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Eleitores preferem oposicionista Cameron a premiê Brown no último debate britânico

Conservador David Cameron fala enquanto liberal-democrata Nick Clegg e trabalhista Gordon Brown escutam, na Universidade de Birmingham - Divulgação/BBC
Conservador David Cameron fala enquanto liberal-democrata Nick Clegg e trabalhista Gordon Brown escutam, na Universidade de Birmingham Imagem: Divulgação/BBC

Maurício Savarese<br>Do UOL Notícias

Em São Paulo

29/04/2010 18h54

Após a gafe que gerou sensação de derrota iminente, o candidato trabalhista e atual premiê britânico, Gordon Brown, contou nesta quinta-feira (29) com decisões táticas de seus rivais e sua própria desenvoltura em temas econômicos para sobreviver ao último debate antes das eleições de 6 de maio. Mesmo assim, o conservador David Cameron, favorito no voto geral, teve o desempenho mais elogiado pelos eleitores, segundo pesquisa YouGov.

Os dados indicaram que Cameron venceu a discussão por ampla margem: 41% para o conservador contra 32% do liberal-democrata Nick Clegg e 25% de Brown. A sondagem ComRes/ITV mostrou a mesma ordem e menor margem para Cameron: 35%, 33% e 26%. Esses dados se referem apenas à discussão sobre economia, travada em Birmingham e transmitida pela BBC. Política interna e política exterior foram os temas dos encontros televisados anteriores – os primeiros da história no Reino Unido.

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As pesquisas anteriores ao debate indicavam que os três candidatos tinham perto de um terço do eleitorado, com leve vantagem para Cameron. Mas o complexo sistema eleitoral britânico deixava Brown em condição de disputar o cargo ocupado pelos trabalhistas nos últimos 13 anos. Clegg, estrela dos debates anteriores e fundamental em um eventual governo de coalizão de qualquer partido, foi ofuscado pelo conservador, de acordo com a sondagem do YouGov.

Apesar de os eleitores o considerarem derrotado nesta quinta-feira, Brown evitou dano maior à sua campanha após a gafe que cometeu nesta semana: sem perceber que seu microfone estava ligado, referiu-se a uma aposentada que acabara de conversar com ele de “intolerante”. Os rivais sugeriram que o tema poderia voltar no debate final, mas, segundo a mídia britânica, a recessão é tão grave que ambos decidiram manter o foco nas propostas de redução do déficit orçamentário de US$ 270 bilhões.

“Cameron estava muito seguro, fez sua melhor performance em um debate quando importava mais”, escreveu o Martin Kettle, analista do jornal “The Guardian”. “Brown lutou, menos com as perguntas, onde foi tipicamente autoritário, do que consigo mesmo. Em meio aos bombardeios entre seus vizinhos, Clegg parecia preso, mas conseguiu ficar sem perder nada.”

A vitória de Cameron nesse debate, de acordo com as análises, ganha corpo porque Brown tem familiaridade com o tema: além de ser o atual primeiro-ministro, foi chanceler do Erário (cargo análogo ao de ministro da Fazenda) do governo de Tony Blair e recebeu elogios durante a crise financeira detonada em 2008 por ousar comprar bancos falidos pelas turbulências.

Imigração e déficit
Cameron, que aos 43 anos de idade pode ser o mais jovem premiê indicado pelo Partido Conservador, insistiu em colocar limites para a imigração e foi contestado duramente por Clegg e Brown. “Você não responde sim ou não, David. Qual vai ser esse limite?”, irrompeu o liberal-democrata em meio a uma resposta do conservador.

Quadro eleitoral britânico em 2005

  • ArteUOL

Brown se esforçou para cravar a pecha de antiquado no jovial Cameron, uma vez que os conservadores estavam marcados pela imagem de crise do fim dos anos 80 sob a liderança da premiê Margaret Thatcher. Foi então que o oposicionista resumiu o assunto de uma forma aprovada pelos eleitores das sondagens: “Vocês estão vendo aqui um partido que quer lidar com a imigração e dois que não querem”.

Cameron também recebeu críticas por querer cortar cerca de US$ 9 bilhões do orçamento deste ano, em uma medida que poderia, segundo os rivais, abalar a moderada recuperação econômica do país. “Você é um risco para a economia, David”, repetiu Brown. O conservador retrucou.

“Vocês estão vendo os comentários de alguém que está desesperado”, alfinetou. O conservador usou a palavra desespero para se referir a Brown e seu partido pelo menos três vezes no debate, que durou 1 hora e meia. Após a réplica do premiê, Cameron seguiu na ofensiva: “Vocês já ouviram tudo que podiam de um primeiro-ministro que não tem nada positivo a dizer”.

Cada um dos 650 distritos eleitorais do Reino Unido – composto por Inglaterra, Escócia, País de Gales e Irlanda do Norte - indicará um membro do parlamento. O mais votado é eleito – mesmo sem 50% do total – e tem direito de apontar o líder de seu partido como primeiro-ministro. Com base nas projeções das últimas semanas, os analistas esperam um Parlamento sem maioria clara para um partido.


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