente da sigla avalia que a esquerda nasceu comprometida com justiça social e o partido compreendeu que era preciso brigar por espaço para grupos minoritários e subrepresentados na política em busca de igualdade de oportunidades. A deputada Erika Hilton (PSOL-SP) é um dos principais rostos do partido, lutando na política e nas redes sociais por pessoas trans.
60% das mulheres candidatas são negras. Em relação aos homens, segundo Paula Coradi, a divisão é meio a meio. Também há aumento de pessoas trans, quilombolas e indígenas concorrendo neste ano. A sigla defende essas causas antes mesmo de ganharem repercussão nacional, o que levou a uma associação do partido com estas bandeiras.
Paula avalia que há mais indígenas se lançando na política por causa de duas mulheres filiadas ao PSOL. Para ela, a deputada Célia Xakriabá (PSOL-MG) e a ministra dos Povos Indígenas, Sonia Guajajara, serviram de estímulo para outros disputarem uma vaga neste ano.
A gente busca valorizar estas candidaturas [negros, trans, indígenas e quilombolas] pelo lado financeiro e pelo prestígio político.
Presidente do PSOL, Paula Coradi
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