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Favoritismo de Cristina Kirchner deixa cobertura eleitoral morna na imprensa argentina

Andréia Martins<br>Enviada especial do UOL Notícias<br>Em Buenos Aires

19/10/2011 07h00

A ampla vantagem da atual presidente argentina, Cristina Kirchner, comprovada nas eleições primárias, em 14 de agosto, pode ser uma das explicações para a cobertura morna da imprensa do país na reta final da eleição presidencial, somado ao fato de que os jornais que criticam o governo costumam ser alvo de retaliações. O tema eleição não ocupa os principais espaços dos jornais e divide na mesma proporção a atenção dos leitores com notícias de esportes, das cinzas vulcânicas atrapalhando os voos e de crimes locais.

“Clarín” e “La Nación”, jornais de oposição ao governo Kirchner, fazem uma cobertura crítica mais focada nos atos e acontecimentos do governo do que na eleição em si. Ambos vêm batendo forte na polêmica envolvendo o ministrodo Comércio Interior, Guillermo Moreno, acusado de agredir fisicamente um militante da oposição. Cristina saiu imediatamente em defesa do seu ministro, que também é um de seus principais conselheiros políticos. Disse que é “um homem honesto e cumpre suas tarefas”, embora a oposição esteja pedindo a sua saída imediata. Como a presidente não costuma dar ouvidos à imprensa e aos opositores, isso dificilmente vai acontecer.

Outra questão bastante explorada pelos dois diários são as denúncias de corrupção e enriquecimento ilícito envolvendo o presidente da AFA, Julio Grondona, com quem Cristina mantém relações estreitas e pode lançar uma de suas medidas mais populares, a transmissão do futebol aberta na TV pública.

De forma indireta, talvez explorar tais assuntos seja uma tentativa de desgastar a imagem do governo, tarefa que parece impossível tamanha é a popularidade da presidente. Mesmo assim, ambos os diários evitam afirmar que a vitória de Cristina é certa.

Posição contrária do semanário “Democracia”, que na edição desta semana confirma a eleição da presidente com a manchete “Já está: 2011-2015”, inclusive trazendo quais serão os principais desafios do seu próximo mandato. Na mesma edição, traz entrevistas com os seis adversários de Cristina tecendo críticas à “reprodução dos pobres como forma de governar”, nas palavras de Elisa Carrió, ao coronelismo do modelo kirchnerista, entre outros.

Oposição usa cães e wi-fii para tentar bater Cristina Kirchner

Outros diários, como “Tiempo”, “Perfil” e “Libre”, seguem fazendo uma cobertura sem grandes polêmicas ou destaque diferenciado para as eleições. No caso do diário “Tiempo”, esta semana ele vem dedicando mais páginas a Cristina do que aos demais candidatos, destacando os pontos positivos de sua reunião com líderes do campo e ao apelo feito pela presidente (“Conto com a lealdade da Argentina”) e deixando pouco menos de uma página por dia para dar voz à oposição.

Voltando ao “Clarín”, talvez seja nas entrelinhas que o jornal aposte na crítica ao provável resultado das eleições. O diário lançou em sua versão online a telenovela “As eleições”. O pano de fundo é a queda de braço entre o atual presidente de um clube esportivo com seu novo sócio, mais jovem e mais ambicioso. Feita em oito capítulos, esta semana foi ao ar o sétimo episódio. Intitulado “Desilusão”, o episódio fala sobre mudanças nas regras do jogo eleitoral e termina com a mensagem de “que tudo pode mudar”. É o que os argentinos vão saber no próximo domingo (23).