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Propostas vazias marcam planos de governo dos candidatos argentinos

Andréia Martins

Enviada especial do UOL Notícias<br>Em Buenos Aires

18/10/2011 12h26

Brasil e Argentina são diferentes no que diz respeito à campanha eleitoral. Em território argentino não há debate político com confronto direto entre os candidatos nem um horário na televisão destinado aos presidenciáveis para que mostrem seu programa de governo. Resta ao eleitor prestar atenção no que dizem os candidatos em seus comícios, consultar as propostas de cada um, por exemplo, nos sites de campanha ou no documento entregue à Justiça onde ficam registrados os planos de governo.

No entanto, consultar esse plano de governo não significa conhecer a fundo o que pretendem cada um dos candidatos. Os planos entregues pelos candidatos mostram falta de aprofundamento e parecem apoiadas em verdadeiros “milagres”, já que pouco se diz sobre como as propostas serão implementadas.

A candidata da Frente Para a Vitória, a presidente Cristina Kirchner, por exemplo, entregou um plano com nove páginas onde promete “aprofundar” o que fez nos últimos quatro anos. Como e o que será mais prioridade, a presidente não conta. Também não constam detalhes da reforma constitucional que ela não conclui em seu primeiro mandato e que inclui até o projeto “Cristina Eterna”, encabeçado pela deputada Diana Conti.

Parlamentarismo, Wi-Fi e grafite

Reforma é palavra chave no programa de Hermes Binner. O candidato quer trocar o sistema presidencialista pelo parlamentarista, proposta que não foi bem recebida pela classe política nem pela população.

O ex-presidente Eduardo Duhalde cometeu uma gafe em seu programa, ao comentar que quer vai derrubar “todas as leis repressivas e a pena de morte”, sendo que tal condenação no país não existe. Duhalde também prometeu lotear terras públicas para que famílias sem casas possam construir seus lares, mas sem especificar número e meios.

Já Alberto Rodriguez Saá registrou um documento com mais de 200 páginas, intitulado “Protocolo para a convivência dos argentinos no século 21”. Saá é um dos candidatos com propostas mais curiosas. Quer Wi-Fi grátis em todo o país, financiamento de casas populares - a partir de 90 pesos (R$ 37) -, construção de 100 novos presídios e o mais curioso: quer implantar uma política antigrafite, na qual ficaria a cargo de voluntários instruídos pela polícia comunitária limpar os grafites e pichações em todas as cidades e distritos. Ele justifica dizendo quer apagar as mensagens que as gangues espalham pelo país.

Do lado mais radical, Jorge Altamira, da Frente da Esquerda, escreveu em seu programa que o país não pagará a dívida externa e fará uma série de nacionalizações, incluindo bancos, petróleo e indústrias.

Ricardo Alfonsín fez uma promessa que, ao que tudo indica, será difícil de cumprir. Além de melhorias na educação, controle da inflação, Alfonsín quer reverter o deficit habitacional do país. Um cálculo feito pelo jornal “La Nación” mostrou que segundo o prometido por Alfonsín, seriam construídas 175.000 unidades habitacionais, três vezes mais do que foi construído no governo de Cristina. Como essa medida será feita, não consta no programa de Alfonsín.