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Irã envia carta à AIEA anunciando plano de enriquecimento de urânio

Do UOL Notícias*

Em São Paulo

08/02/2010 10h23

O Irã enviou nesta segunda-feira (8) uma carta à Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) informando oficialmente os planos do país de começar o enriquecimento de urânio a 20% a partir desta terça-feira (9). "Hoje enviamos a carta", disse o enviado do Irã à AIEA, Ali Asghar Soltanieh à televisão em língua árabe al Alam.

Embaixador do Irã diz que confia em posição do Brasil sobre programa nuclear

Após reações internacionais à decisão do Irã de enriquecer urânio em 20%, o embaixador do Irã no Brasil, Mohsen Shaterzadeh, afirmou nesta segunda-feira (9) que confia no papel do Brasil como interlocutor na crise. De acordo com ele, o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva acredita que o país obedece a leis internacionais em sua tentativa de gerar energia nuclear – o que o Ocidente interpreta como busca disfarçada por uma bomba atômica.

Em entrevista à agência de notícias Associated Press, Soltanieh disse que a produção é destinada para fins medicinais.

Hoje (8), Ahmadinejad reiterou que, apesar dos esforços e das conspirações, os "inimigos" da República Islâmica não conseguirão deter o progresso tecnológico e científico do país.

Em discurso transmitido ao vivo pela TV estatal, o chefe de Estado iraniano, sem citar nomes, acusou os mesmos adversários de terem matado o cientista nuclear Massoud Ali Mohammadi, vítima de atentado a bomba no mês passado.

"Vocês não são capazes de impor obstáculos ao desenvolvimento do Irã... Se acham que (com atos como) eliminar Ali Mohammadi conseguirão fechar nosso caminho rumo ao desenvolvimento, estão enganados", ressaltou o presidente a um grupo de jovens iranianos, incentivados por Ahmadinejad a iniciarem uma carreira científica.

A esse respeito, Ahmadinejad destacou que a ciência sem fé é inútil, mas que, "quando estes dois elementos se juntam, ocorrem grandes eventos".

"Apesar de todos os esforços, não conseguiram derrotar a República Islâmica nos últimos 30 anos porque aqui desfrutamos desses dois elementos", ressaltou o chefe de Estado.

O programa nuclear iraniano levantou suspeitas da comunidade internacional. Países como os EUA, Israel, França, Alemanha e Reino Unido acusam o regime iraniano de esconder, sob seu esforço atômico civil, um projeto de natureza clandestina e aplicações bélicas, cujo objetivo seria a aquisição de um arsenal nuclear, uma alegação que o Irã rejeita.

Diálogo aberto

O país não fechou a porta para uma eventual troca de combustível nuclear com as grandes potências com a  decisão de começar a enriquecer urânio a 20%, afirmou o diretor do programa nuclear iraniano, Ali Akbar Salehi. O processo de enriquecimento deve acontecer na usina de Natanz, onde o Irã supostamente tem cerca de 7.000 centrífugas.

"Nossa proposta continua vigente e estamos dispostos a receber o combustível, e quando o recebermos cessaremos o enriquecimento a 20%", declarou Salehi, diretor da Organização Iraniana de Energia Atômica (OIEA). "No momento em que recebermos o combustível, cessaremos o enriquecimento a 20%", disse Salehi. O Irã também planeja construir dez novas usinas de enriquecimento de urânio durante o próximo ano, acrescentou.

No domingo, Salehi anunciou que o Irã começaria a produzir urânio altamente enriquecido na usina de Natanz, centro do Irã, a partir de terça-feira. A decisão também foi anunciada pelo presidente Mahmud Ahmadinejad. O presidente iraniano afirmou que a porta "continua aberta para discussões" sobre um eventual intercâmbio "incondicional" de combustível nuclear com o grupo dos Seis (Estados Unidos, Rússia, China, França, Reino Unido e Alemanha), interlocutor do Irã no tema nuclear.

Especialistas veem anúncio com ceticismo

Analistas ouvidos pela agência de notícias "Reuters" duvidam de que o Irã possa abrir dez novas usinas no futuro próximo, já que as sanções da ONU impostas a Teerã dificultam a obtenção de componentes sofisticados.

Analistas acreditam que o anúncio sobre o início da produção de urânio enriquecido a 20% pode ser uma tática de negociação do Irã para obter termos mais favoráveis em um acordo com o Ocidente sobre combustível nuclear

Mas a medida pode aumentar a pressão das potências ocidentais por novas sanções ao programa nuclear iraniano.

Reino Unido expressa preocupação

O Reino Unido expressou "grande preocupação" com o anúncio do presidente iraniano, Mahmoud Ahmadinejad, de começar o processo de enriquecimento de urânio a 20%, uma decisão que viola as resoluções da ONU, assinalou hoje uma porta-voz do Ministério de Assuntos Exteriores.

O Foreign Office considerou que a decisão representa uma "violação deliberada" das resoluções do Conselho de Segurança das Nações Unidas.

As informações procedentes do Irã sobre o enriquecimento de urânio "são claramente um assunto de séria preocupação", assinalou uma porta-voz do Ministério de Exteriores em Londres.

O governo britânico irá considerar sua resposta "em associação com a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) e outros, incluindo UE3+3 (Reino Unido, Alemanha e França - EUA, Rússia e China)", acrescentou a fonte.

No domingo, a Alemanha citou a ameaça de sanções ao Irã.

EUA pedem pressão

Os Estados Unidos pediram no domingo (7) às potências mundiais para ajudarem a pôr mais pressão sobre o governo iraniano para interromper seu programa nuclear.

O secretário de Defesa norte-americano, Robert Gates, afirmou, durante visita a Roma, que sanções contra o governo iraniano seriam o mais eficaz. Houve um consenso entre países para evitar criar "mais dificuldades que o absolutamente necessário" sobre o povo iraniano, disse ele.

Gates, que discutiu a questão iraniana com líderes italianos, disse ainda que a resposta de Teerã às propostas dos EUA e do Ocidente foram decepcionantes.

"Se a comunidade internacional se juntar e pressionar o governo iraniano, creio que ainda há tempo para que sanções e pressões funcionem", disse Gates durante uma coletiva com o ministro da Defesa italiano.

"Mas devemos trabalhar juntos, todos ... Acho que todos nós podemos fazer muito mais", disse Gates, sem citar países específicos.

Sistema antimísseis

O Irã vai fabricar em breve um sistema antimísseis equivalente ou superior ao S-300 russo, cujo contrato de entrega a Teerã foi suspenso por Moscou, anunciou o general Heshmatola Kassiri, alto funcionário da defesa antiaérea do país.

"Em um futuro muito próximo, nossos especialistas vão produzir um sistema antimísseis que terá a mesma capacidade do sistema S-300, e inclusive maior potência", declarou Kassiri à agência Irna.

"Produzimos nós mesmos todos os nossos equipamentos de defesa antiaérea. Em apenas um caso havíamos decidido importá-los. Era o sistema S-300 e os russos não nos entregaram o sistema por motivos injustificáveis", completou.

Os países ocidentais e Israel pediram à Rússia que não entregasse o sistema antimísseis ao Irã. Moscou anunciou em 21 de outubro que o contrato estava interrompido.

O Irã também testou, com sucesso, um avião que foge do alcance de radares, disse um comandante neste domingo (7).

A agência de notícias semi-oficial Fars informou que o protótipo do que seria um jato 'invisível', chamado de Swordfish, havia feito seu primeiro voo de testes, citando um oficial de alto-escalão da força aérea do país, Aziz Nasirzadeh.

"O protótipo deste avião ... completou todas as características por nós consideradas para burlar radares", disse ele. "Estamos avaliando dados do voo de testes e começaremos a produção após completar testes adicionais".

*Com informações das agências internacionais