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Egito está estável, diz Exército; militares dizem que balas são de festim

Do UOL, em São Paulo

05/07/2013 12h14

O comandante das Forças Armadas do Egito, general Abdel Fattah al-Sisi, disse ao rei Abdullah, da Arábia Saudita, que a situação do país é "estável" nesta sexta-feira (5) - dia de protestos no Egito convocados por manifestantes favoráveis à volta ao poder do presidente deposto, Mohamed Mursi.

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Em um telefonema, o chefe do Exército egípcio relatou ao soberano saudita os últimos desdobramentos e "reassegurou-lhe da estabilidade da situação". Em resposta, o rei disse ao general que os eventos no Egito pedem "sabedoria e cuidado". 

A conversa telefônica de Sisi com o rei Abdullah foi relatada pela agência estatal de notícias, em meio aos protestos desta sexta-feira (5), que deixaram ao menos quatro mortos no país.

Oficialmente, o Exército nega que haja mortos no conflito. Segundo um porta-voz das Forças Armadas, foram usadas apenas balas de festim e gás lacrimogêneo contra os manifestantes.

No Twitter, internautas afirmam que a imprensa egípcia - excluindo agências internacionais - está ignorando as manifestações. Enquanto repórteres que cobrem a manifestação falam em pelo menos quatro mortos, o Ministério da Saúde do país afirma que houve apenas uma vítima.

Já a emissora de TV estatal não menciona morte alguma, mas afirma que o presidente interino do país, Adlir Mansour, decretou hoje a suspensão do Parlamento do país e troca no comando da agência de inteligência do país. As medidas são parte do "mapa" que as Forças Armadas do Egito dizem que irá reestabelecer a situação política do país.

Clima

Segundo repórteres da "CNN" e de outros veículos na capital do Egito, Cairo, a maioria dos atos é pacífica. Nas imagens de protestos, ouvem-se gritos de "Allah Ur Akbar" ("Deus é grande e poderoso") e "selmaleya" ("pacífico", em referência ao tom dos protestos).

Os manifestantes se reúnem principalmente no entorno do prédio da Guarda Republicana, para onde o presidente deposto do país foi levado na manhã desta sexta-feira (5). Segundo internautas, o Exército não está permitindo a chegada de pessoas ao local, tendo armado bloqueios viários nos  acessos à região. 

A agência de notícias "Reuters" diz que a maioria dos Estados do Golfo Árabe ficou aliviada com a deposição de Mursi, pois a medida representa um duro baque na ascensão do islamismo na região.

ENTENDA A CRISE NO EGITO


O que aconteceu?
O comandante-geral do Exército, o general Abdul Fattah al-Sisi, declarou na TV que a Constituição foi suspensa e que o presidente da Suprema Corte assumiria poderes presidenciais, na prática derrubando o presidente Mohammed Mursi. Com isso, Adli Mansour comanda o governo interino formado por tecnocratas até que eleições presidenciais e parlamentares sejam convocadas. No Twitter, Mursi chamou o pronunciamento de "golpe completo categoricamente rejeitado por todos os homens livres de nossa nação". Soldados e carros blindados rondam locais importantes do Cairo enquanto centenas de milhares de manifestantes protestam nas ruas.

O que motivou a crise?
O descontentamento começou em 2012, quando Mursi, 1º presidente democraticamente eleito do Egito, deu a si mesmo amplos poderes numa tentativa de garantir que a Assembleia Constituinte concluísse a nova Constituição. Desde então, houve uma cisão política no país. De um lado, Mursi e a Irmandade Muçulmana; de outro, movimentos revolucionários e liberais. Quando a nova Constituição, polêmica e escrita por um painel dominado por islamitas, foi aprovada às pressas, as manifestações em massa tomaram as ruas, e Mursi acionou o Exército. Mas enfrentamentos continuaram, deixando mais de 50 pessoas mortas. Diante da pressão, os militares deram um ultimato ao presidente, que tinha 48 horas para atender às demandas populares. Mursi insistiu que ele era o líder legítimo do Egito, e houve intervenção.

Qual o caminho traçado pelos militares?
Após encontro de líderes políticos, religiosos e jovens, o general Sisi disse que o povo clamava por "ajuda" e que os militares "não podiam permanecer em silêncio". Ele disse que o Exército fez "grandes esforços" para conter a situação, mas o presidente não atendeu "às demandas das massas" e era hora de por "fim ao estado de tensão e divisão". Como a nova Constituição era alvo de fortes críticas, ele suspendeu-a temporariamente. O general não especificou quanto tempo duraria o período transitório e o papel que será exercido pelos militares. Ele conclamou a Suprema Corte Constitucional a rapidamente ratificar a lei permitindo eleições para a Câmara Baixa do Parlamento, que está dissolvida, e para a Assembleia Popular. E afirmou que um novo código de ética será expedido.
  • Fonte: BBC Brasil