Topo

Voto cristão nos EUA se divide entre garantir direito à vida e defender a justiça social

Pessoas seguram cartazes durante evento de campanha de Barack Obama na Universidade do Colorado - Larry Downing/Reuters
Pessoas seguram cartazes durante evento de campanha de Barack Obama na Universidade do Colorado Imagem: Larry Downing/Reuters

Fabiana Uchinaka

Do UOL, em Chicago

05/11/2012 07h00

A poucos dias do final da disputa pela Casa Branca, os dois principais candidatos permanecem empatados nas pesquisas de opinião e disputam cada voto dos americanos indecisos. E são muitos os indecisos, que parecem ficar no meio de um fogo cruzado entre propostas que passam de um extremo ao outro em assuntos que vão desde a economia até o aborto.

"Estou decidida a votar para ajudar a eleger o próximo líder da nossa nação", explica Jini Hong, 29, que trabalha como assistente-executiva do diretor de uma produtora de cinema. "Mas, honestamente, eu ainda estou dividida entre os dois candidatos. Eu assisto aos debates e leio sobre as suas políticas, crenças e promessas, mas não estou convencida ainda."

A dúvida dela tem um motivo claro: apesar de gostar de alguns aspectos do governo do democrata Barack Obama, candidato à reeleição, ela considera que assuntos como casamento gay, direito ao aborto e o suporte que os Estados Unidos daria a Israel enquanto nação são decisivos na sua escolha.

"A minha religião influencia diretamente o meu voto. Acredito que temos uma responsabilidade, como cristãos, de trazer a nação de volta a Deus, para que ele seja glorificado e, nós, abençoados", diz. "Neste sentido, acho que acabo me aproximando mais de Romney".

O candidato republicano, Mitt Romney, é um mórmon que incorporou os valores da direita americana para conseguir ganhar o apoio da ala ultraconservadora do partido, mas seu passado, especialmente como governador de Massachusetts, revela uma postura menos radical e alguns duvidam da firmeza de suas convicções em relação ao casamento gay, a imigração e o aborto. Já seu candidato a vice, Paul Ryan, é um católico linha-dura, ex-coroinha, que faz questão de defender os valores da religião que segue.

Eleições 2012 nos EUA
Eleições 2012 nos EUA
$escape.getHash()uolbr_tagAlbumEmbed('tagalbum','55362', '')

Mesmo assim, a dupla não parece ser convicta a suficiente para convencer Jini, que é radicalmente contra o aborto. "Não concordo com o fato de que eles, Romney e Ryan, dizem que fazem exceções ao aborto por estupro. Quem vai dizer o que é considerado estupro ou não? Para mim é preto e branco: a vida começa na concepção ou não? Por mais rude e insensível que possa parecer, mesmo no caso de estupro, se resultar em uma gravidez, isso ainda é uma vida. Porque adicionar ao trauma trauma, estupro e assassinato?", afirma.

Os temas de forte apelo religioso foram os que mais provocaram polêmica durante esta eleição: permitir ou não o aborto e em quais circunstâncias, distribuir ou não anticoncepcionais gratuitamente,aprovar ou não o casamento gay. Nem mesmo as igrejas conseguem estabelecer claramente um apoio único.

  • 4626
  • true
  • http://noticias.uol.com.br/enquetes/2012/10/11/quem-voce-gostaria-que-fosse-o-novo-presidente-dos-eua.js

Pela primeira vez, por exemplo, a Igreja Católica passou a se envolver mais abertamente na disputa, tentando defender os tradicionais valores que prega. No entanto, houve um racha: os que apoiam os democratas, especialmente por valorizarem os investimentos em causas sociais e ajuda aos pobre, e os que preferem os republicanos, que priorizam a ortodoxia vaticana. Os bispos norte-americanos deram declarações
públicas sobre as proibições da Igreja ao aborto e à pílula, mas a irmã Simone Campbell, que preside lobby de justiça social, percorreu o país com outras freiras para falar de como os cortes do orçamento propostos pelos republicanos são pouco cristãos para quem precisa de ajuda.

O analista jurídico Eddie Koo, 30, é presbiteriano. Ele acompanhou as eleições de perto e diz que se sente privilegiado de poder votar e expressar seus valores, posições e desejos. "É o meu jeito de influenciar o destino da nação", ressalta. Koo planeja fazer isso votando em Obama.

"A minha religião influencia o jeito que eu vivo minha vida, em geral. Por conta da minha religião, eu acredito que a homossexualidade e o aborto são errados, mas estas são as minhas crenças religiosas. A beleza da América é que aqui se permite a liberdade de religião e de pensamento. Eu não posso forçar ninguém a estar de acordo com as minhas convicções, assim como os outros não podem me obrigar a estar de acordo com as deles", explica.

Pensando assim, ele decidiu que é favorável ao casamento gay, porque "as pessoas devem ter o direito escolher, legalmente, mesmo que eu me oponha a isso", e a pílula, porque a "contracepção reduz a gravidez indesejada, e, como resultado, o aborto."

"Além do que, não podemos esquecer que existem toneladas de outros assuntos importantes, como a economia, a política externa, a imigração, a energia renovável, a educação, os direitos das mulheres e as liberdades individuais", diz. "E nesses campos eu acho que o presidente Obama fez muito", completa.

A divisão do voto

Segundo pesquisa divulgada pelo Instituto de Pesquisas da Religião Pública, no meio de outubro, revelou que 60% das católicos acham que a Igreja deveria se preocupar mais com a justiça social e a ajuda aos pobres, mesmo que isso signifique menos foco em questões como o aborto.

O levantamento mostra ainda que o grupo que mais cresce é o das pessoas sem religião, um quinto da população, mais do que o dobro do que em 1990. Pessoas sem religião, católicos hispânicos, não-cristãos e protestantes negros são os grupos que mais apoiam a candidatura de Obama.

Entre os eleitores do republicano Mitt Romney, quase 80% se declararam brancos e cristãos (incluindo evangélicos, protestantes tradicionais e católicos). A pesquisa foi feita entre 13 e 20 de setembro, antes dos debates presidenciais, e envolveu 3.003 entrevistados, com margem de erro de 2 pontos percentuais.