Relatório final sobre acidente com voo AF 447 será divulgado nesta quinta na França
O Escritório de Investigação de Acidentes Aéreos da França (BEA, na sigla em francês) divulgará nesta quinta-feira (5) o relatório técnico final do inquérito sobre o acidente com o voo AF 447 da Air France, em 2009. O avião fazia o trajeto entre o Rio de Janeiro e Paris e caiu no oceano Atlântico no dia 1º de junho daquele ano. Todos os 228 ocupantes morreram.
A conclusão do caso será apresentada em uma coletiva de imprensa às 14h30, em Paris (9h30 no horário de Brasília). O relatório apontará, principalmente, medidas para prevenir futuros acidentes aéreos.
Três relatórios preliminares já foram divulgados pelo BEA e o documento final deve servir como base para estabelecer eventuais responsabilidades penais no caso, já que a Justiça francesa mantém aberto um processo pelo acidente, no qual são acusados a Air France e a Airbus, fabricante da aeronave.
Acidente matou 228 pessoas
O último relatório do BEA, divulgado em julho do ano passado, apontava para um erro de pilotagem como possível causa do acidente, mas não descartava problemas mecânicos –como já havia indicado em outro relatório, divulgado em maio de 2011.
Segundo o documento, o copiloto mais jovem do Airbus A330, que assumiu o controle da aeronave enquanto o comandante efetuava seu repouso regulamentar, iniciou uma manobra equivocada depois que o piloto automático se desativou durante a passagem por uma zona de turbulência.
Os tubos Pitot (que medem a velocidade do avião) foram obstruídos por cristais de gelo na zona de turbulência, o que deixou a tripulação sem saber a real velocidade da aeronave e se o avião subiu ou descia –gerando, então, ações equivocadas e ativando sinais sonoros de alerta que indicavam a falta de sustentação da aeronave.
Uma vez de volta à cabine, poucos minutos após o desativamento do piloto automático, o comandante também não adotou as decisões adequadas, o que teria feito com que o avião perdesse paulatinamente altura até cair, de barriga, no Atlântico, a uma velocidade final de 200 km/h.
Nenhum dos pilotos, segundo o documento, identificou formalmente a situação de perda de sustentação. O alarme foi acionado de maneira contínua durante 54 segundos e parou de soar quando as indicações de velocidade se tornaram inválidas.
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Em outro relatório, divulgado em maio de 2011, o BEA afirmou que o acidente ocorreu duas horas e meia depois da decolagem, e poucos minutos depois de o principal piloto começar o seu descanso. Segundo o órgão, o comandante foi descansar sem deixar "claras recomendações" aos dois copilotos que ficaram no controle.
O documento de maio mostrou que os pilotos levaram o Airbus para uma região de tempestades e a baixa temperatura acabou por congelar os sensores de velocidade, dificultando o trabalho da tripulação –que precisava manter o avião em uma velocidade precisa.
O relatório apontou ainda que os pilotos viram, por exemplo, duas velocidades diferentes nos controles durante menos de um minuto, sendo que uma delas indicava uma queda brutal de velocidade e a outra, não.
A aeronave caiu durante três minutos e trinta segundos antes de tocar a superfície do oceano. Em nenhum momento a tripulação avisou os passageiros sobre os problemas enfrentados na cabine.
Tensão entre pilotos
Em julho do ano passado, o relatório do BEA mostrou pela primeira vez a tensão na cabine nos últimos minutos da tragédia, por meio da transcrição das caixas-pretas. As conversas mostram que a tripulação mal teve tempo de entender o que estava acontecendo.
Os investigadores assinalaram que a tripulação não estava preparada tecnicamente para enfrentar uma situação desse tipo em grande altitude e que os pilotos não tinham recebido treinamento em caso de perda de sustentação do Airbus e falta de informações confiáveis de velocidade.
Depois da divulgação do terceiro relatório, a Air France defendeu o "profissionalismo" de seus tripulantes e questionou a "confiabilidade do alarme depois da perda de sustentação" do Airbus A330.
Indiciamentos e relatório judicial
A Justiça francesa, que também investiga o acidente para determinar as responsabilidades penais da tragédia, já indiciou a Airbus e a Air France por homicídio culposo.
O relatório judicial foi finalizado no último dia 30 de junho e será apresentado aos familiares no dia 10 de julho, cinco dias após a divulgação do relatório final do BEA.
A agência AFP adiantou, na quarta-feira (4), informações sobre o relatório judicial, repassadas por uma fonte. As conclusões apontam a perda de dados sobre o voo causadas principalmente pelo congelamento das sondas Pitot –considerado um procedimento inadequado–, mas aponta também a falta de resposta adequada da tripulação ao que ocorria com a aeronave e ainda a inexistência de um acompanhamento dos incidentes registrados desde 2004.
As vítimas
As equipes de resgate retiraram 154 corpos do oceano –ao todo, 228 pessoas estavam no voo AF 447, sendo 58 brasileiros. Cinquenta corpos foram resgatados nas duas primeiras semanas após o acidente.
Após essa operação, foram quase dois anos até que se localizassem mais corpos e outros destroços da aeronave. Em todo o ano de 2011 foram resgatados 104 corpos ou restos mortais, totalizando 154 vítimas encontradas.
As autoridades francesas decidiram retirar os últimos corpos do avião após comprovar que eram identificáveis a partir de testes de DNA, apesar de estarem há quase dois anos em uma profundidade de cerca de 4.000 metros. Em novembro do ano passado, foi anunciada a identificação de 103 das 104 vítimas.
Já as caixas pretas foram localizadas entre abril e maio de 2011, entre os destroços do avião a uma profundidade de 3.900 metros. (Com agências internacionais)
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