Plano de Marçal propõe triplicar GCM e erguer prédio mais alto do mundo
O plano de governo do candidato a prefeito de São Paulo Pablo Marçal (PRTB) tem propostas chamativas, como ensinar "educação emocional" nas escolas, e outras pouco viáveis, como triplicar o efetivo da Guarda Civil e construir o prédio mais alto do mundo. Especialistas apontam "pouca viabilidade técnica" nas propostas do candidato.
Veja as principais propostas e o que dizem os especialistas sobre elas:
Segurança
Marçal promete investir em inteligência policial por meio de parcerias com o governo estadual. Seu programa promete criar uma central de operações que vai gerir dados coletados por diferentes órgãos e secretarias municipais, como CET, escolas e postos de saúde. "Promoveremos parcerias para integração de dados e imagens com a iniciativa privada. Buscaremos melhores parcerias com Polícia Militar, Polícia Civil, Polícia Técnico Científica, Corpo de Bombeiros e Samu", diz o programa. Outra promessa para segurança é investir em zeladoria.
Armar e triplicar o efetivo da GCM (Guarda Civil Metropolitana). A promessa é saltar de 7.000 para 21 mil guardas, "com os melhores armamentos e equipamentos de ponta". O candidato diz que a guarda deixará de auxiliar na fiscalização do trânsito para se concentrar na prevenção de crimes "nos bairros, escolas, comércio, parques e zonas de proteção ambiental".
Marçal também promete um plano para reduzir roubo e furto de carro e celular. Seu plano prevê um Programa Nacional de Combate ao Furto e ao Roubo de Veículos e Celulares. Sem entrar em detalhes, o texto afirma que projeto prevê o "compartilhamento de informações em tempo real para possibilitar a interceptação e evitar a utilização desses bens para realização de novos delitos".
Saúde
O candidato promete relacionar investimentos em saúde com prática esportiva. "Faremos uma ampla parceria entre a Secretaria de Saúde e a Secretaria de Esportes e Lazer, adaptando os 46 Centros Esportivos existentes tanto para a melhor prática de exercícios físicos quanto para o alto rendimento", diz ele, prometendo educar a população para "bons hábitos alimentares, sono, ingestão de água, prática de atividades físicas e outras medidas do dia a dia."
Outro projeto é aumentar a cobertura da atenção básica. "O médico da Equipe Saúde da Família possui um papel essencial na prevenção, sendo a porta de entrada para o serviço de saúde municipal", diz ele, que também propõe parcerias com instituições privadas de saúde para reduzir a fila de exames e cirurgia. "Retomaremos o programa de ocupação de vagas ociosas em hospitais privados", diz seu programa.
Habitação
Marçal quer transformar imóveis vazios em habitação popular. "Faremos o maior programa habitacional da história, com a construção de novas casas nas periferias e com mapeamento, gestão e transformação de imóveis vazios na cidade em habitações populares, em parceria com o setor privado", diz ele, sem se comprometer com um número mínimo de imóveis.
Outra proposta é financiar a compra e a reforma de casa. Ele chama o programa de "Cheque Moradia", programa que "incluirá parcerias com instituições financeiras e empresas de construção para garantir preços acessíveis e qualidade nas obras". Ele também quer um "mutirão comunitário" na cidade. "Para a construção de moradias populares e reforma de favelas, envolvendo a comunidade local no processo", diz ele.
Zeladoria
Conservação das calçadas da cidade. Segundo ele, um "número significativo" de atendimentos em UPAs e UBSs acontecem após acidentes em calçadas, mas o documento não cita a fonte da informação. "Vamos transformar as calçadas de São Paulo em espaços adequados e bem cuidados, onde todos possam caminhar com segurança", diz o plano de governo.
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Quero receberO candidato também quer instalar câmeras em caminhões de lixo. A ideia é identificar áreas que precisem de limpeza e manutenção. Marçal também sugere ampliar o alcance do aplicativo de atendimento ao cidadão, o Portal 156, para que os moradores também apontem os locais que precisam de reparo.
Educação
Escolas olímpicas. A ideia é "incentivar a prática esportiva e formar atletas de alto rendimento", diz o texto. A proposta é considerada um dos principais motes de seu plano de governo, que também propõe parcerias com clubes esportivos e academias para formar "cidadãos mais saudáveis, disciplinados e preparados para os desafios da vida".
Ele também quer mudar a grade curricular da rede municipal. O candidato promete incluir disciplinas como empreendedorismo, finanças, programação digital e educação financeira e sugere programas de educação emocional que "ensinem princípios éticos e valores morais".
Urbanismo
Marçal propõe um cinturão de teleféricos. O candidato já disse em entrevista que a proposta é interligar bairros periféricos da cidade, como o Brasilândia, na zona noroeste, Vila União, zona leste, e o Capão Redondo, na zona sul. Para fazer o trajeto mais curto entre esses bairros, seria necessário instalar 93 quilômetros em cabos, que cortariam a região central da cidade em pontos como Brás, Bela Vista e Itaim Bibi.
Ele também promete construir o prédio mais alto do mundo. Com um quilômetro de altura, o arranha-céu "consolidaria a imagem" da capital paulista como centro global de negócios. Ele não especifica se o edifício seria usado para fins comerciais ou residenciais.
O que dizem os especialistas
Ideias do empresário chamam a atenção, mas têm pouca viabilidade técnica. A opinião é do professor aposentado da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP Lúcio Gomes, para quem o teleférico é um "factoide". "Uma obra desse tamanho seria para um metrô, não para teleférico. Ele não seria capaz de atender a demanda, os bondinhos são pequenos, há um intervalo grande entre um bondinho e outro. É uma proposta completamente furada", avalia.
São Paulo não tem o mesmo relevo ou ocupação do solo que cidades onde os teleféricos deram certo. É o caso de La Paz, na Bolívia, e Medellín, na Colômbia. "Assim como em Bogotá, o Rio tem favelas na encosta e áreas ricas em lugares mais baixos. Construir teleféricos em São Paulo não tem razão nenhuma, porque não temos essa configuração", disse o professor Gomes.
Quanto ao prédio de um quilômetro, é impossível avaliar enquanto Marçal não definir o propósito do edifício. A análise é do coordenador do Centro de Estudos da Cidade do Insper, José Police Neto. "Por enquanto, a análise é superficial porque a proposta é superficial", disse. "Mas se fosse uma solução comum, o mundo inteiro já teria prédio de um quilômetro de altura. Me parece que a sociedade ainda não decidiu que essa é uma forma de solucionar os problemas da cidade".
Plano diretor de São Paulo estabelece que, em algumas regiões da cidade, não há limite na altura dos prédios. Mas isso não significa que tudo esteja liberado. "Há o coeficiente de aproveitamento: o volume de metros quadrados que se pode construir num terreno. Embora não haja proibição [de prédio com um quilômetro de altura], não há nenhuma região da cidade que tenha um coeficiente que permitiria a construção, precisaria alterar a legislação", explicou Police. "Quando mais alto o prédio fica, mais caro o metro quadrado será."
Se a intenção é atrair turistas, é preciso estudar se, com o preço de erguer um prédio dessa altura, não seria possível fazer outros investimentos que dariam o mesmo retorno, falou.
Se o metro quadrado da construção é caro, isso se distancia de um empreendimento que serviria à população de menor renda. Se serve a uma população de maior renda, não caberia dentro de uma política pública, porque não repara as relações socioeconômicas. Assim, o investimento teria que ser do setor privado, não público.
José Police Neto, do Insper
Na segurança pública, Marçal não inova ao propor inteligência policial. "A prefeitura pode fazer essa integração de dados para inteligência", diz Rafael Alcadipani, professor da FGV e membro do Fórum de Segurança Pública. "A prefeitura estava inaugurando um centro desses com câmeras, tentando integrar a informação." Sobre os convênios com as polícias, "isso já tem", diz o professor.
O especialista acha "pouco provável" um aumento expressivo de agentes da GCM. "Esses concursos demoram, são vagarosos. Não é factível triplicar o efetivo de guarda em uma gestão de quatro anos", diz Alcadipani, lembrando a necessidade de treinamento. "Isso geraria uma série de efeitos, tem que ser feito devagar. Pode ser um objetivo, mas é uma coisa que tem que ser feita mais devagar", afirma.
Ele defende uma GCM armada, mas refuta o uso de armamento pesado, como fuzil. "Já existe a Polícia Militar, tem Rota. Não sei qual o sentido de dar armamento pesado para guarda", diz. "O ideal da GCM é uma polícia mais comunitária, de proximidade."
Para o especialista, cuidar da zeladoria é a melhor proposta de Marçal. "No centro, a prefeitura pode tirar o Habite-se [atestado de que o imóvel atende à legislação] dos hotéis que estão envolvidos no tráfico de droga", sugere. "Porque lugares com degradação urbana são espaço para o crime. Se conseguir ordenar o urbano, consegue fazer um trabalho bem feito. Acho que é uma proposta viável."
Na saúde, a proposta de priorizar atenção básica poderia reduzir os custos do sistema público de saúde. "Isso evita que doenças não tratadas evoluam para quadros graves e sobrecarreguem o SUS", afirma Noaldo Lucena, médico especializado em Qualidade em Saúde. "Prevenção é sempre mais barato."
Para o médico, as filas para exame e cirurgia "atestam a incapacidade do SUS em lidar sozinho com a demanda da população". "A parceria público privada é uma alternativa mais do que viável para desafogar a saúde pública", diz o médico.
A integração de saúde e esportes é elogiada. "Isso vai dar à população uma vida mais saudável, prevenindo milhares de doenças, melhorando não só a saúde física como a mental ao combater o mal do século, que é a depressão."
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