Estudo detalha riqueza desconhecida da Caatinga e propõe novo mapa do bioma
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Único bioma 100% brasileiro, que abriga 27 milhões de pessoas, a Caatinga teve seu traçado redesenhado por pesquisadores brasileiros. A nova visão científica está publicada em artigo no periódico The Botanical Review, do Jardim Botânico de Nova York, e desmente antigos retratos da região como pobre do ponto de vista da biodiversidade.
A Caatinga ocupa uma área de 862.818 km² (ou 10% do território brasileiro) e se espalha pelo centro da região Nordeste e norte de Minas Gerais.
O artigo apresenta novos estudos que apontam a região como rica em tipos de vegetação que se adaptaram ao clima semiárido. Prova disso é a quantidade de espécies encontradas: só de plantas são pelo menos 3,3 mil documentadas. Do total, ao menos 526 foram caracterizadas como endêmicas, ou seja: só existem na Caatinga.
"E temos novas espécies e eventualmente até novos gêneros sendo descritos a cada ano", afirma Marcelo Moro, do Instituto de Ciências do Mar da UFC (Universidade Federal do Ceará) e coordenador do estudo, que conta ainda com pesquisadores da Universidade Federal do Cariri, UnB (Universidade de Brasília) e Universidade Estadual de Montes Claros.

Há, por exemplo, regiões de florestas úmidas no interior da Caatinga, especialmente na Bahia e no Ceará, bem como florestas secas e arbustais.
A visão do início do século 20 considerava a caatinga um habitat pobre em termos de espécies endêmicas e uma área de menor relevância para a conservação. A ideia do trabalho foi justamente propor que, em vez de olhar a Caatinga como uma coisa só, devemos vê-la em vários pedaços menores e mais homogêneos, cada um diferente do outro Marcelo Moro, do Instituto de Ciências do Mar da UFC e coordenador do estudo
O grupo de pesquisadores se debruçou em estudos sobre a Caatinga feitos nos últimos oito anos para, agora, gerarem dois mapas inéditos. Esses mapas levam em contas os aspectos:
- Geomorfológico: que mostra as grandes unidades de relevo;
- Biogeográfico: que propõe uma subdivisão em pedaços menores, os chamados distritos biogeográficos.

A divisão foi possível porque eles compilaram pesquisas das últimas três décadas. "Isso mudou a forma como a comunidade científica encara a Caatinga", diz.
Uma das constatações é que muitas dessas espécies endêmicas não estão distribuídas uniformemente, já que os terrenos têm características distintas.
Assim, os pesquisadores propõe um mapa da Caatinga dividida em 12 unidades biogeográficas:
- Ibiapaba-Piauí
- Araripe
- Tucano-Jatobá
- Dunas do São Francisco
- Peruaçu
- Potiguar
- Borborema
- Depressão Sertaneja Norte
- Depressão Sertaneja Sul
- Irecê
- Província Chapada Diamantina
- Região Costeira da Caatinga

A subdivisão leva em conta as diferentes características ambientais. Muitas vezes quando a gente vê um grande domínio biogeográfico, como a Amazônia, Cerrado ou Caatinga, imagina que são ambientes mais ou menos homogêneos em toda a sua extensão, mas na verdade nós temos muita variação ambiental. Nós temos diferentes tipos de ambientes e também temos diferentes espécies que ocupam setores diferentes dentro desses espaços geográficos.
Marcelo Moro
Os pesquisadores ainda chamam a atenção para a destruição de mais da metade da área natural da Caatinga, ameaçada pelo desmatamento da expansão agrícola e urbana e, mais recentemente, pela instalação de parques de produção de energia solar e eólica.
Para se ter uma ideia, o Sistema Brasileiro de Reservas Naturais inclui apenas 1,3% da Caatinga em reservas de proteção integral —algo que o estudo sugere mudar.
Ao mesmo tempo, mesmo sendo muito ameaçada, a Caatinga é muito pouco protegida legalmente, mostrando fortes lacunas na conservação. Alguns dos distritos, por exemplo, não têm nenhuma unidade de conservação de proteção integral, como os parques nacionais.
Marcelo Moro

Por que isso importa?
Segundo Marcelo Moro, o estudo é importante para o planejamento da gestão ambiental. "Por exemplo, podemos ter áreas de proteção concentradas apenas em um setor de um domínio de natureza, mas a biodiversidade e características ambientais de outras áreas bastante diferentes podem permanecer desprotegidas", explica.
Do mesmo modo, quando queremos restaurar áreas degradadas, precisamos utilizar espécies nativas e proteger espécies ameaçadas, mas entre áreas muito diferentes biologicamente, a composição de espécies também varia. Assim, é importante compreender quantos são e onde estão os diferentes distritos biogeográficos da Caatinga, para tanto garantir uma proteção que seja representativa, quanto para compreender que áreas muito diferentes precisam de métodos e espécies diferentes em projetos de restauração ecológica.
Marcelo Moro
2 comentários
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Paulo Mello
Será interessante ver um mapa com os limites dos estados, para melhor compreensão da população.
Lourival Andrade Nascimento
Vocês do UOL estão tão confortáveis na ignomínia que acham ter o poder de apagar a História, que lhes desnuda. Indiciado por CORRUPÇÃO e LAVAGEM DE DINHEIRO, o então ex-Presidente Lula contou com a observância do DEVIDO PROCESSO LEGAL. Sem FORO PRIVILEGIADO, o Processo contra o Lula começou no JUIZ NATURAL na Primeira Instância, percorreu todos os caminhos consagrados no DIREITO, recorreu de sentenças nas Instâncias pertinentes, que findos os PRAZOS, foi preso, como DETERMINAM as LEIS. Lembrando que Palocci, Marcelo Odebrecht e Joesley Batista, que DELATARAM propinas ao Lula e NUNCA foram acionados juridicamente pelo Lula, o que implica na assunção de CULPA. Ex-Presidente, sem FORO PRIVILEGIADO, advogados sem ACESSO AOS AUTOS, o senhor acha LEGAL o Bolsonaro ser julgado direto pelo STF, sem a observância do mesmo rito processual a que o Lula teve DIREITO? Nada como os FATOS, a VERDADE e a HISTÓRIA para desmascarar os FARSANTES. SALVEI!