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"Chavismo permanecerá mesmo sem Chávez", afirma historiador

Izabelle Mundim

Do UOL, em São Paulo

05/03/2013 20h22

A comoção provocada pela morte de Chávez, no poder desde 1999, potencializará a tendência de que outro chavista vença as próximas eleições para presidente na Venezuela. É o que afirma o jornalista e doutor em história pela USP (Universidade de São Paulo), Gilberto Maringoni, autor do livro "A Venezuela que se inventa – poder, petróleo e intriga nos tempos de Chávez".

Relembre a trajetória de Chávez

  • Arte UOL

De acordo com a Constituição venezuelana, novas eleições deverão ser convocadas em até 30 dias, pois o vice-presidente, Nicolás Maduro, só assumiria se o presidente morresse nos dois últimos anos de mandato --na Venezuela o mandato presidencial é de seis anos.

Segundo Maringoni, além da comoção da morte, a eleição de um chavista pode acontecer por questões objetivas, como a aprovação de Chávez pela maioria da população e a situação estável da economia deixada por ele.

Em pronunciamento antes de uma de suas cirurgias, antes de sua viagem para Cuba em 11 de dezembro de 2012, Chávez pediu que os venezuelanos votassem em Maduro, caso ele não pudesse assumir a presidência.

Para o cientista político Igor Fuser, professor da Universidade Federal do ABC, a morte de Chávez deixou o vazio da figura de um líder e esse é um impasse que foi, em um primeiro momento, resolvido com base na indicação de Maduro como sucessor.

"O desafio é se o chavismo vai ser capaz de substituir o líder que se vai para uma liderança, individual ou coletiva, capaz de levar adiante o processo", afirma.

"Mas, o grande problema da Venezuela seria se Chávez tivesse morrido sem designar alguém para o lugar dele. Isso abriria um espaço de disputa pelo comando do processo que eles chamam de revolução bolivariana", diz."Mas Chávez já havia indicado o Nicolás Maduro e isso vai permitir uma unificação das forças chavistas em torno da liderança dele, que terá grandes chances nas eleições."

Para Fuser, a comoção pela morte de Chávez é  indissociável do legado deixado por ele. "A comoção existe porque o chavismo mudou para melhor a vida da grande maioria dos venezuelanos. Por isso ele ganhou todas as eleições que participou", afirma.

“A situação econômica do país é boa, há uma situação de emprego estabilizada, a Venezuela cresceu 5,6% ano passado”, diz Maringoni. “A morte de Chávez, especificamente, não vai abalar a economia, pois quando ele foi para Cuba no início de dezembro, preparou a economia do país para a ausência dele.”

Outro dado, "objetivo", como afirma o historiador, é que o “chavismo sem Chávez” dava sinais de consolidação já nas últimas eleições para governador, no final de 2012.

“Chávez não estava concorrendo, não pôde fazer campanha, pois já estava em Cuba e, ainda assim os candidatos chavistas venceram em 20 dos 23 Estados da Venezuela”, diz.

Legado do chavismo

Segundo o professor Fuser, é importante entender que o chavismo é um fenômeno que vai muito além da figura de Chávez.
 
"O chavismo é um processo que foi conduzido pelo Chávez, mas que teve condições de criar raízes muito profundas na sociedade venezuelana", afirma.
 
"A principal ideia consolidada pelo chavismo é a de que o petróleo da Venezuela deve ser utilizado, em primeiro lugar, para atender às demandas sociais da maior parte da população, que é pobre. Essa ideia está muito consolidada, e é claro que vai ser levada adiante pelos sucessores de Chávez", diz.
 
Maringoni concorda que as mudanças que o governo bolivariano provocaram nos últimos 15 anos fez com que o chavismo se consolidasse. "A pauta dele foi o combate à pobreza e à desigualdade social, as melhoras sociais, a recuperação da autoestima do venezuelano pobre e isso se enraizou na sociedade e vai ser muito difícil sair pauta do país, de imediato”, afirma.
 
Quem herdar esse legado, segundo o historiador, vai acabar se colocando melhor no processo eleitoral que virá. “A comoção da morte de Chávez potencializa o chavismo, mas os dados mostram a solidez do legado deixado por ele – que não é negado nem por quem o criticava”, diz.