Adly Mansur assume presidência interina do Egito
O novo presidente interino do Egito, Adly Mansur, 68, fez o juramento nesta quinta-feira (4), antes de assumir o cargo, perante a assembleia geral do Tribunal Constitucional Supremo (instância judicial que ele mesmo presidia até então), um dia após o presidente eleito Mohamed Mursi ser deposto do cargo.
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"Juro por Deus todo-poderoso defender o sistema republicano e respeitar a Constituição e a lei, atender ao povo e proteger a independência nacional e a integridade territorial", disse.
O governante disse que assume o poder "com grande honra e durante um período interino", até a realização das eleições presidenciais "em um futuro próximo", que ele mesmo deverá convocar e supervisionar.
"A revolução de 30 de junho corrigiu a revolução de 25 de janeiro de 2011 (que derrubou Hosni Mubarak)", considerou Mansur. O novo presidente disse ainda que as novas manifestações no país, que reuniram milhares de pessoas, significou "a reunificação do povo egípcio sem divisões".
O líder alertou que não se deve venerar um governante nem um tirano, por isso pediu que os egípcios fiquem alertas.
Mansur recebeu a maior ovação dos presentes ao ato quando agradeceu o papel na crise das Forças Armadas, "que são a consciência desta nação e a fortaleza para protegê-la".
O novo chefe de Estado do Egito também disse que a Irmandade Muçulmana faz parte do povo e é bem-vinda para ajudar a "construir a nação", noticiou a página na Internet do jornal estatal Al-Ahram.
"O grupo Irmandade Muçulmana é parte deste povo e está convidado a participar na construção da nação, já que ninguém ficará excluído, e caso respondam ao convite, serão bem-vindos", disse ele.
Mursi está detido
O paradeiro do agora ex-presidente Mursi é desconhecido. Na madrugada desta quinta-feira (4), o Exército egípcio confirmou que deteve Mursi "preventivamente", segundo informou uma fonte militar à agência AFP, mas não deu mais detalhes sobre a ação.
"[Mursi] está detido preventivamente", afirmou o militar, que pediu anonimato, e sugeriu que Mursi pode enfrentar acusações de opositores.
Segundo um membro da Irmandade Muçulmana, no entanto, o agora ex-presidente foi levado para o prédio do ministério da Defesa.
"Mursi foi separado de sua equipe e conduzido ao ministério da Defesa", disse Gehad al-Haddad, membro da Irmandade Muçulmana, à agência AFP.
Na quarta-feira (3), Gehad al-Haddad, membro da Irmandade Muçulmana, informou que a guarda presidencial prendeu Mursi e o levou ao QG do exército, o que ele chamou de "prisão domiciliar". Ele afirmou ainda que o grupo político do ex-presidente também está preso.
"Mursi está cortado do mundo", disse na entrevista. O porta-voz da Irmandade Muçulmana afirmou que os militares não permitem que ninguém chegue perto de Mursi ou que ele tenha.
Presos políticos
Os militares e a polícia começaram as prisões de altos cargos da Irmandade, também segundo denúncias da própria organização islâmica.
As forças de segurança começaram na quarta-feira (3) à noite a prender dirigentes da Irmandade Muçulmana, como o presidente do braço político do grupo, o Partido Liberdade e Justiça (PLJ), Saad Katatni.
Também foi preso o guia espiritual da Irmandade, Mohammed Rachad Bayumi, que, segundo a agência oficial "Mena", foi levado junto com Katatni para as prisões da região de Tora, nos arredores do Cairo.
Os policiais continuam a perseguição de outros dirigentes da Irmandade Muçulmana acusados de incitação à violência e de ameaçarem a paz e a segurança pública, segundo a "Mena".
"Golpe militar"
Por outro lado, o vice-presidente do PLJ, Esam al Arian, disse hoje no Twitter que estas são as consequências previsíveis de um ?golpe militar? contra o primeiro regime árabe democrático.
"A ferocidade das Forças de Segurança aumentará e o (Ministério do) Interior vai impor seu punho", comentou Arian.
Localização do Cairo
As Forças Armadas egípcias depuseram ontem o presidente Mohammed Mursi, eleito há um ano, e designaram como líder interino do país o presidente do Supremo Tribunal Constitucional, Adli Mansur, que deverá convocar e supervisionar as próximas eleições presidenciais.
Na TV, o ministro da Defesa do Egito e comandante das Forças Armadas, Abdeh Fattah al Sissi, disse que está suspensa a Constituição do país.
Segundo o ministro, Mursi "não atendeu às demandas da população". Em um pronunciamento transmitido pela rede de TV oficial, Sissi afirmou que caberá à Suprema Corte Constitucional do Egito convocar novas eleições presidenciais e parlamentares, além de elaborar a nova Constituição do país.
Em um post no perfil da presidência do Egito no microblog Twitter, Mursi pediu à população que resista ao golpe de Estado, mas de forma tranquila, "sem derramamento de sangue entre os compatriotas".
Reação internacional
Em nota oficial divulgada na noite desta quarta-feira (3), o Ministério das Relações Exteriores do Brasil classificou a situação no Egito como "grave" e pediu diálogo no país.
Em uma declaração divulgada nesta quarta-feira (3) pela Casa Branca, o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, pediu que os militares do Egito devolvam o controle ao governo democrático do Egito, sem demora, a um governo civil eleito, mas sem afirmar que a situação no país se trata de um golpe de Estado.
A Embaixada dos EUA no Cairo ordenou que todos os seus funcionários considerados não necessários deixem o Egito, logo após o anúncio de deposição de Mursi. De acordo com agências de notícias, a partida dos funcionários deve começar imediatamente e todos deverão ter saído do país até o final da semana.
O presidente da Síria, Bashar Assad, disse nesta quarta acreditar que as gigantescas manifestações contra o egípcio Mohamed Mursi, derrubado pelo Exército, marcam o fim do Islã político.
"O que acontece no Egito é a queda do que nós conhecemos como o Islã político", declarou o presidente sírio ao jornal oficial "As-Saoura", segundo trecho da entrevista que será publicada em um jornal sírio nesta quinta-feira (4).
Antes da confirmação do golpe de Estado no Egito e pronunciamento dos militares, o governo brasileiro condenou a medida e defendeu uma solução negociada com a sociedade egípcia.
"Os egípcios querem resultados rápidos de uma revolução que ainda vai completar três anos. É preciso ter paciência", disse o emissário do Brasil para o Oriente Médio mais a Turquia e o Irã, embaixador Cesário Melantonio Neto.
Também antes do golpe, o Departamento de Estado dos EUA disse que a melhor solução para o impasse no país seria uma saída política. O órgão afirmou ainda que Mursi deve fazer mais para responder aos apelos da população do Egito.
Golpe um ano depois
O presidente (agora deposto) do Egito foi eleito democraticamente, mas é visto por opositores como um mero fantoche da Irmandade Muçulmana, partido que governava o país de fato. Mursi assumiu o cargo em 2012, após um outro levante egípcio, o de 2011, que depôs o então presidente Hosni Mubarak.
A gestão de Mursi foi considerada insatisfatória. Apesar das sucessivas promessas de que ouviria a oposição, na visão de seus críticos Mursi governou tendo em vista unicamente os interesses da Irmandade Muçulmana - jocosamente apelidada de "Irmandade da Ocupação" pelos manifestantes.
O mandato do presidente durou exatamente um ano. Desde o domingo (30), data do 1º aniversário de Mursi no poder, manifestantes têm ido às ruas pedindo sua renúncia.
Ultimato
Na segunda-feira (1º), o Exército disse que, se as forças políticas envolvidas no impasse político do país não se entendessem em até 48h, os militares interviriam para que fosse seguido o "mapa" que as Forças Armadas desenharam para o Egito.
O prazo para respostas do governo ao ultimato do Exército terminou nesta quarta-feira (3), às 16h30 na hora local (11h30 de Brasília). Na véspera do golpe, terça-feira (2), Mursi fez um pronunciamento na TV dizendo que sua eleição foi democrática e que lutaria até a morte para defender sua legitimidade no cargo. Nesta quarta-feira (3), o político propôs por meio de sua página no Facebook a formação de um governo de coalizão para tirar o país da crise política.
Futuro de Mursi
Segundo agências de notícias, Mursi teve a prisão decretada pela Justiça do país. O presidente deposto do Egito e líderes da Irmandade Muçulmana foram considerados culpados por uma fuga de uma prisão em janeiro de 2011. Segundo um tribunal egípcio, a Irmandade Muçulmana organizou a fuga com a ajuda de integrantes do Hamas palestino e do Hezbollah libanês.
É essa investigação que resultou agora na proibição a Mursi e vários líderes da Irmandade Muçulmana de deixarem o território egípcio. Funcionários aeroportuários disseram à agência de notícias "AFP" que receberam ordens de impedir que Mursi, o líder da Irmandade Muçulmana, Mohamed Badie, e o número dois da confraria, Jairat al Shater, saiam do país. (Com Efe e AFP)
Entenda a crise no Egito
A QUE SE DEVE A NOVA CRISE? | O descontentamento começou em novembro de 2012, quando o presidente do Egito, Mohammed Mursi, promulgou um decreto pelo qual estendia mais poderes para si mesmo. Desde então, houve uma cisão política no país. De um lado, Mursi e a Irmandade Muçulmana; de outro, movimentos revolucionários e liberais. Essa divisão política foi propiciada por uma constituição polêmica, escrita por um painel dominado por islamitas. O fato foi agravado pelo que a oposição chamou de decisão unilateral adotada pelo governo. Alguns alegaram que muitos dos membros da Constituinte egípcia foram indicados pela Irmandade Muçulmana com base em critérios que privilegiaram a lealdade à competência. | |
O QUE MURSI DIZIA? | Apesar de admitir que cometeu alguns erros, Mursi insinuou que os protestos foram motivados por ex-membros do antigo regime e seus associados. Ele também culpa a oposição por não responder a seus pedidos para a construção de um diálogo nacional. Tais indicações ficaram claras em um pronunciamento à nação em 26 de junho deste ano. |
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