Símbolo da miséria no Haiti, biscoito de terra faz sucesso entre quem não passa fome
Se no tabuleiro da baiana tem vatapá, caruru e mugunzá, no tabuleiro da haitiana Tirose Julia, 38, não podem faltar os biscoitos de terra. A iguaria freqüentemente associada à miséria em que vive a maioria do povo haitiano, é um traço característico da cultura do país e consumida até mesmo por quem não está passando fome. As vendedoras garantem: além de ser “nutritivo”, os biscoitos têm propriedades medicinais.
Os biscoitos de terra são muito comuns no interior do Haiti, mas podem ser encontrados em algumas feiras e mercados a céu aberto de Porto Príncipe. A receita é simples: terra, água, sal e manteiga. Tirose conta que é no interior que está a terra utilizada na receita dos biscoitos, uma espécie de argila branca. A mistura é feita em grandes bacias de plástico ou metal. Depois, pequenos discos são feitos e colocados para secar sob o sol.
Os biscoitos têm uma textura sólida e quebradiça, semelhante a blocos de terra ressecados durante uma estiagem. “Não pode ser feito com qualquer terra. Tem um tipo que é específico para isso. E que só tem aqui no Haiti”, conta a vendedora que montou seu tabuleiro em frente a um quartel da Polícia Nacional do Haiti (PNH), na favela de Cité Soleil, uma das mais perigosas do país. “Aqui é mais seguro”, diz.
No tabuleiro de Tirose, os biscoitos são vendidos junto a pães, sacos pequenos de café em pó, chicletes, balas, pirulitos e outros doces. Ela diz que a maioria dos compradores da iguaria haitiana são as meninas. “Elas compram mais porque faz bem para a pele. Deixa a pele bem lisinha, sem espinhas”, garante Tirose.
Se o hábito de comer os biscoitos de terra está relacionado à pobreza haitiana, há controvérsias, mas o fato é que eles são relativamente acessíveis à população pobre do país. O pequeno, com o diâmetro de uma bolacha recheada, custa 1 gourde, o equivalente a R$ 0,05. O maior, do tamanho de uma pizza "brotinho", custa cinco gourdes, ou R$ 0,25. A renda média do haitiano é de 80 gourdes por dia.
Outra vendedora, Eveline Baskin, que tem uma tenda em frente a uma escola de Petión Ville, uma espécie de bairro nobre de Porto Príncipe, diz que não entende porque as pessoas de fora do Haiti relacionam os biscoitos de terra à pobreza. “Aqui, quem compra os biscoitos de terra são estudantes, gente que não passa fome. Compram porque gostam mesmo”, afirma Eveline.
A estudante Leviene Josef, 19, concorda com Eveline. Para ela, os biscoitos são um alimento como outro qualquer. “Eu sempre compro quando vejo vendendo na rua. São muitos gostosos e ainda fazem bem para a saúde”, diz Leviene.
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